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16/05/2013 - 10:21

A natureza dos serviços ecossistêmicos: gratuita até quando?

A perda e a degradação da biodiversidade e dos ecossistemas é um tema que ganhou atenção na agenda corporativa nos últimos anos. Uma pesquisa realizada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) sobre economia dos ecossistemas e biodiversidade (TEEB, na sigla em inglês) apontou que uma maior consciência sobre estas questões tem se traduzido em mudanças nas preferências dos consumidores e nas decisões de compra.

A biodiversidade é geralmente definida como a “variação entre organismos vivos que incluí a diversidade de ecossistemas, espécies e níveis genéticos”, conforme consta no artigo II da Convenção de Diversidade Biológica. Todos nós nos beneficiamos de uma infinidade de processos e recursos que são proporcionados pelos ecossistemas. Coletivamente, estes benefícios são denominados serviços ecossistêmicos e incluem, por exemplo, água limpa para consumo e a decomposição de resíduos. Entretanto, a gama de questões é muito ampla. A indústria farmacêutica, por exemplo, tem de 25 a 50% de sua receita (estimada em US$ 640 bilhões) originária de recursos genéticos.

Poucas organizações têm demonstrado consciência do desafio que temos pela frente. É verdade que os riscos diferem caso a caso, dependendo do ramo de atividade, linha de produtos e localização geográfica, bem como da habilidade em substituir insumos ou mudar as operações para locais menos sensíveis.

Apesar desta variação, existem setores que possuem maior risco, seja no impacto ou dependência dos ecossistemas e da biodiversidade, ou do nível de maturidade para gerenciar esta questão. Alimentos, bebidas, Óleo e Gás e mineração são os setores que normalmente aparecem no topo dos rankings como mais sensíveis, por sua relação direta com o tema, mas outros setores também têm investigado o assunto, por conta de sua relação indireta, como as instituições financeiras.

Considerando que a produção global deverá triplicar até 2050, muito por conta da inclusão dos consumidores dos mercados emergentes, e que estamos utilizando um planeta e meio para as nossas necessidades correntes, é inegável concluir que muitas das fontes que hoje prestam os chamados serviços ecossistêmicos estão se esgotando rapidamente. As previsões são de que a ausência destes agentes resultará em restrições de crescimento econômico, onde incentivos “perversos” tendem a ser eliminados e a regulação atuará no sentido de que as empresas internalizem os custos ambientais hoje bancados pela sociedade.

Os impactos corporativos na biodiversidade e nos ecossistemas têm sido uma fonte recorrente de riscos reputacionais para as empresas. Estes riscos têm um espectro muito amplo, indo desde campanhas organizadas por organizações não governamentais, a consumidores boicotando varejistas, ou discussões sobre a sustentabilidade de produtos como carne, soja ou etanol.

Mas se o espectro é tão amplo, por onde começar? Nossa experiência tem demonstrado que as organizações líderes têm focado em três assuntos principais: água, risco de reputação e cadeia de suprimentos.

A disponibilidade de água em quantidade e qualidade adequadas está diretamente ligada à existência de ecossistemas saudáveis. Florestas regulam o regime de chuvas, a vegetação previne a erosão e contaminação das reservas hídricas e assim por diante. A falta de consideração destes fatores em um plano de ação mais amplo resultará em uma gestão ineficaz e em soluções de mitigação mais caras.

Riscos de reputação (ou perda da licença social para operar): quando uma empresa está convertendo um habitat natural para um uso alternativo da terra, acabará atraindo a atenção da comunidade local, autoridades e das organizações não governamentais. Desmatamento e emissões de dióxido de carbono, especialmente se envolvem perda de habitat usado para a produção de alimentos, são temas cada vez mais em evidência. Serviços de notícia que atuam 24 horas por dia e as redes sociais podem amplificar qualquer não conformidade em questão de minutos.

Por último, as companhias precisam entender os impactos e a dependência em sua cadeia de suprimentos. Uma alegada falta de habilidade em influenciar terceiros já não é vista como desculpa para não agir. Organizações que avaliam o impacto dos serviços ecossistêmicos geralmente aprendem coisas surpreendentes, que expõem novos riscos ou oportunidades escondidas. Seja como for, o tempo de pegarmos carona com a Mãe Natureza está definitivamente chegado ao fim...

.Por: Ricardo Zibas, gerente sênior da área de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade da KPMG no Brasil.

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