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15/11/2007 - 13:26

Lembrança de Marcantonio


A importância de Marcantonio Vilaça para as artes plásticas brasileiras é muito expressiva. Como galerista que foi, ninguém o suplantou, na década de 90, projetando o nome do Brasil além fronteiras. Possibilitou o reconhecimento universal dos nossos artistas, acreditando no valor da arte e da cultura.

Às vezes, custamos um pouco a perceber méritos alheios. Outras vezes, sobretudo num mercado altamente competitivo, há um grande questionamento, como se fosse proibido elogiar a atividade exemplar desta ou daquela personalidade. Artistas de renome sofreram, em suas respectivas épocas, as conseqüências da incompreensão.

Quando visitamos o Museu Rembrandt, em Amsterdã, impressionou-nos a sua biografia, relembrada pelo guia zeloso que nos acompanhou. Vimos suas obras magistrais, inclusive esculturas, muitas feitas sob encomenda, mas soubemos que os seus contemporâneos não as valorizavam. O artista, que conheceu a opulência, morreu pobre e quase desconhecido, com inacreditáveis processos de despejo.

Com Marcantonio Vilaça foi diferente. Formado em Direito, na Universidade Mackenzie, poderia ter seguido a carreira. Teve a oportunidade de entrar no mundo dos negócios de algodão e soja, cedo ainda, mas não era essa a vocação. Os pais compreenderam e deram força à sua opção profissional, onde ele afinal se destacaria como astro de primeira grandeza. Muitos jovens talentos devem-lhe o reconhecimento público, pelo incentivo constante que receberam. Era incontrolável a paixão pela arte contemporânea, o que levou o crítico Paulo Herkenhoff a considerá-lo “a voz mais autorizada do mercado da América Latina.”

A Galeria Camargo Vilaça, em São Paulo, foi o centro, também, de um empenho especial por ações interdisciplinares na escola. Os currículos oficiais obrigam a existência da educação artística, mas o que há na prática é um arremedo. Com exceções como a que se deve ao Sesi Cultura, que criou condições para que as atividades artístico-culturais sejam desenvolvidas no País, além de subsidiar a realização de iniciativas dos diversos setores produtivos e incentivar o trabalho de artistas. Assim nasceu o Prêmio CNI/Sesi Marcantonio Vilaça para Artes Plásticas, com exposições no País inteiro e uma imensa repercussão no seio do magistério. Reduziu-se (e muito) a resistência na compreensão da natureza da Arte Contemporânea.

Essas considerações nasceram em meu espírito a partir da visita feita ao bonito apartamento do casal Maria do Carmo – Marcos Vilaça, na praia da Boa Viagem, no Recife, com uma linda vista para o Atlântico. Éramos cinco acadêmicos. Combinamos o que dizer na Feira do Livro. Quando nos preparávamos para sair, baixinho, Marcos nos convidou a outro aposento. Fazia questão que conhecêssemos o escritório em que Marcantonio trabalhara. Está conservado, intacto. Na parede, um imenso pôster com uma bonita foto do embaixador da arte brasileira, encantado aos 37 anos de idade. Ficamos em silêncio por alguns minutos. Marcos Vilaça deixou que escorressem dos seus olhos lágrimas de saudade pelo filho que se foi.

. Por: Arnaldo Niskier, professor emérito da Eceme, e membro da Academia Braileira de Letras (ABL) | [email protected]

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