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03/07/2013 - 09:48

Talvez o nascimento de uma nação

Os movimentos recentes arrombaram depósitos seculares de vontades manobradas. O Brasil só recentemente direcionou sua história. Desde o descobrimento o povo que habitou esta terra o fez para servir aos senhores da metrópole ou seus prepostos aqui assentados. E sua elite econômica e de poder político.

Entre uma ou outra escaramuça inconformista - e sempre as há, em qualquer parte do mundo - a primeira indignação importante foi um pequeno movimento de intelectuais, inconformado com a espoliação tributária. A maioria foi exilada e seu líder esquartejado exemplarmente. A repressão foi tão acentuada que o povo brasileiro voltaria com placidez ao berço esplêndido por séculos.

A independência refletiu mais divergências intestinas insuperáveis entre os governantes da metrópole do que uma robusta manifestação de vontade de um povo, acompanhado de significativa organização histórica em torno de reivindicações sensíveis que implicassem no desate do nó de soberania entre o Brasil e Portugal. É certo que os comandantes reinóis e o povo simples que habitava esta terra se conflitaram por muitos anos para que se consolidasse nossa autonomia política, mas nada de proporções decisivas.

A república foi proclamada segundo uma estratégia que não passou de um contubérnio entre republicanos razoavelmente cultos e militares canhestros, que se puseram a serviço de seus interesses recíprocos. No dizer conhecido de um historiador, o povo brasileiro assistiu boquiaberto à proclamação da República. Enquanto os civis tratavam de transplantar mecanicamente o que nos EUA tinha sido produto de muita inteligência, como o presendiacilismo, a república e federalismo, os militares tupiniquins cuidaram de seus deveres precípuos - a manutenção da ordem pública, a repressão.

A revolução de 30 foi um movimento de ruptura ideológica, mas também sem participação popular. Esta viria em 1932, na defesa de um constitucionalismo completamente enviesado. Longos anos de inanição popular se seguiriam. As grandes massas permaneciam inertes e os pequenos e heróicos grupos de resistência seriam sangrentamente reprimidos.

O alinhamento ao estrangeiro, a servidão cultural às ideias e costumes franceses e a posterior adesão ao "american way of life" nos levou ao único caminho lógico na segunda guerra mundial; todavia, vencido o nacional socialismo, viria à baila a guerra fria e o posicionamento brasileiro francamente oposto ao socialismo real, ao lado das potências ocidentais. A Carta de 1946 retratou um momento iluminista para o qual o povo brasileiro não estava preparado para sustentar. E voltamos à madraçaria política, não sem crises episódicas, de desfechos trágicos, mas sem repercussões amplas. O crescimento dos movimentos sociais e sindicais, frágeis, mas imprevisíveis, levaria à concentração para que o equilíbrio favorável ao ocidente não fosse ameaçado e sobreveio o golpe de 1964, sob promessa de efemeridade que se transformou em 20 anos, durante os quais o povo também não teve nenhuma participação, salvo das resistências que culminaram no encurralamento de uma ditadura que se desmonstrara plena de conflitos "interna corporis" e movida por interesses localizados em grotões castrenses.

Depois de memoráveis jornadas democráticas, tomava novas qualidades o "ethos" conformista que imprimia a característica ao povo brasileiro, na luta pelas liberdades públicas, pela assembléia nacional constituinte e pelas diretas já, sob lideranças tradicionais; contudo, algo completamente distinto viria inocular pelas novas gerações o cenário político brasileiro: o despreendimento de movimentos populares (os "caras pintadas") do ramerrão de uma democracia pobre, fundada exclusivamente numa carta constitucional, na observância das liberdades básicas ou negativas (restrições ao Estado) e nas urnas que muito pouco alteraram o sistema de poder. Movimento inédito que culminou num "impeachment" por razões de corrupção menos g raves que as que assolaram os dois últimos governo s.

Num momento em que parecia que o Brasil voltara à sua "cordialidade" plácida, até pelo apoio que conferia à Presidente da República, a pradaria voltou a se incendir, voluntária e espontaneamente, com mais intensidade, gerando um quadro totalmente diverso daquele esperado para as próximas eleições presidenciais. As ruas desarrumaram as urnas e, a partir desse momento épico nesta jovem nação, é possível que passemos a trilhar o caminho da ética e da autenticidade da ação e da representação política.

.Por: Dr. Amadeu Garrido de Paula, Dr. Amadeu Garrido de Paula é advogado.

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