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17/08/2013 - 08:50

Viagem ao país dos outros, um olhar estrangeiro no País

Uma viagem literária do autor, coreano, no país dos outros, Brasil.

O autor é de ascendência norte-coreana. Seus pais rumaram ao sul durante a Guerra (1950-1953). Nasceu em Seul, no dia 11 de agosto de 1968 e, pela tradição familiar, seu nome seria Lak Ho Sung, porém acabou sendo registrado com o nome Dong Hyun Sung e 15 de agosto de 1968 como a data de nascimento. Foi alfabetizado em coreano. Cursou o primeiro e a metade do segundo ano do ensino fundamental em Seul, antes de chegar com a família ao Brasil no fim de 1976, de forma clandestina, através do Paraguai. No Brasil, sem saber falar português, começou os seus estudos a partir do primeiro ano do então curso primário. Procurou sempre conhecer a língua portuguesa lendo, principalmente, os clássicos da literatura mundial. Apesar da dificuldade com português, cursou e se formou em Direito em 1993. Como advogado, teve contato com os kayapós ao acompanhar a fase final do caso do índio Paulinho Paiakan, que estampou a capa da revista Veja em 1992. Isso lhe permitiu conhecer a cultura deles e possibilitou escrever o conto Kaigo. Em 2009, deixou de ser advogado militante, e no final do mesmo ano, começou a escrever os contos que compõem Viagem ao país dos outros e também a fotografar as obras do artista plástico Eduardo Srur, registrando e documentando as intervenções urbanas dele. A foto que ilustra a capa é do autor. Viagem ao país dos outros é o primeiro livro de Dong Hyun Sung, escrito em português, composto de três dos cinco contos que ele escreveu do final de 2009 a começo de 2013.

São Paulo– Três histórias, que trazem mitos e lendas indígenas e reflexões sobre questões filosóficas, sociais e artísticas, compõem Viagem ao país dos outros, de autoria de Dong Hyun Sung, lançado pela Editora Livrocerto. A obra é uma viagem literária do autor, coreano, no país dos outros, no caso, o Brasil.

Com o prefácio de Rui Sá Silva Barros, editor e historiador, o livro traz três contos sobre culturas bem diferentes com abordagens: filosófica, social e estética. Pela perspectiva filosófica, enfoca os limites e alcances do conhecimento humano de forma consciente e inconsciente, através dos quais um homem se diferencia dos outros; em relação ao social, aborda os valores morais dos indivíduos em diferentes grupos. Quanto à artística, investiga o ato da criação e da originalidade. Em Apanhador de sonho temos por enredo a iniciação de um xamã norte-americano; em Kaigo a história e a cosmologia de uma tribo do Brasil Central; em Dr. DE uma situação de duplo exílio: um intelectual acadêmico vivendo no estrangeiro e alguém com pavor da sujeira, barulho e vulgaridade da cultura urbana das grandes metrópoles.

O escritor, coreano residente no Brasil desde os 8 anos e estreante na literatura, usa a intertextualidade e representações para criar um livro elaborado e intrigante. Cursou Direito como desafio para melhor falar a língua portuguesa e lembra que só há 10 anos começou a sonhar em português. “Após 15 anos de advocacia, decidi abandonar a militância, e o lançamento deste livro significa virar essa página na minha vida. Foram quatro anos escrevendo. O conto DR. DE reescrevi 71 vezes. Minha prática de escrita era jurídica”, afirma. O autor explica que a opção por lançar uma obra de contos, e não um romance se deu porque: “As informações precisam ser mais curtas, resumidas. O tempo está cada vez mais acelerado e as pessoas têm pressa para tudo: querem consumir cada vez mais, viajar mais, conhecer mais. E os textos, embora tenham estrutura de romance, tentei não ultrapassar 60 laudas cada. Hoje, é difícil ver alguém lendo um Dom Quixote. Os grandes romances hoje não têm muito espaço”, explica.

Primeiro conto do livro, Apanhador de Sonho, é uma fábula de um símbolo, onde um homem vê o seu sonho, um símbolo, fora do seu sonho, uma teia emaranhada e descontinua. Após descobrir como realizá-lo - “apanhar o sonho”, passa a vida inteira esperando a sua realização, e isso acontece só antes da morte. Duas idéias, uma de Georg Klaus e outra de C. G. Jung, traduzem a linha de raciocínio de uma história de superação e cheia de desafios: “Todas as formas de símbolos têm em comum o fato de não terem como causa determinante aquilo que simbolizam. Isto os diferencia de sinais” e “Os símbolos jamais foram inventados; nasceram do inconsciente, por meio da chamada revelação ou intuição”.

Já no Kaigo, o autor escreve de forma simplificada um épico, que mistura os mitos e os fatos do povo indígena brasileiro kayapó, desde seu surgimento até os dias atuais. O autor conheceu essa cultura quando era advogado e acompanhou a defesa do índio Paulinho Paiakan, acusado de estupro de uma mulher civilizada em 1992. Foram três anos de pesquisa para entender a cultura e os valores morais deste povo. “Todas as lendas existem, fiz uma releitura sem alterar os elementos básicos”, conta Dong Hyun. “Kaigo” quer dizer mentira na língua dos kayapós. O narrador da história é On-ban. É um contador que com suas introduções, que precedem os capítulos - estão em itálico, pretende preparar, esclarecer e complementar os ouvintes com outros mitos não abordados na história e suas opiniões e impressões sobre o que ele irá narrar no capítulo. Faz isso por meio de cantigas, canções e prosas-poéticas. É um contador com o pensamento independente acerca dos fatos e mitos, com conclusões próprias sobre isso. Um narrador bem ativo e atípico, ao ponto de modificar as lendas e alterar os fatos, para criar sua fantasia sobre mitos e fatos, Kaigo.

Em DR. DE, o protagonista em solidão, é levado a uma imersão em sua consciência, complexa e atormentada, guardada no inferno do ressentimento. Há um fluxo na mente, com a linguagem que transita pelo plano existencial e inconsciente, com autoanálise e projeções das memórias remotas, atropelada pela realidade crua e indelicada da metrópole, com suas multidões miseráveis e sua elite abastada. Na história, os “fantasmas” que incomodam e assombram o personagem principal são exteriorizados por um fantasma. Há no texto, principalmente, na última manifestação do fantasma, pistas para descobrir o nome desse fantasma. Para descobri-lo, depende do conhecimento do leitor sobre a cultura clássica, em especial, mitologia grega. E os mais atentos, poderão descobrir muito mais.

Formato: 16 x 23 | ISBN: 978-85-99460-04-7 | 184 páginas | 340 gramas | R$ 29,00.

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