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04/04/2013 - 09:49

Conselho Consultivo do Iphan aprova o tombamento do Edifício A Noite, no Rio de Janeiro

Brasília - O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovou hno dia 3 de abril (quarta-feira), o tombamento do Edifício A Noite, na Praça Mauá, no Rio de Janeiro. A maioria absoluta dos conselheiros votou pela inclusão do prédio tanto no livro de tombo histórico quanto no livro de belas artes.

Tombamento pode trazer recursos para restaurar Edifício A Noite, dizem especialistas -Tanto o arquiteto Marcio Roiter quanto o historiador Milton Teixeira apostam na inserção do Edifício A Noite no processo de revitalização da zona portuária do Rio, que resgatará a Praça Mauá como cartão de visitas da cidade. “O tombamento possibilita a obtenção de recursos para a restauração do prédio e dificulta qualquer tentativa de alterar suas características”, destaca Teixeira.

Para o historiador, o edifício será na Praça Mauá um contraponto interessante ao Museu de Arte do Rio (MAR), ao futuro Museu do Amanhã e ao próprio Centro Empresarial RB1, edifício no estilo pós-moderno e informatizado construído em 1998. “Todos eles e a própria praça representam momentos de nossa história em que procuramos mostrar ao mundo do que somos capazes”.

Roiter frisa que a modernização deve adaptar o prédio às exigências atuais, mas restaurando as características originais do estilo art déco. “Com o passar dos anos, foram feitas modificações que retiraram, por exemplo, o ar majestoso do andar térreo, e isso precisa ser revisto. O retrofit (modernização dos equipamentos) é a solução para que os imóveis antigos continuem existindo, mas adaptados às condições atuais, como o barulho que vem da rua. As janelas, por exemplo, têm que ser trocadas, as partes hidráulica e elétrica precisam ser renovadas”.

O Instituto Art Déco, que o arquiteto preside, é sempre solicitado para dar consultoria nos casos de retrofit dos prédio do estilo. “Não somos puristas a ponto de não concordar com a troca de uma esquadria por um tipo mais moderno, que assegure maior proteção contra o ruído”, explica Marcio Roiter.

O estilo art déco, que tem no Edifício A Noite um de seus ícones, está presente no Rio de Janeiro em cerca de 400 prédios, 100 deles apenas no bairro de Copacabana. É um dos maiores conjuntos de edifícios residenciais, comerciais e casas particulares nesse estilo do planeta. “O art déco já está próximo de fazer 100 anos, mas ainda é visto como recente. Não se olha para ele com o mesmo respeito com que é vista uma construção barroca, colonial ou neoclássica. Isso é um erro, porque o estilo representa o advento da modernidade, o princípio de tudo o que vivemos hoje na arquitetura”, defende Roiter.

Para ele, não se deve esquecer o maior monumento do mundo no estilo art déco. “Está ali no alto do Corcovado, abençoando a todos nós: o Cristo Redentor, de autoria do arquiteto brasileiro Heitor da Silva Costa e do escultor francês Paul Landowski. Esse é mais um motivo para cuidarmos bem desse patrimônio”, lembra o arquiteto.

Empenhada há anos no processo de tombamento, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) tem planos de implantar no prédio um museu vinculado à história da Rádio Nacional. “Com isso, teremos na Praça Mauá um projeto universal - o Museu do Amanhã, o MAR, que é a memória e o presente iconográficos do Rio de Janeiro, e o museu que é vontade da EBC e que seria a memória do rádio. Assim como a Cinelândia [onde se localizam o Museu Nacional de Belas Artes, a Biblioteca Nacional e o Theatro Municipal], a Praça Mauá abrigaria elementos culturais significativos”, diz Cristiano Menezes, gerente regional das rádios EBC no Rio de Janeiro.

Empresas e profissionais liberais de renome instalaram escritórios no Edifício A Noite - Desde sua inauguração, o Edifício A Noite tornou-se um endereço disputado por empresas e profissionais liberais de renome para instalar seus escritórios, entre o sexto e o 18º andares, os que não eram ocupados pelo jornal ou pela rádio. Grandes bancas de advocacia, companhias aéreas e marítimas, como a Moore McCormack, tinham seus escritórios lá, assim como a Lojas Americanas. Esse perfil só foi mudado a partir dos anos 1960, quando o prédio passou a abrigar, além da rádio, somente órgãos federais, como o então Ministério da Indústria e Comércio e, posteriormente, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).

Funcionário da Rádio Nacional desde os anos 50, o radioator e apresentador Gerdal dos Santos testemunhou essa diversidade anterior. “Era uma convivência muito rica, a começar pelo pessoal do jornal A Noite, que também editava três revistas – Noite Ilustrada, Carioca e Vamos Ler –, além de livros. Havia muitos advogados e até uma escola funcionava em um dos andares. O prédio respirava cultura e educação”, recorda.

“Ocupar uma sala ou um conjunto de salas no A Noite era um símbolo de status para uma empresa ou um profissional liberal. Era um endereço muito cobiçado”, afirma o arquiteto Márcio Roiter, presidente do Instituto Art Déco Brasil, que há anos defende o tombamento do edifício.

“O prédio chegou a abrigar o escritório de arquitetura do Lucio Costa, quando ele se associou ao russo naturalizado brasileiro Grigori Warchavik e essa dupla foi responsável ali por obras de capital importância no início da arquitetura moderna. Só esse fato já justificaria a preservação do edifício”, diz o arquiteto.

Para Roiter, poucos prédios na cidade se mantiveram tão notadamente art déco. Ele considera o edifício a grande realização do arquiteto Joseph Gire, que também projetou, entre outros prédios importantes na cidade, os hotéis Copacabana Palace e Glória e a Estação Marítima de Passageiros, localizada a 100 metros do A Noite.

“O francês Gire já era um arquiteto famoso quando veio para o Rio contratado pela família Guinle. Até então, a cidade tinha prédios em torno de oito a dez, 12 andares no máximo, como os primeiros edifícios residenciais de Copacabana”, conta o presidente do Instituto Art Déco Brasil. Ligado ao prédio desde a infância, Marcio Roiter atribui ao Edifício A Noite o início de sua paixão pelo estilo art déco.

“Eu tinha 5 anos e entrava lá pelas mãos da minha mãe, a professora Maria de Lourdes Alves, que dirigia o programa Clube Juvenil Toddy, apresentado nas tardes de quinta-feira na Rádio Nacional. Eu olhava aquela construção e achava tudo fantástico, desde os letreiros aos cromados, o luxo que vinha dessa modernidade. A criança levada que eu era ficava quieta, extasiada, olhando para tudo quando entrava naquele prédio”, conta. | ABr.

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