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08/08/2013 - 10:28

Mais um Dia dos Pais de saudade


Estamos nos aproximando de uma época do ano muito difícil há quase sete anos. Isso porque nada é pior do que ver um filho sofrer e não poder fazer nada para ajudar. E é o que acontece na minha vida e na de minha filha, Luiza, de onze anos, quando lembramos que passaremos mais um Dia dos Pais sem ele. Sem nosso amor. Em datas como essa, lembramos e revivemos tudo o que aconteceu.

Mais ou menos um mês após o dia dos pais do ano de 2006, no dia 29 de setembro, recebemos a pior notícia de nossas vidas: de que o Rolf, meu marido e pai da Luiza, morreu no voo 1907 da Gol. O acidente aconteceu pelas falhas já comprovadas pela ANAC de dois pilotos norte-americanos irresponsáveis que estavam no comando do jato Legacy que colidiu com o avião da Gol, deixando todos os 154 passageiros e tripulantes mortos.

A saudade é eterna. Não há um só dia no ano em que não doa a saudade que ele nos causa, mas no Dia dos Pais, essa dor aumenta ainda mais na minha filha. Buscamos reviver cada momento feliz que passamos juntos, principalmente depois da chegada da Luiza. Ela tinha apenas quatro anos quando o Rolf faleceu, aproveitou muito pouco do pai que ela ama tanto, mas até hoje lembra os brinquedos que ele trazia para ela quando viajava, do “travesseirinho” que era a barriga dele para a Luiza e do abraço apertado que ela ganhava quando ele chegava. Quase sete anos se passaram e ela não deixa eu me desfazer de alguns objetos do pai. Acho que no fundinho do coração dela existe uma esperança de que ele “volte”, abra um sorriso e vá à cozinha com ela preparar bolinhos de carne. Uma esperança de criança, mas que até eu, às vezes, me pego pensando “e se fosse possível”...

Um pai já faz muita falta. Agora um super pai, como era o meu marido, além de deixar esse buraco em nossas vidas, deixa muita saudade. O mais triste é ver uma menina tão pequena tendo que lidar com a dor da perda de um ente tão querido como o pai dela tão jovem. É triste, ver ela nessa data no colégio, quando os amigos têm para quem prestar sua homenagem e ela apenas dentro do seu coração pode ainda abraçar o pai. Quase sete anos, e ainda lembro diariamente das histórias felizes, dos momentos de alegria que passamos junto com o Rolf, mas essa data é difícil deixar de lado o que aconteceu e toda a angústia que passamos em todos os Dias dos Pais depois de 2006.

Além da dor que vivemos, é difícil explicar para a minha filha que os culpados pela morte do pai dela ainda não foram punidos, mesmo quase sete anos depois do trágico dia. Não gostaria mais de viver com esse sentimento. Acho que o mínimo que eu e todas as outras 153 mães que perderam seus maridos ou filhos no acidente e os filhos que ficaram sem os pais merecem é a punição dos culpados. Quero e luto pela minha dignidade e a da minha filha.

Em outubro de 2012, os desembargadores federais Tourinho Neto, Cândido Ribeiro e Mônica Sifuentes, integrantes da 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília (DF), julgaram os recursos propostos pelo Ministério Público Federal e pela Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907. Com a nova decisão, para a qual ainda cabe recurso ainda sem data marcada para ser julgado no Superior Tribunal de Justiça, os pilotos que continuam trabalhando nos Estados Unidos, foram condenados a três anos e um mês de detenção, em regime aberto, ou seja, deverão dormir em local previamente estabelecido pela Justiça e se apresentar periodicamente em um tribunal nos Estados Unidos, onde irão cumprir a pena.

E quando a minha filha crescer, como vou explicar quando ela perguntar o que aconteceu com os responsáveis pela morte do pai? Espero, com todas as minhas forças, poder falar que os culpados foram punidos e pagaram pelos erros que cometeram. Mesmo que esse “erro” tenha marcado para sempre nossas vidas.

Um feliz Dia dos Pais para todos os que têm o privilégio de passar essa data com a pessoa mais importante desse dia: os pais. Porque é como diz o poeta “é preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã”.

. Por: Rosane Gutjahr, diretora da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907 |A Associação foi fundada em 18 de novembro de 2006, pouco depois da tragédia, na cidade de Brasília, no Distrito Federal, com o objetivo de reunir e organizar os familiares e amigos das vítimas do acidente aéreo voo 1907, da empresa Gol Linhas Aéreas Inteligentes S/A, para lutar pela defesa de todos os direitos e interesses dos que sofreram e sofrem com a morte de entes queridos. A Associação busca a justiça em todas as esferas administrativas e judiciais (cível e criminal), para que os culpados pelo acidente sejam responsabilizados. É possível manifestar apoio seguindo o microblog Twitter no endereço @rosanegutjhar e também no Facebook em www.facebook.com/rosane.prgkeb?ref=ts. |Site http://www.associacaovoo1907.com/?l=que, onde também é possível aderir ao abaixo-assinado.

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