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27/02/2014 - 10:36

O “happening” das manifestações de rua não é o mesmo

Para que exista o acontecimento histórico, é fundamental que ele não seja apenas registrado, mas sim conhecido, e é nesse sentido que as ações dos novos movimentos sociais urbanos marcam posição, importância e assustam grande parte da população das cidades, onde suas ações tornam-se visíveis e violentas segundo pesquisa Datafolha. No ápice das manifestações de rua em junho/julho de 2013, o percentual de aprovação era de 81%; e a rejeição 15%. Em fevereiro de 2014 esses percentuais passaram para 52% e 48%, respectivamente.

Com estratégias de divulgação pela internet dos seus valores, posições, princípios e reinvidicações, em diversos idiomas, os novos movimentos sociais conectam e agrupam diversos coletivos, interessados em debater e questionar pautas da vida cotidiana. Um clima de euforia, de possibilidade de mudança propiciou discussões nas redes sociais sobre a mobilidade urbana, direito à cidade, corrupção, gastos governamentais desnecessários entre outros temas, levando ás ruas os mais variados coletivos e jovens de classe média.

Durante a década 1970, nas entranhas do Estado autoritário brasileiro, a necessidade de mudança para um Estado Democrático, cristalizou a organização e ação dos sujeitos/participantes em movimentos sociais. Esses movimentos utilizavam como mecanismo de luta as manifestações de rua e centravam suas lutas em torno dos direitos sociais. As ações coletivas foram tão efetivas que interferiram na Constituição de 1988. Desde a década de 80, “movimento social urbano” distingue coletivos autônomos, ligados a comunidades e causas específicas. Grupos punks, anarcopunk, entre outros se conectam com as organizações coletivas de luta por moradia, mobilidade urbana, saúde e educação. Como consequência observou-se o intercâmbio de experiências e a utilização da estratégia de luta pelo ato ou ação. Essa forma de luta utilizada desde o século XIX, proporciona grande visibilidade, entretanto, em contrapartida, temores e inquietações.

Nas manifestações de rua, nos meses de junho/julho de 2013, essas ações foram seletivamente destacadas e apresentadas pela grande mídia. A destruição de propriedades, confrontos violentos com a polícia, a participação marcante de grupos como os black blocs, acidentes, mortes e a centralidade em questões pontuais como a Copa do Mundo, acabaram deslocando as pautas reinvidicatórias anteriores. A associação aos atos de terrorismo e desordem, em uma sociedade disciplinada e pautada pela noção de ordem para se atingir o progresso, afastaram os jovens de classe média e vários segmentos sociais dos protestos. Apesar do índice de 52% de aprovação, as manifestações de rua em 2014, vem a cada dia, perdendo simbolicamente a sensação de happening.

. Por: Rosana Schwartz, historiadora, socióloga e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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