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01/11/2007 - 10:38

Microempresa também precisa de estratégias

Se não fosse por outra razão, a questão das pequenas e microempresas brasileiras impressiona pelo tamanho pois elas juntas somam 99,2% das empresas existentes no país e empregam mais de 14 milhões de pessoas. Isso para não falar nos mais de dez milhões de “empresários informais” brasileiros, tipicamente de porte pequeno e micro.

No entanto, quando se fala nesse tipo de empresa, é comum cometer-se dois tipos de equívocos sérios: o primeiro, considerar que empresas de pequeno e minúsculo porte são típicas de países subdesenvolvidos, incapazes de criar estruturas realmente “capitalistas”; enorme engano pois nos Estados Unidos, pátria do capitalismo moderno, as pequenas e micro representam 99,7% do total. O segundo equívoco é pensar que se trata de empresas rudimentares, de “fundo de quintal”, sem sofisticação. De novo, os dados contrariam essa visão simplista: há no Brasil milhares, milhões de empresas altamente criativas surgidas com a explosão do setor de serviços pessoais, comerciais e industriais, os avanços da informática, das tecnologias digitais etc. Também de novo, vale a comparação americana, a pátria da modernidade e do up-to-date: lá, 40% das empresas do ranking das empresas mais inovativas são pequenas e micro. E 39% dos cientistas nas áreas de maior sofisticação tecnológica trabalham em empresas desse tipo.

Mas o pequeno e microempresário em nosso país se assemelha ao sertanejo de Euclides da Cunha: é acima de tudo um forte. Pois só um forte para sobreviver à burocracia, às taxas de juros, às incertezas da economia e às deficiências de infraestrutura. A Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas pretende facilitar a vida burocrática e fiscal desse tipo de empresa no país. Mas a burocracia e os impostos são apenas dois dos muitos obstáculos que devem superar para não engrossar a estatística funesta de que 50% delas desaparecerão antes do 2º ano de funcionamento e 60% delas não chegarão ao 5º ano de existência.

É necessário que os empresários de qualquer tamanho desenvolvam a capacidade estratégica de gerir seus negócios. A nova Lei pode facilitar a criação de uma empresa e reduzir a burocracia mas para sobreviver e progredir uma pequena ou micro-empresa precisa de mais. Precisa ter a capacidade de entender as oportunidades e ameaças que estão permanentemente surgindo no ambiente de negócio e como aproveitar as primeiras e evitar as segundas.E isso é a essência da estratégia empresarial.

Quando se fala de estratégia sempre vêm à mente as grandes empresas realizando estudos complicados e gastando fortunas. Isso é um outro equívoco mesmo porque nunca ou quase nunca uma empresa já nasce grande. Elas nascem minúsculas e se forem bem sucedidas estrategicamente crescerão e se desenvolverão.

Mas afinal, que é administrar estrategicamente? No meu novo livro, Tamanho não é documento: Estratégias para a pequena e a microempresa brasileira, uso como exemplo um problema de natureza geral para demonstrar como aplicar o pensamento estratégico: o envelhecimento progressivo da população brasileira (como de resto da maior parte do planeta).

Vamos tomar o caso de uma pequena escola ou colégio privado: o envelhecimento da população que reflete principalmente a redução das taxas de natalidade faz com que existam menos crianças e consequentemente menos matrículas no futuro; isso é uma ameaça seríssima a uma escola que vive exatamente de uma população escolar que se renova continuamente. Se essa população diminui, haverá menos receita e a sobrevivência das pequenas escolas estará ameaçada.

Outras pequenas empresas afetadas pelo envelhecimento da população são as agências de turismo pois Idosos têm mais tempo e mais recursos livres para fazer alguma coisa e viajar é uma das preferências das pessoas mais velhas. Logo, na medida em que o número de idosos aumenta aumentam as oportunidades para explorar o mercado de viagens turísticas.

Portanto, é preciso traçar uma estratégia para as escolas superarem essa ameaça e das agências de turismo para explorar a oportunidade e para isso é necessário entender o problema em seus diferentes aspectos, planejar maneiras de enfrentar a situação, agir para realizar aquilo que foi planejado e, por último, estar permanentemente atento aos resultados que forem aparecendo tanto os bons como os desfavoráveis.

Isso é administrar estrategicamente e isso pode e deve ser feito em qualquer empresa de qualquer tamanho.É claro que o que variarão serão os instrumentos e os métodos utilizados: uma grande empresa contratará consultores para fazer elaborados estudos de mercado, uma pequena procurará reunir a opinião de alguns especialistas, recorrer mais à Internet; uma grande empresa fará testes de mercado, protótipos, etc. Já uma pequena empresa fará tudo isso de uma maneira mais “doméstica” mas nem por isso menos eficaz; é tudo uma questão de escolher os métodos e instrumentos adequados em função dos recursos disponíveis.

No Brasil atual, crescentemente envolvido no processo de globalização, o desenvolvimento dessas capacidades estratégicas é especialmente importante porque a globalização é um processo que pode afetar uma empresa independentemente da vontade do empresário; ninguém pode dizer: “eu não quero me globalizar, prefiro permanecer como sou” pois não cabe a ele decidir isso. De repente aparece um concorrente novo e inesperado vindo do outro lado do mundo e a sua pequena empresa foi automaticamente globalizada, mesmo que contra a sua vontade, por assim dizer.

O mundo globalizado está cheio de ameaças. Mas também repleto de oportunidades para o pequeno empresário brasileiro. Só é necessário que ele se prepare para enfrentar as ameaças e tirar proveito das oportunidades. E para isso, é essencial desenvolver sua capacidade estratégica.

. Por: Belmiro Valverde Jobim Castor, professor de doutorado em administração, consultor de empresas e de entidades públicas no Brasil e no Exterior | www.belmirovalverde.com.br

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