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30/10/2007 - 11:36

A Construção de um país chamado Brasil: onde está posicionada a educação? A Construção de um país chamado Brasil: onde está posicionada a educação?

Tenho lido com muita freqüência reportagens e artigos exaltando o quanto o Brasil, após 20 anos de estabilidade, evoluiu. Pessoalmente, concordo com as afirmações de que o Brasil tem nas mãos uma grande possibilidade de realizar um salto qualitativo sem precedentes. Entretanto, tenho minhas observações a respeito das condições existentes e das políticas praticadas para que tal evolução seja observada. Não farei uma análise pormenorizada de cada um dos fatores que influenciam o referido salto, mas tocarei em um ponto fundamental: a educação. Até porque, ainda vejo a economia global como um fator positivo para a economia brasileira e suas pretensões. Repare o leitor que utilizei o ainda, especialmente, porque considero que este cenário tende a sofrer mudanças.

E vamos, para início de conversa, desfazer o primeiro mal-entendido existente sobre a questão: refiro-me a educação e não à escolaridade. Tenho muito apreço pelas teorias formuladas e defendidas por Theodore Schultz e por Gary Becker. Segundo estes autores, um defendendo a importância do ganho educacional e o segundo defendendo o capital humano, é impossível que um país chegue a seu ponto alto sem que haja um crescimento significativo nas pessoas.

Se seguirmos Gary Becker e sua tese do capital humano (que, diga-se de passagem, não é aquela alardeada pelos administradores de empresas), têm-se que concordar que as pessoas são o ponto nevrálgico das economias modernas. Estas atualmente devem estar motivadas, mas, sobretudo, preparadas, via educação, treinamento e constante aperfeiçoamento, para exercer papeis de relevância da organização social e suas instituições, sejam elas de característica pública ou privada.

Onde se encontra o Brasil neste caminho para sua construção e, principalmente, que ela seja de sucesso? Bem, neste ponto tenho uma tendência um pouco pessimista. Os dados a respeito da formação educacional do brasileiro nos enganam. Os brasileiros têm passado mais tempo na escola. Mas que escola é esta? O brasileiro tem reduzido seu número de repetência. Mas como assim repetência se grande parte do país adotou um modelo educacional que não contempla a repetência do corpo discente? Os brasileiros têm elevado seu acesso à internet, mas para quê? O nível de analfabetismo tem caído vertiginosamente, mas que individuo é este que está sendo alfabetizado e considera que a corrupção, e pior, jeitinho este que é considerado uma vantagem do brasileiro!

Sinceramente, em termos de educação vamos mal! A educação pública no Brasil, seja em nível básico, médio ou superior está passando por um momento em que o volume de pessoas que demandam os serviços é infinitamente superior ao volume de oferta, o que cria um sistema de concorrência desleal, especialmente, para aqueles que realmente necessitam. Na melhor ponta das três fases, o ensino superior, que se destaca pela qualidade, também se destaca pela redução proporcional do número de vagas por candidato. E temos notícias pior, o MEC, órgão governamental instituído de poder para reformar ou reestruturar a educação nacional entrou no sistema de tesoura do Ministério da Fazenda e passou a delegar à iniciativa privada, de novo, seja ela nacional ou estrangeira, preencher os espaços que existem devido a sua ausência.

Daí vamos, para a segunda fase de problemas: compõem o setor privado instituições que tem potencial e força para se tornarem referência mundial. Mas ao mesmo tempo e dividindo o mesmo mercado temos as instituições de massa, que se destacam pelo o volume de alunos elevado e pelo baixo coeficiente de conhecimento agregado durante o processo de aprendizado. Ou seja, há desigualdades muito agudas no que tange ao acesso a educação e à qualidade desta. Isto tende a se tornar uma variável que corrobora com a péssima distribuição de renda já existente historicamente no país.

A despeito de esta demonstrar em períodos de estabilidade, disposição em reduzir-se, o tempo permanece como uma variável implacável. Enquanto outros países do globo vêm obtendo resultados excelentes com o investimento em educação, principalmente, de base. O Brasil vem se destacando por investir nos níveis superiores, que além de ser uma política paliativa, é ineficaz no que tange ao equilíbrio (ou igualdade) de condições de entrada.

Bem, minha terceira e última consideração: já perceberam ou pararam para verificar os dados regionais? A evolução da educação no Brasil anda no sentido da centralização, ou seja, no sentido inverso ao que seria justo e adequado a um país de proporções continentais. Os grandes centros de inteligência, tecnologia e inovação estão, em sua maioria, restritos as regiões sul e sudeste. Tal situação tende a agravar o componente regional, ou melhor, a desigualdade entre as regiões que compõem o país. Situação esta que não agrada de nenhuma maneira a um formulador de políticas, pois eleva seu grau de ajustamento pelas heterogeneidades.

Cavaleiro do apocalipse ou pragmatismo exacerbado? Fica a questão. Mas em qualquer uma das opções, a distância do que deveria ser para o que realmente é permanece.

. Por: Alexandre Leite, Economista, Mestre em Economia Política pela PUC-SP. Diretor da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas do Centro Universitário UNA. Professos dos cursos de Economia e Administração de Empresas da UNA e professor do curso de Relações Internacionais do UNI-BH. | Cofecon

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