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06/04/2013 - 09:13

“Meu filho gosta de brincar de boneca. Quando devo atentar para isso?”

Na difícil arte de educar, os pais muitas vezes se deparam com ciladas. Deparar-se com o seu “meninão” brincando com a bonequinha da prima, ou o que pode ser ainda pior – na visão amedrontada de muitos pais – ouvir da boca do filho que ele quer ganhar uma Barbie do Papai Noel, pode levar o “ego familiar” à falência.

Acalmem-se pais: a homossexualidade não é contagiosa. O grande temor dos pais é que ter um filho brincando com bonecas possa transformá-lo ou ser um “grave indício” de que ele é homossexual e isso não é verdade. Somos nós, enquanto pais, educadores e sociedade que construímos e determinamos, artificialmente e ao longo de gerações quais são os brinquedos próprios de meninos e meninas de acordo com as regras da sociedade. Desse modo, e infelizmente, meninas ganham bonecas, panelas e vassouras, enquanto meninos ganham carros, tijolinhos, maletas de médico e caixas registradoras.

A criança terá interesse por tudo que é novidade, colorido e faz barulho, independente se for uma Barbie ou uma bola de futebol. E não será o interesse por certos tipos de brinquedos que interferirá na orientação sexual do seu filho. Isso porque a orientação sexual, que pode ser entendida como a “preferência” por um determinado sexo é um fator geneticamente determinado, como mostram diversas pesquisas, muito antigas inclusive. No mesmo raciocínio, insistir que seu filho goste de futebol e carrinhos de ferro não o tornará heterossexual. Se ele for homossexual, ele poderá ser um homossexual que goste de carros e futebol. Se ele for um heterossexual que brincou com panelinhas, poderá ser um indivíduo não machista que aprendeu desde cedo que homem também pode “pilotar fogão” e até se tornar um grande cozinheiro. Sabe-se lá.

Outro ponto importante – não necessariamente preocupante – reside num outro aspecto da sexualidade que é a identidade de gênero, que pode ser compreendida como o “sexo” ao qual o indivíduo pertence, homem ou mulher. E, em alguns casos, quando a identidade de gênero vem “trocada” por questões provavelmente biológicas, gera-se uma grande confusão, misturando-se na cabeça dos pais com a questão da orientação. Nas alterações de identidade de gênero, a pessoa, muitas vezes desde a infância, se vê com o “sexo” trocado, não se enxergando pertencente ao seu sexo biológico. E isso é de assustar qualquer pai e qualquer mãe.

Os pais ficam muito assustados frente a esse tipo de acontecimento, simplesmente porque não foram preparados para isso, em nenhum estágio do seu desenvolvimento como ser humano. Pouco se discute na escola sobre essas possibilidades, justamente pelo medo do “contágio”. Muitos pais acreditam que falar sobre o assunto pode “dar a ideia” e “transformar” o filho em gay ou travesti. Nos cursos de noivos das igrejas, nos divãs dos analistas e nos chás de bebês, quase ninguém debate essa possibilidade. As pouquíssimas pessoas que ouvi admitindo a possibilidade de ter um filho homossexual ou transexual são cruelmente rechaçadas pelos demais. Ninguém – ou quase – deseja ter um filho homossexual; transexual muito menos.

Deveríamos preventivamente discutir essa questão mais abertamente em nossa sociedade para que os pais e a própria sociedade estivessem mais preparados para receber seus filhos com amor, seja lá como venham. Enquanto isso não acontece, resta apagar o incêndio de orientar os pais quando se deparam com essas dúvidas e rezar para que eles não castiguem, não violentem, não espanquem e não oprimam a subjetividade de seus filhos, gerando pessoas infelizes.

.Por: Marcelo Niel: Médico psiquiatra e psicoterapeuta de orientação junguiana. Mestre em Ciências e colaborador da Unifesp. Professor Instrutor do Departamento de Psiquiatria da Santa Casa de São Paulo. Um dos autores do livro: Série Dilemas Modernos 1: Drogas, Família e Adolescência.

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