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02/11/2007 - 12:12

Finado Dia de Finados

Valores. A vida é uma transição e uma perpetuação de valores. O ser humano deixa para os seus herdeiros um legado. Valores. E como a morte pode ter um dia especial se os valores não morrem. Ao longo da vida sempre legitimamos, através de experiências, valores diversos aos que nos rodeiam, e nada disso morre. Pude aprender como sentir a ausência e a presença com a passagem de meu pai.

Lá se vão quatro anos que o Prof. Bhaskara Rao foi tomar whisky no céu. Para os espíritas ele desencarnou, para os católicos foi para a vida eterna, para mim ele está vivo e a psicóloga que me auxiliou na sua passagem disse que duraria apenas dois anos em minha lembrança. Tinha razão. Não lembro mais dele pois, ele está vivo e dialoga comigo dia a dia, minuto a minuto, por sinal, muitas vezes quero descansar e ele não deixa pois, seus valores preencheram minha vida. E quando quer beber whisky é tão gentil que faz com que eu beba todas as doses, inclusive as dele.

O que é a vida senão a troca de valores, dia a dia, cotidianamente. E a morte, a eternização destes valores e a troca se faz da mesma forma, dia a dia. Por exemplo, herdei o imóvel onde o mestre Rao morou, e com relação aos meus vizinhos, tenho que manter o legado deixado por ele, ou seja, o respeito acima de tudo.

E a educação que ele me deu, foi-se com ele. Não... Cada dia mais o sinto vivo dentro de mim, me ensinando no silêncio e na fala de minha mente e no pulsar do meu coração, então como posso neste Dia de Finados, segundo o legado comercial da vida, ir ao cemitério onde o seu corpo está enterrado e orar uma oração decorada, ou levar flores, ou conversar e lacrimejar e sei lá. Não posso, pois ele está vivo e como vivo está, está ao meu lado, na verdade está totalmente dentro de mim.

Assisto e respeito a todos que neste dia veneram seus mortos mas, eu não consigo venerar, consigo sim, conviver. Portanto, o Dia de Finados a partir de hoje, está morto. Uma nova idéia nasce, a pessoa que desencarnou ou participou da passagem, só permanecerá viva se você assim o quiser, se você matá-la dentro de você ela morrerá. Quando ela é um passageiro a escolha não é mais dela se ela ficará viva ou não e sim, sua, possuidor de carnes, braços e versos. Se você não tiver o verso diverso dentro de si, a morte rirá e o fará chorar.

E como conviver com meu pai se o seu corpo, seu olhar, seu aconchego não está mais aqui. Claro que está, por vezes, na verdade sempre, escuto sua voz, o brilho do seu olhar, o afago do seu coração dentro de mim. Ele não está mais fora e sim, dentro. Ele não pode mais se ausentar pois, está presente o tempo todo. Seu ato, seu hiato, seu toque, seu canto, enfim, todo o seu jeito ilimitado e infinito. Ele não é mais finito, não tem mais doenças, é infinito, muito mais presente do que enquanto estava vivo.

Como é possível... É possível se seu signo, o signo de sua alma, o beijo do seu olhar ultrapassar o horizonte. Não há mais horizontes nesta relação, há sim, amor. Não há mais espaço para o deixar disso, pois, nada poderá ser deixado de lado e tudo está contagiando os que se amam. Portanto, ninguém morre quando há amor.

Não me interessa mais ensinamentos ou leituras sobre a dita morte, pois, ela não existe. Me interessa sim a vida e há vida sempre quando se quer. Não consigo mais me iludir, enquanto estamos todos vivos, há discordâncias, golpes e a fragrância da felicidade não se faz. Quando participamos da passagem, a fragrância norteia a vida, dependendo da forma como o presente neste mundo, sente. Se não há sentimento, há morte, se há, há vida, segredos serão contados e escutados no íntimo, nada poderá ser escondido pois o que está no céu, conforme os ensinamentos infantis, vive dentro de você e não há como tirá-lo, na verdade está na terra e presente, muito presente.

Portanto, velho, bondoso e singular, Prof Rao, és o exemplo de vida que me norteia e como estás vivo não irei ao teu templo no dia de finados e sim, no dia em que quiser te beijar, te sentir, te amar. És a presença mais viva em minha vida, a cada passo e cada abraço, a cada ato de carinho. E como já sabes mas, preciso aqui escrever para terminar este artigo. Te amo tanto, que meu amor será traduzido em esperanças e magias para todos os que me leram aqui e que tiveram entres queridos que participaram da passagem. De novo escrevo e termino. Te amo e vamos viver, sou teu aprendiz mas, quero te ensinar e acima de tudo contigo viver.

Por: Anand Rao, jornalista | e-mail: [email protected]

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