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13/06/2013 - 10:08

Um vulcão adormecido

Não compartilhamos do simplismo dos que miram nos jovens que saem às ruas para estremecer São Paulo. Mera manipulação de grupos radicais e propósitos políticos em vista das eleições que se aproximam. Seria supor uma organização que esses grupos não têm. Basta ver seus precários desempenhos eleitorais. Se não galvanizam para o voto, muito menos o fariam para um combate em que as forças da ordem tendem a vencer, punir e impor sacrifícios físicos e psicológicos.

O Brasil brilhou enquanto a crise mundial solapava os EUA e a Europa. Políticos no poder vibraram. Houve até mesmo quem apostasse no fim do capitalismo, no melhor estilo equivocado de Fukuyama. Nem a história nem o capitalismo estão próximos do fim, salvo no imaginário de ideologias idealistas, mais próprias dos jovens e de aloprados. Outros vislumbraram "crise fabricada" pela esperteza das classes dominantes mundiais, com o objetivo de impor sacrifícios aos pobres e emergentes.

A crise, todavia, abalou as bases da economia de mercado em níveis aproximados ao "debacle" de 1929. O desemprego elevado num país como os EUA era algo em princípio impensável. Tanto lá como na Europa a sucessão à queda do muro de Berlim gerou uma felicidade próxima da irresponsabilidade.

Na Europa, o "welfare state" parecia ter caído do céu. A Espanha virou uma festa diuturna. A Praça do Sol, o centro da monarquia espanhola, regurgitava de alegria, prazeres e gastos fáceis, noites e dias. Até que o lúdico se justificava, depois de uma longa e sombria ditadura. Mas, como já é lugar comum, a economia jamais é gratuita. Nos EUA, a euforia habitacional, despreocupada, os financiamentos bancários fáceis que automaticamente inundavam o mundo de papel machê com seus derivativos, dera m no desastre que conhecemos e que recepcionou o governo de Barack Obama. Na Europa, ficou evidenciado, nos países do sul, que ainda era preciso mais, no campo dos fundamentos econômicos, para fazer a festa. Economia continental, o norte responsável manteria por alguns anos a política perdulária dos gastos públicos da Grécia, Espanha, Itália, Portugal. A pequena e bela Islândia chegou a falir e foi socorrida pelo FMI, em condições jamais disponibilizadas ao resto do mundo. A Irlanda percebeu a impossibilidade de se ter uma economia desenvolvida sem um sério controle da atividade financeira e um sistema bancário minimamente regulado.

Todavia, tudo isso era cíclico. Com sérios esforços, um mundo assentado em sólida educação, capacidade tecnológica, constituído ao longo de séculos de lutas, mas também de prosperidade em todos os campos da atividade humana, dono das mais avançadas universidades do planeta, tinha tudo para dar a volta por cima. Essa recuperação ainda não se registrou na Europa, porém a União Europeia começa a entender o primeiro passo para reverter o que parecia definitivo. E os EUA já demonstram que trilham o cami nho da restauração de sua pujança mundial.

A esquerda ortodoxa e o populismo dos emergentes viveram um sonho de uma noite de verão. Imaginaram que ficariam sempre no elevado da gangorra, que permaneceria imóvel, com os "loiros de olhos azuis", finalmente, roçando o chão onde estivemos ao longo da história. Chegara a hora da virada, da sonhada revolução. Precipitamo-nos em, generosamente, aportar recursos ao FMI. Éramos a bola da vez e a vitória irreversível, no mínimo pelo futuro visível. Não era mais necessário o comércio com a maior potência do mundo, que se esfarelara. Os negócios bilaterais com a China e a multiralateralismo entre os pobres e bolivarianos traçaria o futuro do planeta.

As manifestações de rua tomavam conta do primeiro mundo. Entre nós, tudo certo, como dois e dois são cinco. O governo brasileiro, encarnado pelo "cara" e por um prestígio internacional jamais visto na história deste país, poderia ser dar ao luxo de descartar as reformas estruturais, como se as belas árvores, que exibem seu viço nas primaveras, dispensassem raízes. Assim, de tópico em tópico, sem coragem de enfrentar o necessário, agora suportamos a oscilação natural da gangorra e o realismo econômico que, lamentavelmente, mais uma vez nos sugere o sofrimento. O desemprego de jovens formados em universidades que se multiplicam, muito longe da qualidade, volta a ser um monstro aterrorizante.

Extremamente intuitiva, assim como lá fora, a juventude começa a sair às ruas. Jovens de mãos dadas não têm teorias, mas sonhos e ideais. O que os impulsiona não é o carisma, os sistemas ideológicos ou o aumento de 20 centavos na tarifa de ônibus. É o justificado, brotado do inconsciente, medo do próximo verão.

.Por: Dr. Amadeu Garrido de Paula, advogado.

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