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31/01/2014 - 08:46

As Finanças comportamentais podem salvar o investidor brasileiro?

O Prêmio Nobel de Economia concedido a Daniel Kahneman, em 2002, destacou a economia comportamental e acelerou a aplicação de teorias alternativas aos mercados financeiros. Esta distinção tem aumentado a legitimidade das finanças comportamentais nos círculos acadêmicos e na prática diária dos gestores de recursos. Porém, poucos ainda utilizam esse processo analítico eficiente.

Hoje, as edições do “Journal of Finance” e da “Review of Financial Studies” contém artigos que não fazem a suposição dos investidores perfeitamente racionais, com habilidades cognitivas ilimitadas. Essa reflexão é baseada em descrições mais realistas do ser humano, com suas falhas e limitações cognitivas. Aliás, é fato que os indivíduos são jogadores e são influenciáveis sobretudo quando eles não são professionais como a maioridade dos investidores brasileiros.

Se tivéssemos que resumir os "problemas" ao tomar uma decisão no mundo das finanças modernas, diríamos que há dois pontos relevantes. O primeiro é a grande dificuldade de lidar com probabilidades corretas e, em seguida, é o caráter fundamentalmente do jogador, a maioria dos indivíduos. Este segundo aspecto não é necessariamente um problema em si, mas toda a teoria financeira clássica é construída sobre o pressuposto de aversão ao risco. Podemos, então, esperar algumas surpresas observando o processo de tomada de decisão. Atualmente, com todas as pesquisas realizadas neste aspecto, das quais grande parte são dedicadas a uma descrição mais apropriada do comportamento dos investidores e poupadores (envolvidos ou não diretamente nos mercados financeiros), surge uma nova discussão. Se individualmente não nos comportarmos como esperado, isso afeta os preços e retornos dos ativos financeiros? Sim. Erros muitas vezes vão na mesma direção. A crise dos “subprimes” de 2008 ou o “Krach” do setor da tecnologia em 2000 nos Estados-Unidos representam os melhor exemplos de comportamentos irracionais no origem da destruição do patrimônio financeiro.

Porém, até agora, os defensores irredutíveis dos mercados eficientes admitem um raciocínio simples. Se alguns investidores não são suficientemente "inteligentes", cometem erros aleatórios que se compensarão para chegar ao equilíbrio do mercado, podemos, então, agir como se esses erros não existissem. Infelizmente, muitos trabalhos empíricos têm mostrado que este não era o caso, e que os "erros" muitas vezes vão na mesma direção influenciavam os preços. Por exemplo, os investidores tendem a ser excessivamente otimistas, ao mesmo tempo, e, especialmente, uma vez que os retornos eram altos.

Eles, então, aumentavam a proporção investida em ativos de risco em suas carteiras, levando a um aumento nos preços devido à alta demanda, etc... até os dados financeiros fundamentais recuperarem a vantagem, invertendo a tendência, o declino era geralmente mais rápido do que o crescimento. Buscando tirar proveito dessa anomalia, os fundos de investimentos estavam utilizando a estratégia “momentum”, procuravam seguir essas tendências ascendentes e aparar quando o mercado virava de orientação. Nada mais do que um gosto pelo risco.

Mencionamos anteriormente o controle inadequado de probabilidades e o apetite pelo risco de uma parcela significativa de investidores. Estes dois elementos criaram um outro problema chamado "low volatility anomaly". Enquanto os modelos de gestão de recursos convencionais como “Markowitz" e o modelo de equilíbrio dos ativos financeiros forneciam uma relação positiva entre o retorno esperado e a variância (variabilidade de preços), as análises empíricas mostravam o contrário. Quer seja pela falta de relação ou por uma relação inversa. O “Financial Analysts Journal” publicou em 2011 um estudo mostrando que essa anormalidade persistente nos últimos 40 anos nos Estados Unidos. Entre as múltiplas explicações para este fenômeno incluem a preferência dos investidores por retornos distorcidos, ou seja, a atratividade dos ativos que podem ter uma elevada rentabilidade, mesmo com uma probabilidade muito baixa. Uma espécie de grande loteria! Esses títulos estão sobre pagados e, portanto, geram retornos baixos. Mas esses títulos também são muito voláteis. Portanto, a relação rentabilidade x risco se torna invertida. Mais uma vez, os fundos focados nesse problema através da construção de carteiras de baixo risco, deveriam, se a história se repetir, superar o índice em termos de rentabilidade ajustada ao risco.

Uma anomalia persistente é sempre uma descoberta perturbadora para um defensor da eficiência do mercado. Mas devemos sempre ter em mente que, entre os atores mais poderosos do mercado, existem instituições sujeitas a restrições regulamentares importantes, quer seja pela forte exigência do controle interno, quer seja a um estilo “benchmarking” que impede os gestores de "desviar" de forma unilateral. Por isso, não é tão surpreendente que as anomalias persistem. Devemos, então, escolher fundos administrados por investidores profissionais de convicções, que têm o hábito de apostar com firmeza nos títulos ou em ativos de sua preferência visando otimizar o retorno de nossas carteiras. Nosso maior risco quando se trata de mercado financeiro é de não controlar as nossas emoções e tomar decisões erradas. As finanças comportamentais representam hoje o único jeito para entender e controlar nossos vias psicológicas para maximizar o retorno de nossos investimentos. Com os desafios a vir nos mercados financeiros locais e as dúvidas ligadas às eleições, o investidor brasileiro está pronto para se adaptar?

. Por: Stéphane Olivo, Diretor da estratégia e da gestão da Naxentia Capital Gestão de recursos.

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