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28/05/2013 - 09:50

Obras de Cândido Portinari, Hélio Oiticica e Oscar Niemeyer compõem a mostra “Arte & Política”

No Memorial Getúlio Vargas.

O nome de Getúlio Vargas logo nos remete, claro, à política. Presidente do Brasil em dois mandatos distintos imprimiu sua marca na história desse país, sendo considerado ora ditador (1930 a 1945), ora o “pai dos pobres” (1950 – 1954). Mas, para dar a roupagem que queria a seus governos, soube se valer da arte para moldar o Brasil que vislumbrava.

Foi nesse contexto, por exemplo, que a Rádio Nacional, fundada em 1936 e encampada em 1940 por Vargas, passou a ser utilizada para disseminar um modelo de Brasil moderno, que visava a construção de uma identidade nacional alinhada aos ideais do Estado Novo (1937-1945), que exaltava acima de tudo o trabalhador. O rádio, então o veículo de maior alcance entre a população na época, ajudou a propagar os ideais políticos de Vargas e junto com isso, deu fama a nomes como Ary Barroso, Carmem Miranda, Geraldo Pereira, Assis Valente, Luiz Gonzaga e tantos outros.

Por outro lado, artistas que não estavam alinhados à política de Vargas eram perseguidos. Prova disso é a criação do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), que orientava e censurava a produção cultural da época. Política e Arte. Arte e Política.

É esse, aliás, o fio condutor da exposição de estreia do Memorial Getúlio Vargas.

Intitulada “Arte & Política: enfrentamentos, combates e resistências”, a exposição traz nomes como Cândido Portinari, Hélio Oiticica, Oscar Niemeyer, Lasar Segall e Rubens Gerchmann.

Como sugere o nome da exposição, o ponto em comum entre os artistas da mostra é a junção de sua arte com o engajamento político, manifestado mais fortemente em uns do que em outros, mas de alguma forma presente no trabalho de todos eles.

A mostra “Arte & Política: enfrentamentos, combates e resistências”, será a primeira exposição do Memorial Getúlio Vargas, inaugurado em agosto de 2004 pela Prefeitura do Rio.

Situado em uma praça histórica do bairro da Glória, o espaço foi projetado pelo arquiteto Henock de Almeida. Descendo ao subterrâneo deste espaço urbano público e adentrando no Memorial, você pode "viajar no tempo" e tornar verdadeira a frase do poeta: "a praça é do povo"!

Com curadoria de Marcus Lontra Costa, a mostra desvela as estratégias e tensões da arte moderna e contemporânea diante do conturbado cenário político da história republicana brasileira ao longo do século XX. Reunindo obas de mais de 20 artistas nacionais e internacionais, a mostra “Arte & Política” estrutura-se tendo como marco três décadas distintas: 30, 50 e 70:

Década de 30, o enfrentamento: o movimento modernista no Brasil, iniciado oficialmente com a Semana de Arte Moderna de 1922, trouxe ao país um processo cultural forte e genuinamente brasileiro que permitiu que as gerações futuras rompessem com o academicismo vigente e começassem um trabalho bastante revolucionário para a época. As obras de Di Cavalcanti, Lasar Segall e Cândido Portinari retratam bem esse período em que o Brasil olha pra si mesmo, refletindo em seus traços e cores o Nordeste, as curvas da mulata, o trabalhador rural, o sambista e as mazelas da sociedade, como a miséria. Aqui, é interessante frisar que entre os artistas brasileiros Di Cavalcanti foi o primeiro a adotar uma postura política mais radical. Chegou inclusive a se filiar ao Partido Comunista. Com isso, passou a ser perseguido e ainda nos anos 30, acabou preso por duas vezes. Assim como Di Cavalcanti, Portinari também se filiou ao Partidão. A ditadura estadonovista de Vargas taxava os artistas: perseguia os que não difundiam seus ideais e apoiava os que eram alinhados ao seu governo.

“Estou com os que acham que não há arte neutra. Mesmo sem nenhuma intenção do pintor, o quadro indica sempre um sentido social”. (Cândido Portinari).

Década de 50, o combate: ainda sob influência desse modernismo iniciado anos atrás, a produção cultural no Brasil busca cada vez mais a inserção de sua própria modernidade, com suas próprias características. Getúlio Vargas no poder, não mais como ditador, mas como presidente eleito, faz um governo populista e é aclamado o “pai dos pobres”. É dessa época a campanha até hoje lembrada de “O petróleo é nosso”, que viria, pouco depois, dar margem à criação da Petrobras. Os militares, porém estavam descontentes com Vargas. Os conflitos e tensões aumentaram. Pairava o risco de um golpe militar. Golpe esse que Vargas, ao se suicidar, evitou que acontecesse, naquele momento. Em sua carta-testamento registrou as tensões dos bastidores da política: “Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.” Com isso, os militares tiveram que esperar por mais 10 anos até conseguir concretizar o golpe militar. Em 1956, Juscelino Kubitschek é eleito o novo presidente do Brasil. Junto a Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, tornam um sonho em realidade: idealizam e constroem Brasília, a nova capital federal. É a época dos movimentos concretistas, percebidos na arquitetura e nas artes plásticas. É o Brasil otimista, ufanista, que olha para o futuro e para si mesmo. Internacionalmente, o panorama político é marcado pela Guerra Fria, que opõe capitalistas x socialistas. O medo dos comunistas, do chamado “perigo vermelho” se tornará cada vez mais presente.

“Urbanismo e arquitetura não acrescentam nada. Na rua, protestando, é que a gente transforma o país.” (Oscar Niemeyer).

Década de 70, a resistência: o país vivia sob uma ditadura militar que cerceava direitos e calava as pessoas. A arte, até onde foi possível, foi o canal de denúncia e resistência, fosse na música, no cinema ou nas artes plásticas. Com o endurecimento da ditadura, após o AI-5 instituído em dezembro de 68, produzir arte em plena ditadura ficou ainda mais difícil. O caminho encontrado por muitos artistas para os dilemas culturais da época foi trilhar um caminho ainda mais radical, transgressor e marginal. É nesse contexto que se insere, por exemplo, Hélio Oiticica. Com sua obra experimental e inovadora, é considerado por muitos como um dos artistas mais revolucionários de seu tempo. Além de Oiticica, veremos também os trabalhos de Rubens Gerchman, Carlos Sciliar, Antônio Manuel e outros. Em comum, expressões artísticas que desempenham um papel de resistência, sempre com uma temática crítica e de denúncia.

“Seja marginal, seja herói”. (Hélio Oiticica).

.[Exposição: “Arte & Política: enfrentamentos, combates e resistências”, de 14 de maio a 29 de junho,de terça à sábado de 10 às 17h, no Memorial Getúlio Vargas, Praça São Luiz de Camões s/n – Glória. Classificação: Livre. Entrada: Gratuita.Mais informações: (21) 2245-7577].

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