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06/11/2007 - 11:04

O estágio e o empreendedorismo


Pesquisa recém-divulgada pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro dá conta de que as escolas superiores pouco ou nada estimulam a cultura do empreendedorismo, tanto na grade curricular quanto na programação extracurricular. Os entrevistadores ouviram 1.795 estudantes de 74 cursos superiores e suas conclusões permitem alguns recortes interessantes. Do lado do aluno, 83% reconhecem a forte competição no mercado de trabalho, 43% sabem que diminuiu a oferta de contratações com carteira assinada e quase todos concordam que abrir uma empresa pode ser a opção para construir uma carreira. Já do lado do ensino, 73% não aprendem sequer como obter um financiamento bancário, 57% não sabem que muitos campi contam hoje com incubadoras de empresas (uma eficiente alavanca para iniciar um negócio próprio) e 54% nunca ou raramente ouviram seus professores relatarem cases de sucesso, esse recurso que todos os consultores e orientadores utilizam, pois o consideram um dos mais eficientes meios de transmitir conhecimentos e auxiliar o jovem na escolha e na construção de sua carreira.

Já nas primeiras manifestações, especialistas em análise de pesquisas e mercado de trabalho afirmaram que o estudo confirma uma realidade há muito detectada pelo CIEE, que atua de todas as maneiras possíveis para alterá-la, em favor da empregabilidade do estudante pós-formatura. Trata-se do grande descompasso existente entre o ensino ministrado nas universidades e a realidade do mercado de trabalho e que precisa urgentemente ser corrigido. Até poucas décadas atrás, bastava ter um diploma universitário nas mãos, para que o recém-formado encontrasse uma ou mais oportunidades de emprego. Hoje, o cenário é outro e as condições são muito adversas a quem aspira ingressar por uma porta atraente e bem remunerada no mundo do trabalho.

Para começar, como constatam 45% dos alunos entrevistados na pesquisa do Rio de Janeiro, as vagas vão preferencialmente para quem tem boa experiência profissional, diferencial que eles não obtêm apenas com a conquista do diploma. É aqui que entra a figura do estágio, prática introduzida no Brasil pelo CIEE há 43 anos e que já beneficiou perto de 7 milhões de jovens. Adotado por um número crescente de empresas (em especial as de grande e médio porte) como eficiente instrumento de recrutamento e capacitação de novos talentos, o estágio vem conquistando reconhecimento como a desejável “experiência anterior”, incluída entre os requisitos exigidos para a aprovação de candidatos a emprego – tanto que outra pesquisa, conduzida pelo instituto InterScience, mostra que 64% dos estagiários pelo CIEE conseguem a sonhada carteira assinada após o primeiro ou segundo período de treinamento.

Atividade de caráter educacional regida por lei própria, o estágio complementa, com a vivência em ambiente real de trabalho, o aprendizado teórico ministrado nas salas de aula. Mas não é só isso. Representa também uma oportunidade para que o aluno desenvolva o que os especialistas chamam de competências/habilidades atitudinais, que nada mais são do que posturas e comportamentos hoje tão (e, em certos casos, até mais) valorizados do que um bom diploma. Entre elas, incluem-se disciplina, iniciativa, espírito de equipe, ética profissional, comprometimento com metas, boa expressão oral e escrita, visão de conjunto – enfim, aquele conjunto de características que formam o perfil desejado pelo mercado e que, embora ainda baseado no diploma universitário, vai muito além dele. Vale registrar que, mesmo no campo do aprendizado teórico, um dos fatores fundamentais para o sucesso em qualquer tipo de carreira é o aprendizado contínuo, ou seja, o profissional moderno não pode parar de adquirir novos conhecimentos e atualizar os que já possui, por todos os meios à sua disposição, pois só assim conseguirá acompanhar a dinâmica do mercado de trabalho, em constante e acelerada mutação.

Neste ponto, o leitor estará se perguntando o que o estágio tem a ver com o tema escolhido para a coluna de hoje. Tem e muito, pois pode ajudar a suprir a deficiência da escola na transmissão da cultura empreendedora. Acontece que os conhecimentos profissionais adquiridos num estágio bem aproveitado, somados às competências e habilidades atitudinais desenvolvidas durante o aprendizado prático, constituem os fundamentos básicos que possibilitarão ao futuro empreendedor alcançar êxito em seu negócio próprio. Além disso, no contato estreito com o mundo o trabalho, o jovem poderá adequar seu sonho à realidade, aprendendo a valorizar o planejamento, a avaliar as condições necessárias para a realização de projetos, a identificar a demanda e o perfil de seus clientes, a utilizar as normas de gestão de negócios desde o início da implementação de seu empreendimento. Enfim, podemos dizer que o estágio é o primeiro choque com a realidade do mercado, mas com uma vantagem para o jovem: nesse processo, ele contará com a proteção da empresa que lhe concedeu a oportunidade de vivenciar a prática e com a experiência profissional de seu supervisor, que atua como um tutor dos futuros talentos, orientando seus primeiros passos no ambiente profissional.

. Por: Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e diretor da Fiesp.

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