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O caso GOL e a competitividade nacional

Temos assistido, nos últimos tempos, mais um evento que ganhou destaque na mídia nacional e internacional devido tanto ao número de vidas ceifadas, quanto à ineficiência de gestão que permeia nossas instituições públicas.

O trágico acidente envolvendo a Gol e a Embraer - empresas privadas que, reconhecidamente, são exemplos de “Best Practices” - nos serve de reflexão, não como ponto de partida somente, mas, como conseqüência inequívoca, em maior ou menor grau, do que vez por outra pode se creditar ao chamado custo Brasil.

Como empresas de ponta se envolveram neste triste episódio? Quem é, ou, quais são os responsáveis diretos no caso? Por que a segurança aérea nacional está sendo tão questionada? Não tenho neste artigo o objetivo de responder a estas perguntas, mas sim, o de levantar pontos de deficiência crônica que subjaz a imensa maioria das políticas e processos culturalmente arraigados em nosso país e suas conseqüências para a competitividade da economia nacional. Para os interessados em casos empresarias de sucesso a Gol é um claro exemplo, pois, está sustentada estrategicamente em oferecer serviços de qualidade a preços acessíveis. Isso só foi possível pela habilidade de seus gestores em gastar pouco em processos não críticos, ou, relacionados às atividades meio ao mesmo tempo em que gastam bem, ou seja, investem maciçamente em processos criadores de valor superior para a sociedade (processos fim, ou centrais).

Na prática isso se traduz em ações que privilegiam investimentos maciços em tecnologia e na contratação e treinamento de pessoas altamente qualificadas, de forma a propiciar resultados maiores em eficácia e produtividade.

Apenas a título de exemplo, a média de funcionários em solo por avião nas empresas aéreas brasileiras é de 170, a Gol utiliza apenas 100 e com melhores índices de produtividade geral. A esta forma estratégica de gerir uma empresa dá-se o nome de estratégia genérica de custo, metodologia estratégica proposta Michael Porter há várias décadas e ainda mundialmente utilizada.

Para esclarecer de forma lógica a análise comparativa entre o case Gol e a gestão pública é preciso avaliar o pensamento que orienta a tomada de decisão do governo federal no que tange a gestão do transporte aéreo nacional para buscarmos então, uma possível relação com o acidente em questão. De fato a comissão militar que atua na investigação do acidente analisa e divide prioritariamente as possíveis causas em dois aspectos, o humano, ou seja, nas condições psicológicas e fisiológicas do envolvidos e ainda, os aspectos materiais, relacionados a segurança de vôo.

Apresento aqui dados referentes ao Orçamento Geral da União destinado à segurança de vôo no território nacional: estavam previstos no orçamento investimentos da ordem de R$ 240, 2 milhões e só foram realizados R$ 55 milhões, ou seja, apenas 22% do previsto. Sobre o total no orçamento do Programa de Proteção e Segurança de Vôo, estimava-se investimentos de R$ 531,6 milhões, entretanto, foram investidos apenas R$ 172 milhões, que equivale a 32% do estabelecido. Todos estes dados podem ser consultados na sala de imprensa da Força Aérea Brasileira através do site www.contasabertas.com.br

Vale lembrar que a maior parte é gasto em despesas correntes, diárias, passagens aéreas, comida para cachorro, sementes e mudas de plantas; portanto despesas não relacionadas com as atividades fim do programa.

Em relação aos gastos com equipamentos (aparelhamento) estavam previstos no orçamento investimentos de até R$ 77 milhões, mas o realizado foi de R$ 8,8 milhões: 10, 2% do previsto. Segundo o comandante Célio Eugênio Júnior, assessor de segurança de vôo do Sindicato dos Aeronautas, há falta de investimento em tecnologia. “Há lugares no país em que não existem os radares de ponta que só estão instalados em Brasília e São Paulo” afirma o comandante.

Com relação à reciclagem, pode-se dizer que a falta de treinamento e atualização dos técnicos responsáveis pelo controle do tráfego aéreo é uma reclamação unânime entre especialistas do setor. Portanto fica evidente que a mesma gestão de custos, tão bem estruturada e basilar no sucesso da GOL, pode ter sido um dos fatores preponderantes na fatídica data de 29 de setembro.

Gastar mal, alocar recursos em áreas não críticas ou centrais de um negócio é sempre fatal para uma empresa. No caso de um país, isto se traduz em elevada percepção de risco para o investidor, no aumento do déficit público e conseqüentemente, em aumentos de impostos, o que inexoravelmente implica na redução da competitividade.

Podemos citar também, de forma complementar, a precariedade na conservação das estradas brasileiras e o custo agregado nos produtos e serviços daí advindos como mais um elo negativo de nossa cadeia produtiva, apenas para permanecermos no contexto do transporte.

Temos aqui novamente um dos pilares de sustentação do desenvolvimento de uma sociedade mais justa e uma grande lição que a nação insiste em ignorar: Arrecadar menos e arrecadar melhor, de forma a permitir o equilíbrio nas contas públicas, é a base de qualquer política socialmente sustentável. Só então poderemos investir bem otimizando resultados ao priorizar os temas contemporâneos e centrais da “Fábrica Brasil S.A”: Educação, Saúde e Segurança. De outra forma, estaremos sempre competindo nas divisões inferiores da economia mundial pagando a diferença com muito suor, lágrimas e sangue.

. Marcelo Prates é graduado em Administração de Empresa, Mestrando em Estratégia Empresarial pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em Marketing Estratégico pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), com MBA em Gestão de Equipes de Alto Desempenho pela Fundação Getúlio Vargas e Ohio University. Prates é palestrante corporativo e consultor da Microlins SAT, com palestras ministradas em português, inglês e espanhol. Além disso, é professor de pós-graduação, na área de negócios.

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