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19/02/2013 - 09:20

Como seria o Ibovespa se não houvesse tanta especulação?


O índice Bovespa é o indicador mais utilizado para medir as oscilações da Bolsa de Valores de São Paulo, porém, sua metodologia de cálculo envolve ajustes que o tornam mais enviesado para a especulação do que para o desempenho real das companhias listadas.

O Ibovespa, como é conhecido, vem sendo medido desde 1968 e retrata o comportamento dos principais papéis negociados na Bolsa de Valores. Para isso, leva em consideração os preços de uma cesta teórica de ações, que é rebalanceada a cada quatro meses.

São atribuídos diferentes pesos às ações que compõem o índice, de acordo com o volume de negociação de cada papel nos 12 meses anteriores. Dessa forma, papéis com alto volume de negociação ganham um peso maior no índice, mesmo que representem empresas com menor expressão no mercado. Isso faz com que ações altamente especulativas tenham uma participação no Ibovespa desproporcional à sua real importância na economia.

Vejamos alguns casos concretos. Hoje, a empresa de capital aberto com o maior valor de mercado no Brasil é a Ambev. Mesmo assim, ela tem apenas o 16º maior peso do Índice Bovespa. Por outro lado, empresas como a OGX acabam tendo maior influência. O grande destaque que essa empresa tem na mídia gera muita especulação e nervosismo, aumentando o número de operações de compra e venda de ações da OGX. Dessa forma, ela ganha mais peso no índice.

Assim, o excesso de fofocas sobre Eike Batista acaba atribuindo mais peso às ações de sua companhia e afetando de maneira relevante o principal indicador do mercado acionário brasileiro. Já a Ambev, apesar de ser extremamente bem administrada e apresentar resultados crescentes, é menos midiática. Ela atrai acionistas com perfil mais tranquilo, que compram e seguram suas ações. O menor volume de negócios causa uma redução do peso da Ambev no Ibovespa, apesar de ocupar o primeiro lugar em valor de mercado no país.

Inspirado por um artigo que li recentemente, comecei a me perguntar o que aconteceria se o índice fosse calculado levando em conta o valor de mercado das empresas e não seu volume de negociação. Curioso com essa questão, coloquei o exercício em prática.

Redistribuí o peso das ações no Ibovespa de acordo com o valor de mercado de cada companhia. Abaixo, destaquei as principais discrepâncias entre a representatividade no Ibovespa e o valor de mercado. Para ler o gráfico, é simples. Com o Ibovespa ajustado por valor de mercado, a Ambev passou a representar 12% a mais do índice.

Se fosse considerado seu valor de mercado, ao invés do volume de negociações, a Vale deveria responder por 3,2 pontos percentuais a menos no total do Ibovespa. Em seguida, recalculei o Índice Bovespa para os últimos dois anos, e confrontei com o índice original. O resultado é interessante.

O Índice Bovespa por valor de mercado mostrou-se menos volátil e mais rentável que o Ibovespa real. É claro que esse é um assunto que merece ser tratado de maneira muito mais extensa e com pesquisas mais aprofundadas. Já existem algumas discussões acadêmicas sobre o tema, confrontando pontos positivos e negativos sobre diversas e possíveis metodologias de cálculo para o índice de ações. Porém, fica evidente que a proposta atual do Ibovespa é medir o humor do mercado e não necessariamente o desempenho das melhores empresas negociadas em bolsa. O problema é que esse índice passou a ser referência de desempenho da BM&FBovespa e é muito difícil romper esse padrão.

Com a proliferação de fundos passivos, que trabalham simplesmente para copiar e acompanhar o desempenho do Ibovespa, diversos investidores acabam ficando mais expostos à especulação e menos expostos às empresas sérias e bem administradas. Tenho sempre em mente que os gestores de fundos devem criar valor e não simplesmente acompanhar movimentos de mercado.

.Por: Daniel Resende, empresário e diretor do site www.comparacaodefundos.com.

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