Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

11/06/2013 - 04:42

A relação entre o Carro-Forte e os espelhinhos coloridos

Correndo o risco de induzir o leitor que ainda não sabe do que vou falar ao erro desde o início, pergunto: Lembram-se do simpático Manolito, o pequeno comerciante amigo da Mafalda, personagem de Quino? Bem, menciono o Manolito porque hoje me veio à mente uma tira em especial, aquela em que o personagem vê passar um carro-forte e pensa consigo mesmo: "Sexy, o caminhãozinho". E além de pensar "quem nunca sentiu isso que atire a primeira pedra", perguntei a mim mesmo: Existem por aí tantos carros-fortes como antigamente? Tenho a sensação de que mesmo que ainda existam, o seu uso para a finalidade específica de transportar notas e moedas físicas perdeu peso no volume total de transporte de valores.

Porque o que tem ocorrido nos últimos anos é outro fenômeno: dada a evolução que teve a digitalização do sistema bancário e financeiro em geral, com a proliferação dos plásticos, a internacionalização dos mercados de capitais e o crédito, o tráfego informatizado de títulos, valores e moeda aumentou exponencialmente.

Isso não só faz com que muitos jamais pisem em um banco, a não ser para retirar dinheiro de vez em quando, mas também faz com que as mesmas instituições financeiras tenham de digitalizar todas as suas operações. E como o dinheiro físico é armazenado em cofres de alta segurança, o mesmo deve acontecer com os valores digitais. Em termos práticos, isso significa que toda entidade precisa dispor de um data center, para armazenar todas essas informações, que podem muito bem ser de sua propriedade ou de terceiros. Mas também é necessário estabelecer redes de alta velocidade, para que seu "transporte digital" seja feito com altíssima segurança.

Imagine que as informações sobre sua conta poupança não estão armazenadas em um único lugar, mas em vários ao mesmo tempo, e não porque o banco quer compartilhar suas informações com o mundo, mas porque ele precisa fazer isso para tê-la replicada em diferentes dispositivos caso algum deles falhe. Este sistema, além de evitar que os clientes percam o acompanhamento das suas operações (e seu dinheiro, claro), também beneficia a continuidade dos negócios. Ou seja, se não existir redundância de equipamentos e informações, a instituição financeira pode ter as suas atividades suspensas, com o consequente impacto sobre os seus rendimentos.

Para administrar estas questões, o Banco Central de cada país costuma regulamentar como devem ser os dispositivos de armazenamento e a conexão entre cada um deles. É claro, o faz com base no que mencionamos anteriormente: mais segurança e maior volume de tráfego. E então chegamos aos “espelhinhos coloridos” e voltamos a nos concentrar no transporte de valores, que afinal de contas era a ideia desta coluna. Porque o que acontece é que hoje a tecnologia que vem se impondo para fazer esse transporte é a baseada em “DWDM” (Dense Wavelength Division Multiplexing).

E como isso se traduz? Bem, suponho que o leitor já esteja familiarizado com o uso de fibra óptica, tanto para telecomunicações como para TV a cabo e outros usos. Mas, provavelmente, ninguém explicou como a informação é transmitida através dela, por isso vou tentar fazê-lo rapidamente: o que a fibra óptica transporta é luz, emitida pelo equipamento eletrônico em sequências que, codificadas em uma extremidade e decodificadas no outro, são traduzidas em informação. Algo como sinais de fumaça, só que dentro de um minúsculo fio, que pode carregar muito mais informações por milhares de quilômetros.

Mas então, o que o DWDM traz de tão importante para as aplicações discutidas acima? Além de emitir flashes de luz, ele tira proveito do espectro de luz, que nos ensinaram nas aulas de física. Ou seja, divide uma única luz em diferentes comprimentos de onda e a transforma em cores. Essas cores são transportadas através da fibra óptica, e repetidas por diferentes caminhos através de pequenos espelhos, que são responsáveis ??por manter cada cor no caminho certo.

Com este passe de mágica, a capacidade de "transportar valores digitais" num único par de fios da fibra óptica é multiplicada pelo número de cores nas quais pode ser dividida a luz, e é por isso que a tecnologia DWDM permite transportar por um único canal até 100 Gbps (gigabits por segundo) e uma única fibra pode ter até 80 canais. Assim, poderia transportar até 8Tbps (terabits por segundo), que é algo como transportar em menos de um segundo o conteúdo de mais de 300 DVDs. Além disso, esse método faz com que o nível de confidencialidade das informações seja maior do que em qualquer outra tecnologia, e que atenda aos requisitos de segurança de que falei anteriormente.

Então, da próxima vez que você fizer algo tão simples e cotidiano como pagar a luz ou transferir dinheiro online, pense que é mais provável que essa informação esteja sendo transportada por um cabinho da espessura de um cabelo humano, por meio de luzes coloridas. Digno de Ray Bradbury, não é?

.Por: Mauro Contardi, Gerente de Produto de Transporte e Infraestrutura de Dados da Level 3 América Latina.

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira