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Transformações mundiais recentes e mercado de trabalho

Nas últimas três décadas têm ocorrido mudanças substanciais no ambiente econômico que tem provocado alterações importantes nas relações econômico-financeiras internacionais e nas formas de organização dos mercados.

Tais mudanças foram cunhadas sob o nome genérico de globalização, entretanto, seus contornos mais marcantes referem-se aos processos de abertura comercial e financeira e às permanentes influências sobre o desempenho do padrão de crescimento das economias nacionais, dado o quadro de excessiva vulnerabilidade externa de economias em desenvolvimento.

O texto apresenta uma breve síntese dos principais movimentos que marcam essas transformações recentes e analisa suas implicações sobre o mercado de trabalho.

As mudanças no ambiente econômico - Os anos 1970 foram marcados pela crise energética, provocada pelos dois choques do petróleo (1973 e 1979), o que provocou a necessidade de ajustamento, em geral recessivo, das economias nacionais. Além disso, destaca-se a ruptura do padrão dólar-ouro pelos Estados Unidos, inaugurando o sistema de taxas de câmbio flutuantes, o que provocou a instabilidade das paridades entre as diversas moedas. Destacam-se também, a intensificação das exportações e o subseqüente processo de internacionalização bancária.

Durante a década de 1980, a crise da dívida latino-americana foi um dos fatores que impediu o desenvolvimento pleno das economias da região. Boa parte dessa crise foi em função da elevação abrupta da taxa de juros norte-americana, que impôs a economia internacional um severo processo de ajustamento recessivo.

Dada a combinação de taxas cambiais flutuantes e juros em elevação, o nível de instabilidade dos mercados aumentou substancialmente, o que implicou na necessidade de se criar mecanismos de proteção dos negócios frente às intempéries econômicas.

Em função do desenvolvimento observado nas áreas de telecomunicações e informática, houve o surgimento dos mercados de derivativos e inovações financeiras como forma dos investidores se protegerem das instabilidades.

O resultado disso foi a gradativa consolidação da importância da esfera financeira sobre a esfera produtiva, o que tem impacto decisivo sobre os processos de geração de trabalho.

Os anos 1990 foram marcados pela retomada das idéias liberais: a crise do keynesianismo² em meados dos anos 1970 e a crise da dívida na América Latina nos anos 1980 abriram espaço para o surgimento do que se convencionou chamar de Consenso de Washington.

Economistas e técnicos das instituições multilaterais com sede em Washington e outros das economias latino-americanas reuniram-se no ano de 1989 para repensar o processo de desenvolvimento dos países da região. Em síntese, o entendimento do grupo reunido foi o de que a crise se deu em função da excessiva intervenção estatal e a má utilização dos instrumentos de política econômica.

As soluções propostas tratavam de promover os processos de privatização e abertura de mercado, de redefinir o papel do estado e garantir os direitos de propriedade, ou seja, um retorno às idéias liberais, baseadas na defesa do livre mercado e na redução do intervencionismo estatal.

Todas essas mudanças provocaram impactos significativos sobre o funcionamento das economias: aumento da instabilidade dos preços relativos e das taxas de juros; aumento do nível de incerteza; as decisões de negócios foram afetadas negativamente; mudança de foco da política econômica; aumento da importância da esfera financeira sobre a produtiva; enfoque da gestão macroeconômica no curto prazo.

Os impactos que serão destacados tratam das mudanças provocados no mercado de trabalho. Isso será discutido a seguir.

Os novos paradigmas do mercado de trabalho - Pode-se definir mercado de trabalho como o local de compra e venda dos serviços de mão-de-obra. No mercado de trabalho, trabalhadores e empresários se confrontam, com algum grau de intervenção governamental, negociam e determinam salários, empregos e condições de trabalho.

Sua importância é decisiva para o ambiente econômico, pois influencia os níveis de produção, demanda agregada, o nível global de emprego, o cotidiano dos trabalhadores, o nível de produtividade, a pobreza, dentre outras variáveis.

O seu funcionamento é afetado pelo ambiente. Em geral, desequilíbrios macroeconômicos impactam negativamente sobre o mercado de trabalho. Podem ocorrer quedas do salário real, elevação do desemprego, deterioração das condições de vida dos trabalhadores e das condições de trabalho, etc.

Por essas razões, o mercado de trabalho é sensível às variações do nível de atividade econômica: se há crescimento desse nível, os salários reais sobem, a produtividade aumenta, ampliam-se as oportunidades de trabalho (seja pelo aumento de vagas ou por novas ocupações), aumenta a qualificação dos trabalhadores e os níveis de rotatividade. Numa fase recessiva do ciclo econômico, há perda de dinamismo e desarticulação do mercado.

Em função disso, todas as transformações recentes da economia mundial descritas acima tiveram um papel decisivo na reorganização do mercado de trabalho. Os novos paradigmas dominantes apontam uma tendência para o conhecimento e a tecnologia como fontes do processo de crescimento econômico.

Num ambiente desse tipo, defende-se a tese de que os ambientes estão em mudança permanente e, portanto, há necessidade de aprender e desaprender com a mesma velocidade, além de se ter um grau de especialização e flexibilidade superiores para se competir no mercado.

Na chamada sociedade pós-moderna ou pós-industrial, há mudanças estruturais no mercado de trabalho, como o deslocamento da força de trabalho da indústria para o setor de serviços, a passagem do trabalho assalariado para o trabalho autônomo, a necessidade de se promover o trabalho em equipe em detrimento ao trabalho isolado, os salários indiretos ganham mais força no novo ambiente, por exemplo.

Considerações finais - As características do novo paradigma do mercado de trabalho podem ser sintetizadas da seguinte forma: necessidade de se adquirir habilidades e competências específicas; promoção da ética e da cidadania; aumento da competição no mercado dado seu caráter globalizante; o conhecimento, a informação e a tecnologia assumem um papel decisivo como fontes do crescimento econômico; o capital tradicional cede espaço para o capital humano e intelectual; os mercados possuem clientes cada vez mais exigentes; há um rápido avanço tecnológico.

Portanto, em função de todos os processos de mudança em curso nas últimas décadas, um dos maiores desafios para os formuladores de políticas públicas é o de promover o desenvolvimento econômico de forma sustentável buscando a dinamização do mercado de trabalho levando-se em consideração que há uma necessidade cada vez menor de emprego de mão-de-obra por unidade de produto e de investimento. Ou seja, os níveis de produtividade aumentam, elevando os padrões de vida da população, porém, com menor utilização do trabalho humano.

. Ricardo Senna: Economista, Mestre em Economia Política pela PUC/SP e consultor de negócios.

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