Do tango às UPPs: professores argentinos realizam intercâmbio cultural na Mangueira

O primeiro desafio foi superar as dificuldades do idioma, já que a maioria deles não fala português. Mas durou pouco. Os docentes mergulharam na realidade de vida de estudantes que moram em uma comunidade pacificada do Rio. Numa troca intensa, eles estão construindo uma obra coletiva que ficará em exposição permanente.

Rio de Janeiro (RJ) – Jorge Trotta é psicólogo e trabalha no atendimento a dependentes químicos em comunidades carentes na Argentina. Paula Arellano, também psicóloga, e a artista plástica Mercedes Fidanza, idealizaram e fundaram o Fronteras Migrantes, projeto que realiza oficinas artístico-sociais em países vizinhos ao delas, e que resgata diferentes percepções de realidade na relação das pessoas com os lugares em que vivem. Todos são educadores e estão no Rio de Janeiro realizando um intercâmbio cultural com estudantes da Casa da Arte de Educar, com sede na Mangueira, comunidade pacificada, até o dia 07 de novembro (quinta-feira). O primeiro desafio foi vencer a barreira da comunicação, já que a maioria deles não fala português. Superada essa fase de adaptação linguística, os docentes se soltaram. E crianças e adolescentes estão mostrando como é viver numa comunidade pacificada como a Mangueira, a relação deles com o território e a forma como vivem.

A iniciativa é uma ação conjunta da Casa da Arte de Educar, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por meio do projeto “Expressão e Transformação”, do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC e da organização Fronteras Migrantes, de Buenos Aires, na Argentina.

Neste período, os estudantes participarão de uma oficina artística-social que tem como proposta oferecer um espaço de reflexão, de reconhecimento e de intercâmbio de experiências que valorizam o que cada uma das crianças e jovens têm na forma como vivem, transitam, andam e constroem o território onde moram.

“Um dos principais objetivos dessa atividade é fazer com que esses estudantes tragam as percepções do espaço em que vivem para a construção de uma realidade coletiva”, explica Lolla Azevedo, coordenadora pedagógica da Casa da Arte de Educar.

Exposição artística para a comunidade-Os estudantes serão estimulados a trazer materiais de casa ou encontrados no caminho até o local da oficina. Vale tecidos, recortes de jornais e revistas, folhas secas, cascas de alimentos, enfim, o que crianças e adolescentes acreditarem ter algum tipo de relação com o território em que vivem.

“Partindo do lema nossa terra, um lugar de construção de sonhos, as atividades da oficina, que será conduzida pela equipe de professores argentinos, contará também com facilitadores da UFRJ, CNPq e Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária para facilitar o intercâmbio cultural”, destaca Lolla Azevedo.

Ao final do intercâmbio cultural e da oficina será inaugurada a obra criada coletivamente, que poderá ser visitada por moradores da comunidade. A exposição poderá ser visitada na Casa da Arte de Educar, que fica na rua Ana Neri, 155 – Mangueira.

A Casa da Arte de Educar, é uma organização de Utilidade Pública Federal, com metodologia educacional reconhecida pela Unesco e MEC, vencedora do Prêmio Itaú / Unicef 2009. Foi criada a partir do encontro de educadores das favelas com profissionais da educação que buscavam colaborar para a qualificação da educação pública. Criou a metodologia Mandala dos Saberes, em 2007, que foi implementada, através do Programa Mais Educação, em cerca de 30.000 escolas no Brasil é reconhecida pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como importante metodologia de aproximação entre a escola e a comunidade, entre educação e cultura.

Fronteras Migrantes - É uma organização interdisciplinar que trata de questões de imigração através da arte, saúde e educação. Realiza oficinas artístico-sociais, seminários e encontros com jovens e adultos na Argentina e países vizinhos.