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26/10/2007 - 08:49

Temos nosso próprio tempo

A espantosa (r)evolução tecnológica das últimas duas décadas resgatou um debate que parecia esquecido. O tempo que rege nossas vidas está cada vez mais escasso diante da quantidade de informações a que somos submetidos diariamente. E-mails, laptops, telefones celulares, pagers, videogames e tocadores de MP3 surgiram para facilitar a vida das pessoas. Mas, curiosamente, essas engenhocas dão impressão de exercerem justamente um efeito contrário sobre a vida de seus usuários.

O reflexo dessa “tecnomania” está em toda a parte, seja lá qual for a idade do freguês. Provoca alterações de comportamento que vêm chamando a atenção de um número cada vez maior de estudiosos em diversos campos da Ciência. Porém, não é preciso ir muito longe para observar o que está em marcha. Você já reparou que as pessoas mais jovens deixam de dormir para desfrutar dessas inovações, enquanto os mais velhos estranham o fato de não encontrarem mais espaço para realizar tarefas rotineiras de outrora?

Graças à estabilidade econômica, o Brasil acabou inserido nesse cenário, com vantagens à população, sobretudo no que diz respeito à telefonia celular. Quem não tem dinheiro para adquirir uma linha fixa pode optar por um celular pré-pago. Segundo a Anatel, esse tipo de linha representa 80% dos 112 milhões de celulares espalhados pelo País. Mas esse movimento também acabou com o sossego de muita gente, já que um aparelho desses permite que você seja encontrado a qualquer hora do dia e da semana para o que der e vier, inclusive pelas próprias atendentes das operadoras de telefonia.

Na maioria das vezes, sequer nos damos conta de que até um passado recente a situação era completamente diferente. Não havia as respostas imediatas de hoje. A tecnologia terminou por agilizar o mundo dos negócios, porém, receio dizer o mesmo de sua eficácia no campo das relações humanas. Hoje é mais fácil marcar um encontro virtual do que sair com os amigos para tomar um chope. Há quem prefira passar horas diante de um videogame a arriscar chutes em uma bola contra jogadores de carne e osso. No trabalho, o e-mail dispensa a conversa que antes se desenrolava na hora do cafezinho.

Longe de mim assumir a postura de um sujeito antiquado. Apenas quero destacar que nossa vida não se resume a esse punhado de botões que a propaganda nos oferece diariamente. Tem que haver tempo para diversão, trabalho e descanso. O problema é que as horas do relógio acabam não sendo suficientes para realizar tudo o que se deseja. E aí, por exemplo, o hábito da leitura é relegado a segundo plano, substituído por uma máquina de última geração. Também troca-se o jantar com a família pela comida enlatada diante da tela de um computador. Somente para ganhar tempo.

Na Europa, milhões de pessoas já começam a questionar o impacto das inovações tecnológicas e o espaço que essas geringonças ocupam em nosso cotidiano. Estão trocando a vida frenética e agitada dos grandes centros pela tranqüilidade do campo, longe de máquinas e do consumo desenfreado e injustificado. Tenho certeza que isso é o início de um movimento que servirá para alertar outras pessoas de que elas podem ser donas do próprio tempo. E sem que se precise apelar para invenções de outro mundo. Se ainda não temos claro qual seja o melhor caminho, há uma certeza. É preciso parar e pensar.

. Por: Milton Dallari, consultor empresarial, engenheiro, advogado e presidente da Associação dos Aposentados da Fundação Cesp. O e-mail para contato é o [email protected].

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