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14/06/2013 - 08:48

A diabulimia e os transtornos alimentares


A autoimagem que as pessoas possuem é baseada em imagens do passado que são retratos da identidade constituída na infância. O que foi construído dá margem a expectativas de futuro e idealizações de si. A autoimagem será moldada por meio da aprendizagem das situações, positivas ou negativas, a que somos submetidos e é, neste contexto, que conduzimos esta relação íntima que estabelecemos com o nosso próprio corpo.

A maneira como os outros nos reconhecem é o reflexo que esta autoimagem necessita para existir. Nem sempre o que é refletido agrada ou satisfaz a vaidade, que é exigente e crucifica o corpo por não satisfazer a fantasia. Fantasiamos muito a nosso respeito e, por isso, o corpo é instrumento e vítima dos desejos e da necessidade de aceitação social.

Se tivermos um desenvolvimento adequado e satisfatório, a autoimagem é preservada como algo benéfico, agradável e o amor próprio é estabelecido. Em contrapartida, se no percurso deste desenvolvimento houver retaliações, humilhações e angústias cruciais, o corpo é punido devido à rejeição do meio em que a criança está inserida.

Na infância, o sujeito sofre forte influência de modelos, eleitos por ele como referência: pai, mãe ou aqueles que exercem tais funções. A ideia que fazemos de nós se constitui a partir da avaliação que os outros nos projetam.

Incontáveis pessoas crescem com a sensação (quase sempre irreal) de rejeição contínua por parte dos outros e isso as leva a abandonar sua verdadeira identidade na busca por aceitação. Assim, buscam características mais agradáveis que possam substituir aquelas que são rejeitadas pelas pessoas. O indivíduo passa, então, a viver de maneira superficial preocupando-se em manter uma “fachada”, que, no fundo, não aniquilará jamais sua verdadeira identidade, caráter e índole.

Ao tentar aparentar algo que não são, muitas pessoas buscam um ideal de si, obsessivamente, sem medir consequências e ficam vulneráveis ao surgimento das doenças de teor estético.

A dismorfia corporal é uma perturbação da percepção e valorização corporal caracterizada por uma preocupação exagerada com um defeito real, ou imaginado, na aparência física. Dismorfia é a discrepância, ou diferença, entre aquilo que a pessoa acredita ser (em termos de imagem corporal) e aquilo que realmente é.

É diante deste quadro que os distúrbios alimentares se desenvolvem. A comida é compreendida como o instrumento que altera o corpo e, portanto, negligenciar a alimentação facilitaria a realização do almejado desejo do corpo perfeito e beleza impostos pela sociedade. Sabemos que a mídia também exerce grande influência nas escolhas e nesta massificação entre os adolescentes, no que se refere aos padrões de beleza.

Uma recente pesquisa, realizada no Reino Unido, indicou que uma em cada dez adolescentes britânicas tem algum distúrbio alimentar. O levantamento acusou um aumento de 13% nos casos de transtornos alimentares entre os adolescentes nos países britânicos entre 2003 e 2009. Isso porque, principalmente durante a adolescência, a pressão para se encaixar em padrões e a busca por uma falsa perfeição, torna-se intensas levando a comportamentos destrutivos.

Mundialmente, homens e mulheres vêm desencadeando distúrbios alimentares ao colocar, irresponsavelmente, em risco a saúde e a própria vida. Os transtornos mais conhecidos são a anorexia e bulimia nervosas e a vigorexia, mas, igualmente destrutivas, outras maneiras de emagrecer altamente prejudiciais à saúde aparecem com frequência.

Uma nova e ainda pouco conhecida modalidade de transtorno alimentar surge de maneira sutil e silenciosa, a “diabulimia” que, por enquanto, não recebeu a classificação oficial de transtorno alimentar. Um comportamento grave e que reúne os malefícios do diabetes tipo 1 aliados à bulimia nervosa.

A característica do diabetes é a falta de utilização periférica de glicose e quando o açúcar no sangue apresenta índices elevados, há perda de peso. Os diabéticos precisam de insulina para metabolizar o alimento e convertê-lo em energia em nível celular. Se não há insulina, o corpo não tem como utilizar a energia dos alimentos provocando grande perda de peso corporal. Habitualmente, isso acontece quando o diabético deixa de utilizar a suplementação de insulina. Com a elevação do nível de açúcar no sangue aumenta a excreção urinária, surgem as dores de cabeça e a queda de peso. Ao longo do processo, a pessoa entra em estado de cetoacidose, ou seja, quando o organismo não é mais capaz de utilizar a glicose como fonte de energia. Desta forma, os estoques de gordura são mobilizados para obter a energia necessária para o funcionamento do organismo. Todavia, como consequência do uso da gordura, há a formação de corpos cetônicos, substâncias que abaixam o pH sanguíneo deixando-o ácido. Com o tempo podem surgir graves problemas renais, retinopatias (lesões não inflamatórias da retina ocular), além de outras sequelas.

Casos de diabulimia podem ocasionar a morte e, por isso, toda atenção é pouca na hora de observar o comportamento de jovens e adultos com diabetes e que têm preocupação exagerada com o corpo e a aparência. Muitos usam a própria doença para emagrecer ignorando as graves consequências causadas por esta negligencia em sua saúde.

Certas atitudes de jovens e adultos dão sinais claros do desejo de emagrecer a todo custo. A recusa em não subir na balança durante a consulta clínica e/ou tentar negociar a dose de insulina associadas à preocupação com a forma física denunciam a maneira de agir, bastante comum em pessoas com este tipo de distúrbio.

.Por: Breno Rosostolato, psicólogo clínico e professor da Faculdade Santa Marcelina – FASM.

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