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11/01/2014 - 08:46

“O Mapa que inventou o Brasil”

Mostra ambição portuguesa ao produzir um mapa diferente da realidade das fronteiras do País. Historiadora Junia Ferreira Furtado estuda a configuração do território brasileiro, antes mesmo da sua existência. Livro é vencedor do Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica - Clarival do Prado Valladares.

O “Mapa que inventou o Brasil”, de Junia Ferreira Furtado, lançado pela editora Versal, é resultado do trabalho ganhador do Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica - Clarival do Prado Valladares. A iniciativa da Organização Odebrecht completa, neste ano, uma década de apoio à pesquisa histórica e à produção editorial brasileira. Com 456 páginas, o livro “Mapa que inventou o Brasil” traz um rico acervo de personalidades retratadas na obra e ilustrações cartográficas entre 1697 e 1782. Durante os quase dez anos de desenvolvimento de seu estudo histórico, com início em 2003, a autora buscou documentos no Brasil, em Portugal, na França, na Alemanha e nos Estados Unidos.

A publicação traz como tema principal o mapa produzido pelo cartógrafo francês Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, Carte de l’Amérique méridionale, e sua importância nas negociações diplomáticas sobre os limites territoriais brasileiros disputados entre as coroas portuguesa e espanhola. Como ponto de partida, discute como dom Luís da Cunha, embaixador de Portugal, e J.B.B. D’Anville foram alçados à condição de oráculos, tanto por seus contemporâneos quanto por sucessivas gerações.

“O Mapa que inventou o Brasil” apresenta um retrato minucioso de dom Luís da Cunha, que apesar de ter passado a maior parte da vida longe da corte, procurava influenciar as grandes decisões da sua época, fazendo com que suas ideias chegassem a dom João V por meio de cartas, memórias e da prática política. Respeitado pelo rei, que naquela época já não ouvia seus ministros, era visto como sagaz e com uma agudeza de espírito.

O livro narra também a história de D’Anville, considerado o último grande cartógrafo de gabinete. Confinado em seu escritório, ele era capaz de produzir mapas de grandes extensões da terra, como países, continentes e planisférios, a partir da consolidação de fontes diversas. Era autor de mais de 211 mapas, manuscritos e impressos e de 23 obras de natureza geográfica.

Na época, o embaixador dom Luís da Cunha identificou o processo de deslocamento do eixo econômico do império a partir da descoberta das minas de ouro e diamantes no Brasil e sua importância para o futuro do reino. Para ele, este processo deveria ser conjugado com a mudança do centro político para a América portuguesa, mas para isso era preciso consolidar seu território em detrimento dos interesses dos espanhóis.

É neste momento que o livro ganha seu nome original. “A tese central dessa obra propõe que foi esse mapa que inventou o Brasil e não como usualmente se pensa, o contrário”, destaca Junia Furtado. Segundo a historiadora, a Carte de l’Amérique méridionale construiu uma nova imagem da América portuguesa, ao traçar uma linha imaginária de fronteiras, que não correspondia à realidade na época, mas sim os novos limites propostos por dom Luís da Cunha e as futuras fronteiras que o embaixador português tinha como ambição.

O cartógrafo D’Anville utilizou 420 mapas que, ao serem estudados, originaram a Carte de l’Amérique méridionale. Entre estes mapas, havia documentos de autoria dos irmãos Nunes, portugueses que documentaram um roteiro na corrida do ouro, diamantes e esmeraldas entre Salvador e Minas Gerais, mais precisamente na região antigamente conhecida como Vila Rica, hoje Ouro Preto.

Entre as curiosidades do processo de construção da Carte de l’Amérique méridionale e que consta no livro está o movimento da interiorização da América do Sul, que colocou os europeus em contato com diversos povos nativos, muitos deles até então desconhecidos.

O “Mapa que inventou o Brasil” mostra então a participação de Alexandre Gusmão que, após a morte de dom Luís da Cunha, foi encarregado de articular as negociações diplomáticas e apresentar a Carte de l’Amérique méridionale, porém com uma visão geopolítica e a estratégia diferente do embaixador.

Ao longo da obra, o leitor poderá conhecer todo o processo de produção da Carte de l’Amérique méridionale, de autoria de D’Anville, da qual foram produzidas três variações: uma versão preliminar, manuscrita, menor e menos detalhada, datada de 1737, feita para o uso privado do Duque de Orleans; outra bastante similar, mas sem a dedicatória, talvez de 1742; e uma versão maior (em três folhas, mais elaborada e datada, manuscrita e impressa, datada de 1748).

“O Mapa que inventou o Brasil” | Autor: Junia Ferreira Furtado| Editora: Versal Editores | 456 Páginas | Preço: R$ 249,00.

Autora-Junia Ferreira Furtado é mineira e graduou-se em História na Universidade Federal de Minas Gerais onde hoje é professora titular de História Moderna. Realizou mestrado e doutorado em História Social da USP e fez estudos de pós- doutoramento na Universidade de Princeton, Estados Unidos (2000) e na École des Hautes Études em Sciences Sociales, França (2008). Tem vários artigos e livros publicados sobre a História Moderna Luso-Brasileira, entre eles “Chica da Silva e o contratador de diamantes: o outro lado do mito”.

Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica – Clarival do Prado Valladares -Criado em 2003, o Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica - Clarival do Prado Valladares é uma iniciativa cultural da Organização Odebrecht conferida anualmente a um projeto de pesquisa inédito que trate de tema ligado à história do Brasil. A Organização Odebrecht é responsável pelos recursos necessários à realização completa do projeto selecionado, da pesquisa à edição de livro ilustrado – sempre com o apurado tratamento gráfico que caracteriza a coleção de Edições Culturais da Odebrecht.

As pesquisas patrocinadas pela Odebrecht resultam na edição de livros de arte, que são distribuídos para bibliotecas e entidades públicas e privadas, do Brasil e de outros países.

Em 2013, o Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica - Clarival do Prado Valladares completa 10 anos com 10 projetos premiados, sendo nove livros de arte publicados e um em processo de edição. As obras já foram reconhecidas por cinco prêmios Jabuti, um prêmio da Associação Brasileira dos Críticos de Arte - ABCA e um da Associação Paulista dos Críticos de Arte - APCA. Desde a sua criação, foram recebidas 1.400 inscrições em 23 estados brasileiros e investidos mais de R$ 8 milhões.

Entre os títulos já editados pelo Prêmio estão O comércio do Açúcar, de Daniel Strum; Theodoro Sampaio – nos sertões e nas cidades, de Ademir Pereira dos Santos; e História e Política na Bahia de Seiscentos: a História do Brazil de Frei Vicente do Salvador, da professora Maria Lêda Oliveira Alves da Silva, que recupera de forma fiel a tradição manuscrita da colônia portuguesa.

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