Arte e medicina transformam vidas no Hotel da Loucura

Batizado de Hotel da Loucura, o terceiro andar do Instituto Nise da Silveira foi transformado em um espaço de convivência para os residentes, onde são trabalhados a arte e a medicina. O local conta com sala de cinema, biblioteca, ateliê, boutique, sala para relaxamento, cozinha, refeitório e quartos com capacidade para receber até 60 pessoas.

A hospedagem é gratuita, voltada para pesquisadores, psiquiatras e pessoas envolvidas no trabalho com doenças mentais. Como contrapartida, o hóspede deve contribuir com projeto voltado para o tratamento dos pacientes do instituto. O hotel já recebeu importantes hóspedes, como pesquisadores do Instituto Tel Aviv, de Israel, e o pesquisador brasileiro Nelson Vaz, especialista em imunologia.

A nova abordagem já produz resultados, como o espetáculo teatral "Loucura sim, mas tem seu método", apresentado no dia 20 de março (quinta-feira), na Praça Tiradentes, como parte do Festival Carioca de Arte Pública. Os atores são residentes do instituto e frequentadores do hotel. Durante os ensaios das peças não há loucos nem doutores. Baseados na igualdade, os espetáculos do Hotel da Loucura já foram apresentados em cidades como Petrópolis, Búzios, São Paulo e Brasília.

“Eu era muito rebelde e agredia as pessoas. Hoje estou menos agressiva. O hotel me ajudou a crescer, a ser alguém e acreditar em mim mesma. Atuar me faz muito bem. Eu melhorei muito. As pessoas notam a melhora e a minha calmaria”, conta Miriam, frequentadora do hotel, que foi convidada para dar aulas de teatro no espaço.

Criado há dois anos, o Hotel da Loucura tira os pacientes da posição de espectadores para protagonistas de suas histórias, por meio da música, do teatro e das mais variadas formas de expressão. Referência no atendimento aos pacientes da saúde mental, o trabalho tem sido reconhecido mundialmente, com convites para palestras e oficinas em centros de saúde mental de todo o mundo.

O trabalho desenvolvido no espaço é inspirado na luta da médica Nise da Silveira pela humanização no tratamento psiquiátrico. Nos anos 40 e 50, ela criou ateliês de pintura e escultura, utilizando a criatividade e a expressão artística como tratamento aos pacientes. Na época, o procedimento era o eletrochoque, o confinamento e a lobotomia.

Para o médico Vitor Pordeus, idealizador do Hotel da Loucura, o segredo do sucesso é o tratamento coletivo: Esse é o diferencial. Não adianta juntar as pessoas para cultivar a própria doença. Usando a música, o teatro, a dança, a poesia e o discurso, conseguimos reverter um caos psíquico um caos social, um caos comunitário.

. O espaço recebe doações de objetos, como roupas, sapatos, utensílios de cozinha e aparelhos de som. Os interessados podem entrar em contato pelo telefone (21)3111-7535, de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h.