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14/02/2014 - 07:35

Henfil, o Salão de Humor de Piracicaba e o pincel de luta contra a ditadura

Quem entra pelo belo espaço do Engenho Central de Piracicaba, que abriga há anos o Salão Internacional de Humor, logo chega ao Armazém 14, que nos anos mais recentes é palco das exposições do que há de melhor em termos do humor gráfico mundial. O espaço leva o nome do cartunista Henrique de Souza Filho, o Henfil, falecido em 1988.

Perene ao longo de 40 anos, fundado em 1974, no auge da ditadura militar para ser mais um dos instrumentos de contestação ao regime que vigia na época, o Salão inspirou-se em ação similar, ocorrida em 1973, por iniciativa dos estudantes de arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie. O I Salão de Humor do Mackenzie, o primeiro do Brasil, foi realizado no Museu Lasar Segall.

Piracicaba tem sido, ao longo destas décadas, privilegiada por conviver e compartilhar com os mais expressivos autores do campo: caricaturistas, chargistas, cartunistas e quadrinistas.

Dentre os que contribuíram para o seu êxito está a figura sempre carismática do Henfil, que participou de comissões de organização, júris de seleção e premiação, criou cartaz alusivo ao Salão e foi homenageado pela cidade, quando da realização do 5º Salão, em 1978, com uma exposição individual sobre sua obra.

Pudemos homenageá-lo também recentemente no Mackenzie, quando do lançamento do nosso livro “Propaganda política, estratégias, personagens e história das mídias” (Editora Manhanelli). No livro, que organizei com a estudante do curso de jornalismo, Mariana Bedin, há um artigo intitulado “Humor engajado: charges do jornal O Pasquim no período da ditadura militar no Brasil”, assinado por ela e por Manuela Parisi Malachias, que analisam os acontecimentos da época através de charges de quatro grandes artistas: Ziraldo, Jaguar, Millor e Henfil. Vista com os olhos de hoje, a charge de Henfil reproduzida na página 145 da publicação mostra um homem vindo gritando “Vlado, saiu a anistia”, tendo à frente um tumulo com a inscrição “Herzog”. Bom que as novas gerações de jornalistas, publicitários e estudantes de comunicação continuem a reverenciar os que se insurgiram contra as arbitrariedades de 64.

Reverenciar a memória e o talento o Henfil, seja em Piracicaba no seu Salão de Humor, seja nas salas de aula do Mackenzie, continua sendo o nosso compromisso de manter viva, prante às novas gerações, um pouco da luta dos que perderam a vida para que pudéssemos ter, enfim, um regime democrático neste país.

Quando Gilberto Gil foi peso, Henfil fez uma charge memorável. Todos os seus personagens entravam na cadeia, com as mãos para cima e diziam “Somos todos viciados em Gil!”. Como especulou o jornalista Luís Zanin Orichio, recentemente em reportagem no jornal O Estado de S.Paulo, “de que lado estaria hoje? Difícil dizer e nunca é prudente falar em nome dos mortos. Mas por certo estaria espicaçando algum poderoso”.

. Por: Adolpho Queiroz, pós doutor em comunicação pela UFF/RJ, presidente do Conselho consultivo do Salão Internacional de Humor de Piracicaba e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP.

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