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28/03/2014 - 07:18

Considerações sobre o suicídio

O Escritório Nacional de Estatísticas do Reino Unido revelou, recentemente, que os homens se suicidam mais do que a mulheres. Um novo dado que reascende uma antiga discussão: o suicídio. Todas ou quase todas as religiões condenam o suicídio. O princípio dessa condenação reside na ideia de que o homem não é dono da própria vida. Portanto, não lhe caberia à decisão de retirar-se da vida. E, talvez, venha daí nosso preconceito e nossa condenação moral deste ato. Note-se que sempre nos referimos ao suicídio como algo proibido e vexatório, (apesar de não ser mais considerado crime - e qual seria a punição se ainda o fosse?) dizendo que fulano “cometeu” suicídio.

O suicídio não é tema apenas das religiões, mas também da Filosofia. Pensar se “a vida vale a pena ser vivida”, talvez seja a mais importante das questões filosóficas. O Estoicismo, por exemplo, uma corrente filosófica da Antiguidade, condenava o suicídio porque via nele uma atitude antinatural. Curiosamente, um de seus pensadores, Sêneca, suicidou-se, mas não porque “a vida não valia a pena” e, sim, porque deveria cumprir a decisão do imperador romano. Neste exemplo vemos que o suicido possui diferentes causas e diferentes formas ao longo da história.

Do ponto de vista psicológico, o suicídio pode ser visto como uma impossibilidade do indivíduo, uma espécie de meio de caminho, onde ele não consegue nem ir adiante, nem voltar. Não é por acaso que as pontes são lugares escolhidos para o suicídio. Além de suas características físicas que facilitam à pessoa a morte de si mesmo, simbolicamente ela representam o “não-lugar”, o trânsito, a ligação entre uma cidade e outra ou entre dois bairros. Há nas histórias de suicídios um impedimento para ser o que se é tão forte como para não ser, resultando deste conflito o ato suicida. Um ato de saída do conflito, de mitigação da dor gerada por este conflito. Muitas das vezes o suicida não quis propriamente a morte, mas a eliminação da dor que só seria possível pela eliminação da própria vida.

Quando lemos que homens se suicidam mais que mulheres, pensamos em várias causas porque é difícil pensar em apenas uma. Primeiramente os homens aprendem desde a infância a não pedir ajuda, não revelar suas fraquezas, ignorar suas dificuldades, ignorar sua solidão. Essas atitudes não são exclusivamente de homens, mas são mais comuns no universo masculino. Os homens sofrem também com as expectativas sociais de sucesso material, provimento do lar, destaque profissional e outros.

Mas, o que ainda é um problema no enfrentamento do suicídio, é o preconceito que o ronda, o tabu que dele se faz e, por fim, a falta de estatísticas claras e divulgação dessa questão que se revela, cada vez mais, uma questão moderna.

. Por: Aurélio Melo, psicólogo, doutor em Desenvolvimento Humano pela USP, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. | Perfil-A Universidade Presbiteriana Mackenzie está entre as 100 melhores instituições de ensino da América Latina, segunda a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação.

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