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18/05/2013 - 08:27

Mundo moderno: sobre celulares e fé

Na porta da capela, um aviso: "Você está na casa de Deus, desligue o celular". Por falta de um celular, eu carregava dois na minha bolsa, além do iPad. Entrei mesmo assim, pois precisava muito rezar, mas, respeitadora que sou, abri minha bolsa e comecei a cavoucar, procurando pelos aparelhos para poder silenciá-los. Ambos sumiram no fundo da bolsa e por mais que eu sacudisse, nada dos celulares. E se começassem a tocar? Que falta de tato!

Para piorar minha precária e pecadora situação, no banco logo à minha frente estavam duas jovens freiras em profunda meditação com suas bíblias de bolso na mão. Senti-me péssima. Consegui agarrar um dos celulares, destravei e... Oh, não, esse era justamente o novo, eu não tinha idéia de onde era a função de silêcio. E se começasse a tocar? Pecadora!

Pela primeira vez olhei para o altar e me dei conta do encanto de capela em que me encontrava. Pequenina, mas brilhante. Paredes levemente rosadas em forma de arcos, leves e aconchegantes. Um altar com a Virgem, São José no canto segurando o menino Jesus em seus braços. Todos pareciam rir de mim e meu desespero tecnológico. Os vitrais em todas as janelas eram coloridos, do jeito que eu mais gosto. Senti-me tão pequena diante da família real ali a me observar, mas sabia que eles não estavam bravos comigo, apenas divertidos e agradecidos pela minha preocupação. Eu sorri de volta para os três e pedi desculpas pela total incompetência em achar e desligar dois simples celulares.

Numa negociação silenciosa com São José expliquei-lhe que seria melhor ficar em silêncio bem perto da porta de saída do que insistir na minha caçada aos celulares dentro da minha bolsa sem fundo. Estava fazendo mais barulho o 'tchec-tchec' do tecido do que o toque de um deles. É claro que ele aceitou e eu me plantei ali, de pé num cantinho da capela, meditando, mas ainda com certo receio de que os "malévolos" aparelhos pudessem atrapalhar as duas freiras que ainda rezavam.

Concentrei, rezei e voltei a admirar a capela. Comecei a me perder em pensamentos... Pensamentos bons, de fé, esperança, coisas boas. Voltei a viajar nas imagens dos vitrais, e fui dragada com força brutal de volta a Terra pelo grito de um celular. Caramba!

Mas foi hilário perceber que na verdade, uma das freiras repetia em desespero os meus gestos de minutos atrás, cavoucando a bolsa a procura do inquieto companheiro. Olhei a cena divertida. Ela desligou e olhou pra trás tentando se desculpar. Nessa hora eu sorri de volta para absolvê-la de sua culpa, mas voltei a olhar o altar e certificar, "Vocês viram, né? Foi ela, não eu."

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