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08/11/2013 - 08:08

A dramaturgia das ciências

 Excelentes observações do prêmio nobel de economia deste ano, Robert J. Shiller, traz à baila, em matéria do Valor Econômico de 7/11,  o problema das ciências ou do conhecimento. A pergunta significativa: até que ponto o homem pode assegurar que seus conhecimentos, nos mais diversos sítios investigativos, são forrados de um grau maior ou menor de certeza? Economista, resumiu-se à sua especialidade.  A própria filosofia, na idade média classificada como "ciência das ciências", proclama verdades e contraverdades, assertivas e contestações, de tal modo que podemos afirmar que o homem é um ser, ainda que evoluído, filosoficamente navegando num mar revolto pelas mais diversas e contraditórias hipóteses.

 O que a epistemologia, ramo da filosofia que estuda o método das ciências, procura estimular é o máximo de ceticismo e de criticismo, a fim de que as conclusões sejam as mais próximas da credibilidade. Os físicos que se lançaram a afirmar certeza absoluta no tangente aos "bózons de Higgs" discordam da efervescência midiática que os classificou de "partículas de Deus" e asseveram que,não obstante essa avanço inegável, eles ainda não dominam com segurança mais de 10% da natureza dos princípios do universo em que estamos misteriosamente entranhados.

As denominadas ciências biológicas e, particularmente, a medicina,  vivem de erros e acertos, fragilidade que é guardada a sete chaves, sob pena de as massas populares ingressarem numa neurose de insegurança, uma vez que, como toda razão, elas demandam uma vida feliz, com o máximo de qualidade, longeva e dependente de profissionais que reputam infalíveis; e que não têm nenhuma tolerância face a seus erros, justificáveis se dependentes dessa condição inerente ao saber e não à deficiência de formação acadêmica e prática.

O ilustre autor da matéria mencionada procura dar alguma solidez ao domínio dos conhecimentos econômicos, porém rende-se à evidência de não poder ser considerado ciência um conjunto de elucubrações, que a crise de 2007/8 colocou por terra; não é sem motivo que o loquaz  Lord John Mainard Keiynes expunha suas ideias em alta velocidade nos encontros internacionais, tendo praticamente monopolizado Bretton Woods, sem dar ensanchas a questionamentos, o que não impediu o levantamento da arquitetura da hegemonia da economia americana no mundo. Por sua vez, o marxismo assentou inúmeras premissas aparentemente inquestionáveis, principalmente sob a blindagem de regimes que o elevaram à única inteligência humana e reduziram a sucatas reacionárias toda produ&Ia cute; ão intelectual do homem que não o homenageavam. Seu féretro foi impactante.

O que se conclui, com o articulista, é que todos os conhecimentos cuja aplicação depende da falibilidade humana não podem ser considerados ciência, se consideramos ciência uma manifestação do espírito cujas proposições são constatadas pelos fatos históricos como absolutamente verdadeiras e, o que torna tudo ainda muito mais complicado, consideradas éticas, justas e boas, para que levemos à frente nossa aventura existencial.

Tanto a economia como o direito são formulados enquanto planos e normas pelos homens e sua execução depende de nossas condutas. Portanto, é plenamente válido dizer que andamos sempre sobre a corda bamba da economia e do direito, e que,  por mais solenes que sejam suas instituições e a sisudez de seus operadores,  a inverdade geradora da insegurança poderá prevalecer, em detrimento de nossa felicidade. De resto, esse resultado indesejável domina o mundo,cuja maioria dos países ainda não resgatou uma vida razoavelmente digna e cujas relações internacionais ainda estão muito distantes da definição aristotélica de equidade.

É indiscutível que o bicho homem evolui, porém muitas vezes constatamos, por exemplo, no plano do direito, que os romanos davam melhores respostas aos litígios que o direito pós-moderno. Nosso país acaba de ingressar numa perigosa zona de turbulência jurídica, depois das inacreditáveis oscilações cruciais de nossa Suprema Corte. Os debates e divergências no seio do Tribunal Superior do país inerem à sua natureza, mas seria de esperar dos juízes supremos, não só em nosso país, que procurassem cada vez mais aproximar-se de um consenso valorativo, desgarrando-se das névoas ideológicas e dos interesses particulares dos grupos que os nomeiam. Enquanto as Supremas Cortes não forem livres, independentes, cultas e profundamente principiológicas , não poder emos falar em ciência do direito em nenhum país.

Robert J. Shiller conclui que "à medida que se desenvolva, a economia vai ampliar seu repertório de métodos e fontes de evidência e fortalecer sua ciência; e os charlatães vão ser expostos". Diga-se o mesmo do direito e de todas as ciências, sobretudo das que são produtos exclusivos da formulação do pensamento humano e condicionadas, em sua execução, aos valores positivos da humanidade.

. Por: Doutor Amadeu Garrido de Paula, advogado.

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