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06/06/2014 - 07:46

Por que a Educação Financeira está só enxugando gelo?

Nos últimos anos poucos temas ganharam tanto destaque na mídia quanto a educação financeira. Surgiram novos livros, cursos, palestras e até mesmo uma iniciativa estatal, a ENEF (estratégia nacional de educação financeira).

Porém, mesmo com tamanha iniciativa a saúde financeira dos brasileiros continua precária. De acordo com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPB Brasil) até o final de abril de 2014, cerca de 53,8 milhões de consumidores se encontravam com “nome sujo” em todo país. Já o percentual de famílias brasileiras que relataram ter dívidas entre cheque, pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro alcançou 62,3% em abril segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).

Este aparente paradoxo acendeu até um debate acerca da eficiência da educação financeira na prática. O exemplo mais recente foi a declaração do professor de psicologia e econômica comportamental da Duke University, Dan Ariely, autor de diversos best-sellers que afirmou “não acreditar muito em educação financeira”, considerando que é muito difícil ensinar as pessoas a lidarem melhor com o dinheiro.

Mas afinal a educação financeira é ou não eficiente? A resposta mais correta seria: depende!

Em um cenário de inflação de preços contínua a educação financeira se restringe literalmente a “enxugar gelo”.

A inflação ocorre quando há um aumento na quantidade de moeda na economia e uma das suas consequências mais visíveis é a alta generalizada dos preços, ou em outras palavras a perda do poder aquisitivo da moeda.

A exposição contínua a depreciação monetária fortalece determinados hábitos e produz uma série de consequências, dentre:

1. O crescimento estatal - Um dos motivos do governo aumentar a oferta monetária é justamente para financiar de forma indireta seus déficits orçamentários através da emissão de títulos da dívida, o que permite um crescimento para muito além do que seria possível.

2. Punição severa aos poupadores - Quem entesoura moeda ou obtém rentabilidades abaixo dos índices de preços nos investimentos tem seu poder aquisitivo reduzido.

3. Incentivo ao endividamento - Além de mais acessíveis, as dívidas se tornam mais baratas do que seriam em um ambiente sem inflação.

4. Incentivo ao consumo presente - Biologicamente o ser humano já apresenta como característica a dificuldade de abrir mão de recompensas de curto prazo, o que é potencializado em um cenário de fácil acesso ao crédito e preços subindo de forma contínua. Fica irresistível demais não optar pela compra hoje do que no futuro a um preço bem maior, mesmo que isso implique em se endividar.

5. Maiores exigências para a aposentadoria - Um homem com seus 25 anos de idade e que esteja planejando se aposentar daqui 30 anos, precisa levar em conta uma depreciação monetária de no mínimo 4% ao ano, isso sendo muito otimista. O que o obriga a poupar hoje 3 unidades monetárias para poder ter o poder de compra de uma unidade atual quando ele se aposentar.

6. Maior tempo dedicado - A inflação de preços exige um maior tempo dedicado ao planejamento financeiro, já que não basta constituir um patrimônio é fundamental saber como manter o poder aquisitivo dele ao longo dos anos.

Em um ambiente em que o próprio governo não consegue equilibrar suas contas, em que o poupador é penalizado, em que o endividamento é incentivado, não há livro, curso ou palestra que seja capaz de alterar determinados hábitos cada vez mais enraizados na sociedade. É realmente uma pena que a extensão do mal da inflação seja tão subestimado.

. Por: Richard Rytenband, economista pela PUC-SP e tem MBA em Gestão Financeira com ênfase em Investimentos e Mercado de Capitais pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). É também palestrante e Professor de Economia e Finanças. Comprou sua primeira ação na bolsa de valores com 14 anos e desde então tem atuado no mercado financeiro. É credenciado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para divulgar análises de valores mobiliários, seja no âmbito técnico ou fundamentalista. Possui certificações do mercado financeiro da Ancord, Anbima: CEA; ICSS: Todas; Apimec: Gestor de RPPS, Anbima CPA-20, todas da BM&F e CNPI-P da Apimec. Cofundador e Coordenador Pedagógico da InfoPRO Timos e Timos ®. É o criador e produtor, ao lado de Felipe Okazaki, dos jogos educativos: “A Pequena Grande Crise (2008), A Pequena Grande Crise 2: A Ameaça Agora é Outra (2012), [www.apequenagrandecrise.com.br], A Pequena Grande Crise 3: A Queda do Gigante [www.pgc3.com.br] e Ciladania [www.ciladaniasp.com.br].

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