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25/05/2013 - 09:09

Ruy Mesquita

O homem é o que faz, não o que pensa dele mesmo ou a sentença dos julgamentos alheios. O Especial de o Estado sobre Ruy Mesquita retrata o ser social que era distinto dos seres egocentricamente individuais. São poucos os que se libertam de seus casulos pessoais e somente se realizam no coletivo. O pessoal só importa na medida de suas absolutas necessidades.

No plano social, liberdade e corência foram suas marcas fortes. Manifestou-se no apoio à "revolução" castrista, retratada modernamente como uma revolução digna da escrita de Homero; na verdade, Batista caiu de podre. E o regime cubano se perdeu ao unir-se à malsinada utopia soviética e abandonar a democracia, o que levou o Dr. Ruy ao rompimento.

Aliás, rompimento era parte de sua coerência. Não se trata de um paradoxo. Na constatação do desvio do rumo correto, só resta a desvinculação. O mesmo fenômeno ocorreu quando da "contra-revolução" de 1964, como corretamente denominava o golpe militar que infelicitou por vinte anos a sociedade brasileira. Já por ocasião do AI 2 manifestou-se sua discordância com os rumos do regime autoritário.

Não estarão errados os que vislumbram, senão ingenuidade, algo que não permeava seu espírito crítico e sua formação, um erro político. Por esse erro houve um pagamento caro pelos jornais da família Mesquita. A democracia e o apreço à liberdade não deixariam de falar mais alto no contraponto sistemático à "contra-revolução" que se escancarou como golpe. E a oposição aos militares não se limitou à insistência em publicar notícias obstadas pelos censores das redações de "O Jornal da Tarde" e "O Estado de São Paulo", sob a forma de poemas e receitas culinárias e nos editoriais abafados.

Revelou-se em ações práticas, como o acolhimento em suas redações dos perseguidos e torturados, como os jornalistas Antônio Carlos Fon, de quem não quis ouvir explicações, despiciendas no embate com uma ditadura militar perversa. E na recepção aos demais colegas Paulo Markun, Marco Antônio Rocha e na preservação da vida de Luis Paulo Costa. Infelizmente - é triste reconhecer - se Wladimir Herzog não tivesse confiado no Estado em que todos devemos confiar, até porque não poderia supor seu destino terrível nos porões de uma sinistra casa da Rua Tutoia, em São Paulo, e, antes de lá comparecer, buscado o apoio cautelar de homens como o Dr. Ruy e de outras importantes personagens que resistira m ao regime de exceção, até mesmo impetrando uma ordem de "habeas corpus" preventivo (pouco importando se o remédio heróico criminal vigia ou não sob o tacão do AI 5), é possível que não houvesse sucumbido de modo tão sórdido.

No campo jornalístico, o Dr. Ruy era ciente e consciente de dois pilares do jornalismo: o de que os jornais são dinâmicos e diários; suas produções, por mais memoráveis que sejam, têm a duração de um dia, diversamente dos livros, que permanecem, quando não se eternizam. Daí a necessidade de sua reprodução estonteante, um árduo trabalho intelectual, que ele enfrentou até a mais avançada idade; e a percepção de que, neste momento, indefinido e incerto, entre a comunicação eletrônica - e superficial - e os jornais, estes somente terão sobrevida se não forem meramente informativos e superficiais, mas profundos e formadores de opinião, ainda que o noticiário não acompanhe a velocidade de sua concorrência digital. É a compreensão, também, do renomado Gay Talese, expoente do jornalismo mundial.

A resenha sobre a vida do Dr. Ruy envolve um interessante episódio com o grande jornalista Gilles Lapouge, em 1964, que deliberou sair do jornal, em razão da posição de apoio ao golpe militar. Foi convencido a ficar depois de uma longa carta em que o Dr. Ruy expunha sua crença num movimento episódico e brevemente restaurador do regime democrático. Lapouge, à distância, teve o discernimento de que militares golpistas, em nenhum lugar do mundo, cumprem suas promessas. Logo, porém, se escancararia a ditadura e os jornais do Grupo Estado a ela se oporiam com todas as suas forças. Coisas do mundo político, em que os interlocutores, em geral, não agem com a sinceridade dos honestos. Lapouge, com certeza, não se esqueceu que perambulava pelo Brasil, em sua juventude já bafejada pelo talento, quando foi acolhido pela família Mesquita e manteve com o Estado não uma relação de trabalho, mas uma história longeva de um grande correspondente, sem prejuízo da independência de suas opiniões.

Em uma de suas obras, outro correspondente, o Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, afirma que a América Latina, em que pesem os problemas educacionais e culturais, mantém excelentes jornais e revistas, entre eles o Estado de São Paulo. São publicações conscientes de que a evolução do homem só ocorrerá num clima de liberdade política e econômica, com justiça social. Sob refutação de equivocados que, quando vencidos, até no campo criminal, atribuem o fato a uma elite não identificada e a uma suposta imprensa conservadora, que insiste em denunciar falcatruas - que assim não poderiam ser classificadas, porquanto não passariam de um meio legítimo, utilizado por uma esquerda que deseja a transformação do mundo.

.Por: Dr. Amadeu Garrido de Paula, advogado.

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