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07/05/2014 - 08:51

Governos petistas e governos militares pós 1964

Há um traço comum na política implementada pelos governos militares, a partir de 1967, e a gestão do Partido dos Trabalhadores. Esse traço comum é a adoção, no campo econômico, do receituário desenvolvimentista. Os governos militares tinham como variável precípua para estimular a demanda: o investimento. No receituário das gestões do Partido dos Trabalhadores, a variável precípua é o consumo. Isso é realizado por meio da expansão do gasto público, estímulo ao crédito e elevação do poder de compra da população de estratos mais simples da sociedade (por meio de programas sociais e ganhos reais nas elevações anuais do salário mínimo).

Uma consequência da boa gestão das contas públicas, realizadas de 1999 em diante, foi a melhor avaliação dessas contas pelas agências de rating. Isso permitiu, por conseguinte, uma maior demanda por títulos públicos federais, cuja consequência foi o alongamento da dívida média e a redução das despesas com juros. A justifica para isso é porque determinados fundos de pensão e de investimentos estrangeiros só podem comprar títulos de países que seja “graus de investimento”. Do mesmo modo, a melhor visibilidade do país permitiu que um determinado grupo de empresas brasileiras pudesse captar recursos a custos mais baixos no exterior. A elevada entrada de dólares no país gerou uma apreciação cambial. A taxa de câmbio real-dólar estava em torno dos R$ 1,56/US$ em julho de 2011 (PTAX).

Essa mesma entrada de dólares, entretanto, desestimulou a competição com produtos similares fabricados no exterior. Isso assim ocorreu uma vez que o produto brasileiro, no exterior, encareceu. Ao mesmo tempo em que o produto externo, no Brasil, ficou mais barato, quando o câmbio se apreciou. Assim, com estímulos contínuos à demanda, via expansão do crédito, salários mínimos reajustados com ganhos reais e elevado gasto público; ao mesmo tempo em que os custos fabris se elevavam pelas despesas de logística caras na hora de distribuir a produção, elevações reais do salário mínimo e câmbio apreciado, o modelo foi mostrando seu esgotamento na área produtiva. Principalmente, o setor industrial que sentiu de forma mais forte o seu efeito.

Sinais de inadimplência começam a surgir a partir de fins de 2011, início de 2012 (o sistema financeiro trabalhou, ao longo do ano de 2012, com taxa de inadimplência de cerca de 11%; isso reduziu os resultados dos bancos, além de implementarem um maior controle na concessão do crédito). Outrossim, os déficits comerciais se elevam, batendo recordes a partir de 2013. O que se explica pela menor competitividade do produto brasileiro no exterior, devido aos elevados custos de produção, ao câmbio apreciado e a redução dos preços internacionais dos produtos agrícola.

Assim, escasseia-se a entrada de dólares no país. A consequência foi a depreciação da taxa cambial. Na presente data, o câmbio encontra-se em R$ 2,20 a R$ 2,25 por dólar. Com picos, em passado recente, quando no 2º semestre de 2013 e 1º trimestre de 2014, de R$ 2,45 por dólar. Entretanto, com as elevadas dívidas privadas em dólar, tem-se mais uma variável difícil para o governo administrar. Como os governos militares que internalizaram as dívidas de empresas privadas, no passado, mais uma vez, um modelo baseado na demanda sofre com a expansão de dívidas privadas. Isso se justifica pelo fato de as previsões das instituições financeiras para o câmbio projetarem uma cotação real-dólar em torno de R$ 2,60 ao fim de 2014 e R$ 2,80, ao fim de 2015. Portanto, com despesas com juros e amortizações mais elevadas em reais, ainda que estáveis em dólar, estima-se uma queda na lucratividade dessas empresas em seus resultados futuros. (Em verdade, a própria apreciação cambial existente entre o câmbio vigente, quando da captação dos recursos no mercado externo, e o câmbio de 2012 para cá já reflete a queda na lucratividade dos resultados financeiros empresariais.) O que torna menos atraente novos investimentos. Essas dívidas externas privadas somadas às incertezas do cenário externo e da gestão política explicam boa parte do baixo investimento privado existente hoje, no país. Por conseguinte, uma vez mais na história recente, presencia-se, no país, o esgotamento de um modelo desenvolvimentista.

. Por: Marcio Nunes, professor do curso de economia da Faculdade Mackenzie Rio. | Mackenzie -A Universidade Presbiteriana Mackenzie pelo segundo ano consecutivo (2012/13) foi avaliada como a melhor instituição de ensino privado do Estado de São Paulo, de acordo com o Ranking Universitário Folha de São Paulo\RUF. O Mackenzie ainda está entre as 100 melhores instituições de ensino da América Latina, segunda a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação.

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