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09/02/2013 - 07:18

Existe um Design Cerâmico Brasileiro?

Em outras palavras, existe um estilo brasileiro de se fazer design para revestimentos cerâmicos, como existe um design italiano, por exemplo?

A retomada do crescimento econômico, o surgimento de uma nova classe média e a gradual superação do enorme déficit habitacional existente proporcionaram uma ampliação no consumo de revestimentos cerâmicos no Brasil, na última década.

Com este fortalecimento do setor, cresce proporcionalmente a responsabilidade do design, uma vez que esse novo contexto apresenta também um consumidor muito mais exigente e concorrentes internacionais muito mais acessíveis. Dessa forma, aumenta a demanda por um design de qualidade, que se baseie e enfatize as características culturais, estéticas e de consumo do mercado brasileiro. Um design que tenha efetivamente a cara de nosso País, com toda sua diversidade e riquezas.

Mas quais são essas características? Que fatores atribuem qualidade indiscutível ao Design Cerâmico de países tradicionalíssimos no setor, como Espanha e Itália?

O design europeu sempre foi uma grande referência para a indústria cerâmica dos demais países do mundo. Diferenciavam-se pela forma arrojada, inovadora e criativa com que exploram novas técnicas, cores e formatos. São referências, inclusive, no próprio processo de produção, por meio de novos equipamentos, novas técnicas de fabricação e a otimização da cadeia produtiva de revestimentos cerâmicos.

Esses diferenciais são o resultado de uma profunda valorização da cultura, da história e das inspirações que envolvem o designer. Sendo assim, o design reproduz e dissemina riquezas de seu patrimônio, como os mosaicos de Barcelona, a diversidade cultural de Madri, a tradição de Valência, os mármores de Roma, a moda de Milão, a riqueza estética de Veneza, as inovações tecnológicas de Bologna, entre outras.

Itália e Espanha são o berço do revestimento cerâmico, com seus cursos e centros de pesquisas, sempre descobrindo novas formas de se empregar e reciclar cerâmica e porcelanato. Trata-se de um ciclo virtuoso, o qual ensina e aprende com o mundo todo, sempre reinventando o seu próprio fazer.

Nesse contexto, a valorização de seus profissionais do setor é primordial e se faz, com intercâmbios e cursos de atualização constantes. São esses profissionais que podem ser encontrados por todo canto do planeta, instalando equipamentos, aperfeiçoando processos, contribuindo para que indústrias do mundo todo produzam com mais qualidade e menos custo. Com o know how europeu, é claro.

Outro player de destaque, nesse cenário, é a indústria chinesa, que muitas vezes abre mão de um design com identidade nacional, em prol dos ganhos proporcionados por sua gigantesca escala de produção.

Com esse poder de escala, a China fabrica revestimentos cerâmicos e porcelanato para o mundo inteiro. Porém, sua produção se baseia em estilos e design já estabelecidos, padronizados pelos importadores estrangeiros, porque não existe um desenvolvimento e pesquisa nacionais com esse foco. Ou seja, a prioridade é a otimização fabril, com baixo custo e grande produtividade.

A ausência de centros de pesquisas chineses e seu foco na produção favorecem os clientes internacionais, os quais visam obter somente cópias mais baratas de produtos estrangeiros de design reconhecido. Ou seja, tais clientes identificam tendências européias e as levam para ser produzidas em escala pela indústria chinesa.

É o chamado design genérico, sem personalidade ou identidade nacional. Por isso, a qualidade dos produtos chineses sempre foi considerada duvidosa. Entretanto, hoje em dia, sua produção já pode ser considerada tecnicamente superior aos seus correspondentes fabricados no Brasil. Somando-se os baixos custos produtivos e a baixa tributação daquele país sobre suas exportações, os revestimentos made in China se tornam muito interessante - ainda que com um baixo apelo em termos de design.

Então como fazer frente, por um lado, à qualidade indiscutível do design europeu e, por outro, ao crescimento do design genérico chinês? A resposta é uma só: um design de qualidade com as peculiaridades do Brasil.

A discussão sobre um design de características nacionais já é antiga, vem pelo menos desde a criação da Escola Superior de Desenho Industrial-ESDI, em 1963, e envolveu designers de grande renome como Alexandre Wollner, Geraldo de Barros, Aloísio Guimarães, Walter Macedo, Chico Homem de Melo, entre outros. Sempre com a obrigação de superar a desconfiança e comprovar sua qualidade.

Mais recentemente, designers como os Irmãos Campana e Romero Britto tiveram suas criações reconhecidas primeiro no exterior para só depois começarem a ser aceitos em seu próprio país. Desta forma, ainda que gradativamente, o Brasil começa a reconhecer suas riquezas e valores e o consumidor nacional passa a aceitar melhor produtos com nossas próprias características.

Portanto, ganham espaço profissionais do design que buscam desenvolver uma identidade própria, brasileira e autoral, como Marcelo Rosenbaum, Renata Rubim, Fábio Galeazzo, Guto Requena, Adriana Yazbek e outros.

E qual é o caminho para se fortalecer o crescente design cerâmico brasileiro? Os incentivos de instituições como Aspacer, Anfacer, Museu Casa Brasileira-MCB e até autônomos são de grande importância para estimular profissionais e empresas a valorizarem e retratarem nossos hábitos, costumes e belezas. Dessa forma também, são fundamentais o crescente número de concursos de design, os intercâmbios de experiências e os treinamentos no exterior, além de seminários, encontros, cursos e palestras que favoreçam a formação crítica e criteriosa do designer cerâmico brasileiro.

Assim, podemos concluir que o Brasil continua adquirindo design de estúdios e fornecedores italianos e espanhóis, bem como é invadido pela poderosa escala de produção do design genérico chinês mas, paralelamente, também estamos buscando desenvolver de forma gradual uma identidade própria, rica, diversa e multicultural.

.Por: Camila Márcia Contato Lamberti, Gerente de Produtos e Outsourcing do Grupo Incefra.

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