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Idoso, respeito e justiça

O Brasil é um país sem tradição de respeito espontâneo aos idosos. Prova disso são as placas expostas nos trens e ônibus para delimitar o uso de assentos, as filas preferenciais nas agências bancárias e a criação de uma legislação específica, o Estatuto do Idoso, que infelizmente vem sendo desrespeitada, de forma acintosa, em liminares concedidas pela Justiça. A maioria das pessoas que passou dos 65 anos sobrevive com baixas aposentadorias, acompanhadas de reajustes vergonhosos, e ainda sofre com o total desinteresse de empregadores, que fecham os olhos diante de pessoas inteligentes que têm de abandonar o mercado somente para cumprir a exigência da Previdência Social.

Mas, na hora do aperto, eles são os primeiros a ser chamados para ajudar. O último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que o número de famílias que dependem da renda dos idosos aumentou em 47,5% entre os anos de 1990 e 2000. Uma parcela considerável termina com a responsabilidade de cuidar de netos e bisnetos, seja por morte dos pais, ou desemprego, dissolução familiar e migração temporária.

Na maioria dos casos, a renda desses provedores não passa de um salário mínimo, fruto da aposentadoria. Alguns têm a sorte de conseguir outras fontes para elevar a renda e equilibrar o orçamento doméstico, que sofre um impacto com a chegada das crianças. Mas, infelizmente, são poucos os que conseguem retornar ao mercado em condições de igualdade com os trabalhadores mais jovens.

O problema não atinge apenas os mais pobres. Quem conseguiu reunir patrimônio suficiente para uma aposentadoria tranqüila também se vê às voltas com as despesas de netos. Isso porque a Justiça vem determinando, em muitos casos, que a pensão alimentícia deve ser paga pelos avós quando o pai não tem condições de sustentar um filho gerado fora do casamento ou de arcar com as despesas de pensão em casos da separação ou divórcio. Depois de educar o filho, chega a conta dos netos, para não deixá-los abandonados à própria sorte. Até que ponto essas decisões são justas?

Ocorre que nem sempre os idosos recebem o mesmo tratamento dos filhos. Tem gente que termina a vida dentro de um asilo, sem visitas ou atenção daqueles que um dia foram seus entes queridos. Outros recebem ajuda como se desfrutassem da caridade dos filhos, enquanto a esmagadora maioria é obrigada a fazer um controle rígido dos gastos. Essa situação de aperto mostrou sua face perversa no caso do crédito consignado, um programa lançado pelo governo e festejado pelos bancos. Dele resultaram milhares de aposentados endividados.

Volto a repetir que o idoso só terá voz ativa em nossa sociedade quando começar a se organizar em torno de projetos que valorizem sua experiência de vida ou então na hora em que sair às ruas para cobrar melhores condições de vida. Mas, principalmente, respeito – em casa, na rua, no posto de saúde, no hospital, nas repartições públicas e privadas, e perante a Justiça.

. Milton Dallari é consultor empresarial, engenheiro, advogado e presidente da Associação dos Aposentados da Fundação Cesp. O e-mail para contato é o [email protected] .

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