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19/12/2013 - 07:09

Pode a tecnologia melhorar nosso sistema de saúde?

O sistema de saúde é uma preocupação recorrente do Brasil, e nas últimas semanas vimos o assunto voltar à pauta com o governo buscando novas soluções para melhorar o atendimento à população. Programas e iniciativas à parte, temos que entender a saúde de forma holística – não será uma fórmula mágica que irá mudar para sempre o setor, mas sim algumas mudanças estratégicas na mentalidade dos governantes, dos médicos e até mesmo dos pacientes.

O perfil do doente brasileiro mudou muito nas últimas décadas. Se antes apresentávamos um quadro mais parecido com países em desenvolvimento, onde patologias e epidemias são as principais razões das visitas aos hospitais e centros de saúde, hoje já encaramos um quadro muito mais parecido com o de países desenvolvidos, onde a maior parcela dos atendimentos é relacionada a doenças crônicas. Dados do Portal da Saúde, do Sistema Único de Saúde (SUS), apontam que mais de 75% dos atendimentos registrados anualmente já são decorrentes de doenças crônicas, grupo que inclui doenças cardiovasculares, neoplasias, doenças respiratórias, diabetes, e muitas outras – e exigem tratamento médico de médio e longo prazo, além de constante monitoramento. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, 82% dos gastos em saúde no mundo decorrem de atendimentos a problemas crônicos.

A mudança do paradigma da saúde deve levar a uma mudança na nossa forma de enxergar os problemas e entraves do sistema de saúde, e a adotar soluções que estejam mais alinhadas com os desafios atuais. E a tecnologia, corretamente aplicada, pode trazer um impacto significativo na qualidade de vida de todos os brasileiros, seja agilizando atendimentos, diminuindo o número de pessoas nas clínicas e hospitais, e trazendo inteligência na gestão de dados dos pacientes.

Mas o que significa aplicar tecnologia ao sistema de saúde? Estamos falando aqui de novos medicamentos e vacinas? De equipamentos mais baratos e eficientes? De terapias inovadoras, fruto do que existe de mais avançado em pesquisa e desenvolvimento para a saúde? Tudo isso também é tecnologia, mas existe outra mudança, ao mesmo tempo sutil e profunda, que pode revolucionar a maneira como vemos a saúde. É a chamada saúde móvel, ou mHealth.

Saúde móvel é aliar a prática da medicina ao uso de dispositivos móveis, incluindo aí não só smartphones e tablets, mas também todo o tipo de dispositivo pessoal capaz de se conectar a internet, incluindo novos computadores “vestíveis”, como relógios, óculos, capacetes, tênis e outros. A prática não consiste apenas na informatização dos espaços tradicionais, como clínicas e hospitais, mas na capacidade de realizar monitoramento e atendimentos não emergenciais à distância, utilizando recursos que já estão na mão de uma parcela cada vez maior da população.

A saúde móvel é entendida como a grande chave para o futuro da medicina nos países desenvolvidos, como os Estados Unidos ou o Japão, e os resultados já são palpáveis. Um exemplo simples é o caso do aplicativo HealthTap, lançado nos Estados Unidos em setembro de 2011, e que já reúne mais de 11 mil médicos em 82 especialidades. O HealthTap é uma rede de relacionamento e uma ferramenta de contato direta entre médicos e pacientes. O aplicativo pode ser baixado gratuitamente e, uma vez cadastrado na rede, você tem acesso a diversas informações sobre saúde e bem-estar, além de poder localizar médicos especialistas perto de sua localização atual, dentro dos Estados Unidos.

Mas a grande cartada do HealthTap é a habilidade dos usuários de fazer perguntas para a comunidade médica. As perguntas são respondidas diretamente pelos médicos, que são capazes de prover o usuário de informações importantes sobre seus sintomas. Uma vez que um médico responde a uma pergunta, outros profissionais podem concordar, discordar ou oferecer uma segunda opinião, fazendo uso da sabedoria das multidões para chegar a resultados precisos e seguros. No pouco tempo em que está funcionando, o HealthTap se tornou um dos mais acessados e eficientes apps de saúde nos Estados Unidos, salvando milhares de vidas e melhorando o bem-estar de incontáveis usuários.

Este é apenas um pequeno exemplo das possibilidades da saúde móvel. A digitalização do sistema de saúde permitirá que exames sejam examinados e avaliados sem que o paciente precise retornar ao consultório, consultas de rotina poderão ser feitas a distância e o tamanho das filas nos hospitais irá cair consideravelmente. Um estudo da consultoria PwC aponta que a adoção de uma política nacional de saúde móvel poderia levar acesso ao sistema de saúde para 28,4 milhões de brasileiros e reduzir os gastos do setor em até 14 bilhões de dólares, o que permitiria o tratamento de mais 4,3 milhões de pacientes por ano no Brasil. Os ganhos de produtividade com uma população mais sadia e menos ausente de suas posições de trabalho podem adicionar mais 4,6 bilhões de dólares ao PIB brasileiro.

Não é um sonho – a solução para a saúde é possível, mas passa por uma extensa reforma na maneira como encaramos o problema. E o primeiro passo da mudança é reconhecer que uma política de saúde não é medida pelo número de hospitais, nem pelo número de médicos – mas sim pelo número de pessoas saudáveis e produtivas dentro de um país. As bases tecnológicas estão prontas, e cabe a todos nós, como sociedade, utilizá-las com sabedoria e eficiência em prol do bem comum.

. Por: Ricardo Arantes, diretor de investimentos da Intel Capital para a América Latina.

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