Mercosul, menos ideologia e mais lógica

O Mercosul passa por um momento crucial, é tempo de unir as lideranças para traçar novas estratégias de crescimento e também alinhar as ações que já estão em prática. Em breve (dezembro) os presidentes irão se encontrar, e para que a reunião seja de fato efetiva, vários pontos ainda precisam ser corrigidos.

Brasil, Argentina, Paraguai e Venezuela tem influenciado, talvez negativamente, o atual panorama do bloco, enquanto, contrariando as expectativas, Uruguai, presidido pelo ex tupamaro Mujica, é o país que se apresenta como o mais adaptado à nova realidade.

O PAraguai do presidente Horacio Cartes, corre o risco de não participar, afinal o parlamento de seu país ainda não aprovou o ingresso oficial da Venezuela no Mercosul, e por isso, não foi ao menos convidado.

A Venezuela de Hugo Chavez e agora de Nicolás Maduro, por sua vez ainda não se ajustou nem 10% às normas do bloco entretanto, como decidido previamente não participará desta etapa das negociações com a União Européia. Este é um fato positivo, que deve ser considerado e aproveitado.

O Brasil, quer negociar uma redução na TEC (tarifa externa comum) com a União Europeia para 90% dos produtos, para que à longo prazo, esta taxa desapareça. Não se sabe ainda quais produtos estarão considerando, porém, a medida tem de ser combinada com a Argentina, para que fique consensuada. Todavia o secretário do comércio do país vizinho, o polêmico Guillermo Moreno, vem dificultando um alinhamento eficaz neste sentido, pois as políticas do comércio exterior argentino estão indefinidas.

O motivo pode estar ligado à falta de recursos resultantes de importações e exportações, fazendo com que o país de Cristina Kirchner tome medidas que deixam a situação ainda mais delicada. A queda das reservas financeiras decorrente dos gastos com importação de energia são as que maior pressão está provocando no panorama argentino.

Outro ponto que é importante ressaltar, é que o Brasil não assumiu ainda o seu papel de liderança, que lhe cabe no bloco. Os próprios empresários da Argentina esperam uma posição mais proativa do parceiro do norte.

É esperado que o nosso país encabece a reativação das unidades e principalmente a construção de novos acordos, inicialmente com a União Europeia e posteriormente com outros países fora do bloco. Pode parecer um paradoxo, mas, o Brasil assumindo a liderança e pressionando para o fim dos entraves comerciais, pode trazer benefícios com novos acordos bilaterais com os demais países do mundo.

Os técnicos dos países se reunirão nos próximos dias para alinhar as ações. Eles sabem o que deve ser feito, mas também conhecem bem os seus limites, determinados pelos governos do momento. Temos que apelar ao bom senso e conhecimento real do assunto dos mesmos para buscar as equações possíveis.

Aliás, vale a pena insistir, numa velha reivindicação da classe empresarial, para que os diferentes segmentos das classes produtivas dos países, tenham a possibilidade de participar destas reuniões e outras preparatórias, exatamente para poder contribuir com sugestões do que efetivamente é necessário e possível alinhar e construir, visando uma integração das cadeias produtivas.

É importante nesta fase, que os líderes substituam o viés ideológico e assumam uma posição mais lógica, que conduza todo o bloco ao desenvolvimento. Estamos frente à de um momento histórico que não pode ser ignorado. O mundo começa a caminhar mais rápido e é imprescindível que Brasil e Argentina não andem com o “freio de mão puxado”, assumindo assim uma importância maior no cenário mundial, para beneficio de cada país e do MERCOSUL como um todo.

Uma estratégia bem elaborada pode ser decisiva para o futuro dos países do continente, o Mercosul é uma forte ferramenta de evolução, e ainda conta com um plus no balanço consolidado, somos a única região do mundo que há mais de um século e meio, é uma zona de paz.

. Por: Alberto Alzuleta, presidente da Câmara de Comércio Argentina Brasileira de São Paulo.