Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

28/03/2013 - 09:59

Câmbio e o projeto nacional de desenvolvimento

O Real conheceu sua maior valorização nos últimos dez anos lá pelo meio de 2011. Alcançou a cotação de R$1,54 por dólar americano. De lá para cá, a moeda brasileira voltou a se desvalorizar, inicialmente dentro de um intervalo de R$1,70 a R$1,90, passando, em um segundo instante, a alcançar cotações pouco superiores a de R$2,00.

Nos últimos tempos o real voltou a valorizar-se, generalizando no mercado a crença de que o Banco Central havia abandonado a moeda à própria sorte como recurso para evitar que a inflação lhe fugisse ao controle. Simultaneamente intensificou-se o debate sobre o regime cambial brasileiro e sua adequação ao atual estado da economia nacional.

Nesse debate há alguns elementos que não podem ser esquecidos, dado que afetarão as cotações das moedas internacionais de forma decisiva. O diferencial de crescimento entre a economia norte-americana e europeia deve acentuar-se.

Para União Europeia as previsões mais otimistas falam em crescimento praticamente nulo, enquanto as previsões para o PIB dos Estados Unidos aumentam a cada notícia que chega de seu mercado de trabalho e do desempenho de seu mercado imobiliário. Por si só esse diferencial produzirá em relação ao Euro, e a outras moedas, uma valorização não desprezível do dólar. De mesma maneira, o anúncio sobre a interrupção do programa de aquisição de títulos pelo tesouro norte-americano deve pressionar mais a cotação de sua moeda. Portanto, não seria de estranhar que a desvalorização do Real viesse a se constituir em uma das prováveis tendências para o futuro próximo.

Internamente remanescem causas que também podem reforçar essa tendência. Em grande medida a desvalorização cambial reflete a perspectiva, quase consolidada para 2013, de crescimento ainda muito baixo. Também permanece verdadeiro o esforço do governo brasileiro em manter o real desvalorizado, objetivando a ampliação da competitividade da indústria nacional. Naturalmente, isso pedirá que o Banco Central lance mão de seus instrumentos de modo a promover a mudança nas cotações gradualmente, evitando que o avanço nos preços leve a destruir autofagicamente os benefícios produzidos pela desvalorização desejada.

É verdade que a recuperação industrial é a inspiração maior desse esforço, mas certamente, com a queda dos preços internacionais das commodities, o agronegócio, a mineração e a siderurgia também serão muito beneficiados por essa política cambial.

Como se vê, um regime puro de livre flutuação da taxa de câmbio que favorecesse fluxos financeiros internacionais a busca do equilíbrio macroeconômico parece ser um devaneio teórico. A livre flutuação tende, de fato, a estabilizar a taxa de câmbio real num patamar de equilíbrio dos preços domésticos, quando comparado aos preços internacionais, entretanto é preciso condicionar esses pressupostos ao projeto de desenvolvimento brasileiro.

Não se pode permitir que a especulação financeira ou os desequilíbrios e instabilidades das grandes economias tragam volatilidades e distorções tão profundas à vida econômica doméstica, comprometendo o projeto de desenvolvimento brasileiro. Será necessário neutralizar em alguma medida essas pressões sobre nossa economia por meio de um Banco Central forte e independente, capaz de controlar o real em uma faixa de flutuação explicitamente definida e com viés declarado de desvalorização. A definição de taxas deve obedecer ao funcionamento do mercado, mas com limites estabelecidos pelas autoridades monetárias.

.Por: Celso Grisi é presidente do Instituto Fractal de Pesquisa de Mercado.

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira