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11/09/2013 - 11:02

O Brasil se transforma

O 7 de setembro deu a impressão de uma data simbólica que em nada se distinguiu de anos anteriores, à exceção de escaramuças, repressão e consequências. Nada mais equivocado. Basta constatar o acanhamento de governantes e políticos nos desfiles. A nação brasileira, um grupo social de milhões, não se levanta de afogadilho. O despertar é lento e o caminhar dos primeiros minutos da manhã feito de marchas e contra-marchas.

Não é exato dizer que o povo do Brasil se caracterizou por passividade política durante toda sua história. Esta passou por inúmeros conflitos armados, entre estados e regiões; o primitivismo bélico dos combates não os invalida. Lutamos por nossa independência de Portugal, "manu militari", embora desconcentradamente. Não tivemos uma secessão, e tampouco reiterados conflitos internacionais, salvo a guerra do Paraguai. Somente nos últimos anos, de governo do Partido dos Trabalhadores, passou-se a impressão de um governo todo poderoso a ordenhar manadas por meio de medidas provisórias. Isso em razão de um populismo assistencialista e da conduta de uma classe empresarial e financeira, nativa e estrangeira, que perdeu o medo do monstro esquerdista e, in clusive, a ele se aliou uma relação promíscua de corrupção.

Todavia, o inconsciente coletivo surtou no último mês de junho, para perplexidade geral. O inconformismo rebentou qual um tsunami tresloucado, sem objetivos delineados porém com evidente sentido transformista. Dois fatores, absolutamente naturais, colaboraram para o arrefecimento das manifestações: a radicalização violenta de parte do movimento e a preparação das forças repressivas, nunca antes tão preparamente mobilizadas como neste 7 de setembro.

O governo ministrou alguns calmantes de farmácia popular para conter o ímpeto das massas, sem nenhum sucesso, como o anúncio de plebiscitos mal imaginados, programas afobados de mais médicos, mais ou menos qualificados, e o voto secreto para julgar parlamentares ao mesmo tempo em que se mantinha como congressista um presidiário. Essas diatribes só serviram para manter ativo o despertar da consciência popular, a quebra do tabu do medo e da acomodação inalterados, embora já amadurecidos face àqueles dois fatores decisivos antes mencionados.

Desse estado de espírito coletivo a única mudança histórica que se pode depreender é a rutura com a passividade reinante nos últimos anos. A classe política não mais dorme placidamente o sono dos justos. Sua mansuetude burocrática e acomodada se transformou numa estratégia defensiva face à bandeira da reforma política. Reforma política que revolva seus aspectos estruturais é a última coisa que essa classe, que não deveria ser uma instituição, deseja: lá se iriam privilégios escandalosos e em número tão expressivo e conhecido dos brasileiros que sua transcrição neste artigo é completamente despicienda.

Trata-se do importante rompimento com uma determinada postura política. O caminhar da sonolência acrítica para a vigília permanentemente crítica; do imobilismo para o andar participativo nos assuntos nacionais, que não é privilégio de eleitos numa democracia representativa autêntica. Um advogado representa os interesses e direitos de seus constituintes mas pode ter sua procuração revogada a qualquer momento. Em menor extensão, para os casos de manifesta infidelidade e descumprimento do mandato outorgado nas urnas, o povo, que também não dorme, a pensar em justas proposições, com certeza escreve na página primeira de sua agenda o anglicismo "recall". E tantas outras propostas voltadas a garantir o funcionamento de uma democracia constituc ionaliz ada sem permitir que seus postulados fundamentais sejam usurpados por partidos e políticos mentirosos e demagógicos.

Portanto, o povo brasileiro ingressou num momento de profunda transformação histórica. Optou pela emancipação. Esse, doravante, é o ponto nevrálgico. Pouco importa se deixaram as ruas por alguns dias ou a deixarão por meses; se desnorteados ou aloprados recorreram à violência respondida na mesma medida pelas forças encarregadas de assegurar a ordem pública. O Brasil não é mais aquele. Os atos públicos e governamentais são constantemente acompanhados, agora com a ajuda da comunicação instantânea. Os dias da humanidade são iluminados pelo sol ou abençoados pela chuva. Da conjunção dessas conjunturas naturais, das auroras e dos entardeceres, é que brotam as condições definitivas para nossa sobrevivência. Enganam-se os aproveitadore s dos bens públicos ao imaginar que o pior para eles já foi conjurado.

. Por: Dr. Amadeu Garrido, advogado.

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