Nelson Mandela

O mundo ora por Nelson Mandela, nascido Rolihlahla Dalibhunga Mandela, nome profético que significava "aquele que ergue o galho de uma árvore". A cicatriz de uma tuberculose, adquirida nos anos de combate contra o segregacionismo, o perseguiu até os dias atuais, com pneumonias recorrentes.

Seus desafetos o libertaram, mas deixaram marcas indeléveis em seu corpo. Porém, com certeza, jamais bateu o arrependimento nesse advogado, defensor dos direitos humanos, líder rebelde e ex-presidente da África do Sul, Prêmio Nobel de 1993.

Estaria arrependido, como disse certa vez, se não houvesse deixado sua aldeia, onde um destino nobre o aguardava, para cair na luta em Joanesburgo, primeiro como líder estudantil, depois como advogado combatente do "apartheid" e Executivo do Conselho Nacional Africano, em oposição ao direitista Partido Nacional: "Teria uma barriga bem grande, muitas vacas e carneiros".

Numa autodefesa de quatro horas no infame julgamento de Rivânia, deixou claríssima sua posição de um democrata radical: "Durante a minha vida, dediquei-me a essa luta do povo africano. Lutei contra a dominação branca, lutei contra a dominação negra. Acalentei o ideal de uma sociedade livre e democrática na qual as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e realizar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer".

Foi condenado a uma pena de prisão perpétua. Libertado em 11 de fevereiro de 1990, galvanizou as multidões. Porém, imparcial, justo e democrata, convicções provavelmente hauridas em seus cursos jurídicos, não raro foi vergastado por ambos os lados do radicalismo racial. Prevaleceu a regra da convivência entre povos que até hoje mantém suas divergências políticas, mas enterraram as dissidências provenientes da cor da pele. De todo modo, uma evolução nas relações humanas, no sentido da sociedade multiétnica que plasmou seu ideal.

Diversamente de líderes de sua época que descambaram para as ortodoxias ideológicas e regimes opressivos, Nelson Mandela ergueu o galho de uma árvore que se mantém em pé, admirada pelo mundo, que o venera e apoia em seus dias de agonia.

.Por: Amadeu Garrido de Paula, advogado.