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18/06/2013 - 11:09

Uma primeira avaliação da estratégia do Japão

O Japão começa a mudar sua economia com os primeiros resultados das ações de Shinzo Abe. Tudo obedece a um arrojado, mas bem articulado, conjunto de decisões no campo monetário e fiscal, com o objetivo de produzir um novo período de crescimento na economia do país.

Abe fez o Banco Central Japonês (Banco do Japão) assumir uma política monetária agressiva, comprando de ativos para ampliar a liquidez do Japão, até atingir a nova meta de inflação de 2,0% ao ano. O primeiro efeito positivo parece realmente ser o fim da deflação, interrompendo o longo ciclo de preços em queda.

Como se sabe, o problema com a deflação é que ela provoca um retardamento constante nas decisões de compras, adiando as aquisições à busca de preços mais baixos em momento futuro. O comportamento procrastinador derruba a demanda e desestimula os investimentos empresariais. A queda dos preços torna as taxas de juros reais mais altas, ampliando o custo do capital, tornando-o superior à taxa de juros nominal. Finalmente, o declínio dos preços agrava o valor real das dívidas. Essa combinação de deflação e baixíssimo crescimento é a causa imediata do enorme aumento da dívida em relação ao PIB japonês. Assim, uma política de geração de inflação passa a ser a meta perseguida pelo novo governo. O primeiro resultado visível é a desvalorização rápida da moeda local. A mera expectativa de inflação produzida pelo plano de Abe também provocou um aumento dos preços das ações das empr esas no mercado mundial.

Mas o plano vai além. O primeiro-ministro Abe começa a mover a estrutura de concessões de estímulos fiscais, deixando a preocupação com o nível de endividamento que, por si só, já é estrondoso, ampliando o nível de gastos em segmentos da economia considerados estratégicos para o crescimento econômico. No plano concebido por Abe, só o crescimento da economia reduzirá a proporção dívida/PIB.

Do ponto de vista externo, o plano prevê uma nova vertente de crescimento por meio da participação do país nas negociações de Parceria Trans-Pacífico que visam à criação de uma área de livre comércio. Isso, naturalmente, confiando principalmente no livre comércio com os Estados Unidos. Com exceção dos produtos agrícolas, a maior parte do comércio entre o Japão e os Estados Unidos não envolve barreiras tarifárias. Ao contrário, o que existe e precisaria ser superado são barreiras não- tarifárias, com seus regulamentos invariavelmente restritivos. Tal como concebido, esse acordo obrigará à desregulamentação de muitas indústrias nacionais no Japão, abrindo espaço, na vida econômica japonesa, para as reformas de abertura no plano do comércio e estimulando a maior competitividade a indústria nacional.

Nesse sentido, a desvalorização do iene já produziu crescimento das exportações. Também o consumo já reagiu, atingindo patamares crescentes nos três primeiros meses do ano e a confiança dos empresários acompanhou o movimento de alta, sem, contudo, ter iniciado aumento dos investimentos privados.

Claro que o potencial de crescimento no comércio exterior envolve problemas. A concorrência de empresas na Coréia do Sul, Taiwan, China e em suas principais indústrias de eletroeletrônicos e automóveis não pode ser desprezada. Há ainda que se levar em conta o baixo nível da demanda global, especialmente na Europa. Assim, o potencial para o crescimento de exportação, mesmo com um iene mais barato, é limitado. As novas políticas precisarão ter um impacto duradouro na demanda interna, a fim de aumentar significativamente o crescimento. A ampliação dos gastos do consumidor é um bom sinal, mas ainda é muito cedo para acreditar se o novo plano será bem-sucedido.

.Por: Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi, presidente do Instituto Fractal de Pesquisa de Mercado.

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