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06/12/2007 - 15:53

Tempestade perfeita


Não é sempre que ela acontece. Depende de uma conjunção rara de fatores climáticos. Aí se instala a chamada “tempestade perfeita”, expressão hoje comum na língua inglesa, com todos os seus efeitos desastrosos. É o que está acontecendo na educação brasileira. Parece que quase tudo dá errado, como se estivéssemos condenados ao atraso.

Veja-se a triste repercussão da pesquisa intitulada PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), promovida pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), agora divulgada. O Brasil não passou, entre 57 nações, do 52o lugar em Ciências, sendo a prova realizada por amostragem, para jovens de 15 anos que estejam cursando a sétima série do ensino fundamental. Alcançamos 390 pontos em um máximo de 800 (nota abaixo de cinco), o que significa reprovação.

Não é grave ficar atrás da Finlândia, de Hong Kong, da Itália ou da França. São países de sistemas educacionais fortes. Mas só ficar à frente de países como a Colômbia, Tunísia, Azerbaijão, Catar e Quirquistão é uma prova eloqüente de que há erros abissais. Quantas vezes isso precisará ser repetido?

Desde que foram destruídas as antigas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, onde eram realizadas as licenciaturas, entramos num parafuso que parece não ter fim. Os cursos de Matemática, Física, Química e Biologia passaram a ser dados em institutos próprios, naturalmente com mil dificuldades, e os resultados nos aproximaram da catástrofe. Bem dizia, em 1971, o professor Atila Magno da Silva, então diretor da FFCL/UERJ: “Sou contra essa mudança. Não quero ser coveiro da minha Faculdade.” Palavras que hoje recordamos como se fossem premonições.

É comum, na UERJ, onde há 23 mil alunos, entrarem 30 deles no curso de Física. Formam-se dois ou três, sendo que um, em geral, por falta de oportunidades de trabalho condigno, acaba indo completar os estudos nos Estados Unidos. Essa crise foi anunciada há anos, mas providências não ocorreram. O resultado é que os professores de ciências, nas escolas brasileiras, não têm formação específica. Ou seja, de cada dez pelo menos sete podem ser considerados leigos. O pior acontece em física e química, onde cerca de 90% dos docentes não tiveram formação apropriada. O que se pode esperar dos seus alunos?

Chega a ser cansativo repetir a mensagem de sempre. Não há estímulos adequados para os professores, quer do ponto de vista da formação, quer quanto aos salários, que continuam irrisórios. Na matemática, a ciência do raciocínio, não é muito diferente. No Brasil inteiro, só 70% deles têm formação adequada para lecionar no ensino fundamental. Ainda somos uma nação de grandes oportunidades para os curiosos ou os que não dispõem de outra alternativa de sobrevivência. Com a crise, sabe-se que sucessivos governos têm subtraído polpudas verbas da educação (caso da DRU, Desvinculação de Recursos da União). Em 10 anos foram mais de 50 bilhões de reais. Somente os ingênuos podem supor que isso não traria sérias conseqüências à qualidade do nosso ensino. Se há laboratórios em apenas 6% das escolas públicas brasileiras – e os mestres não têm a necessária capacitação – não se poderia esperar nada diferente do que hoje revela a pesquisa internacional. Que vergonha!

. Por: Arnaldo Niskier, Membro da Academia Brasileira de Letras e presidente do Conselho de Administração do CIEE/RJ | Contato: [email protected]

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