Futebol e história: uma eterna ligação

Desde que aprendeu a andar sobre duas pernas, o homem começou a chutar algum eventual objeto que se apresentasse no seu caminho. Assim, os primórdios do futebol, tão antigos quanto a humanidade, estavam dados. Existem estudos que apontam a existência de alguns tipos de jogos na antiguidade chinesa e japonesa que se assemelhavam ao futebol. Os gregos clássicos, entre uma lição de filosofia e a elaboração de uma obra monumental, parece que já batiam uma bolinha, ou algo parecido. O mesmo se pode dizer dos tempos medievais, nos quais verdadeiros exércitos em lugar de equipes se enfrentavam para chutar uma espécie de bola nas praças públicas italianas, e não raro eliminavam ou matavam as jogadas literalmente assassinando o adversário.

O mundo que passou a organizar toda a sociedade em classes, com precisos interesses, que procurou sair da imprecisão das avaliações emocionais para o campo das certezas racionais, este mundo da revolução industrial, na passagem do século XVIII ao XIX, foi o mundo que criou também o futebol moderno. Que o dotou de normas precisas, tal como criou regras também para delimitar as ações político-sociais. Nasceram quase ao mesmo tempo as Constituições para os Estados Nacionais e as disposições organizatórias do ludopédio. Tanto assim que o estabelecimento das primeiras regras futebolísticas na Inglaterra – justamente o país das grandes transformações capitalistas – datam do ano de 1848, quando toda a Europa entrava em ebulição revolucionária para construir padrões de vida social e política mais precisos. Em 1885, foi criada a International Board, a primeira instituição para impor uma ordem ao futebol internacional, ao mesmo tempo em que os principais países da Europa entravam em acordo entre si para, também com rígida regulamentação, fazer a partilha do mundo (Conferência de Berlim). A história universal e a história do futebol se interpenetram. Seus espíritos também.

Contemporaneamente, quando se discute e se almeja um sistema democrático universal, mais uma vez esta íntima correlação fica evidente: daqui a poucos dias o mundo todo vai parar para assistir uma competição/festa em que, igualitariamente, o competidor que tiver mais méritos levará a glória de campeão. Democraticamente.

. Por: Alexandre Hecker é professor de História Contemporânea da Universidade Presbiteriana Mackenzie.|Perfil da Mackenzie -A Universidade Presbiteriana Mackenzie pelo segundo ano consecutivo (2012/13) foi avaliada como a melhor instituição de ensino privado do Estado de São Paulo, de acordo com o Ranking Universitário Folha de São Paulo\RUF. O Mackenzie ainda está entre as 100 melhores instituições de ensino da América Latina, segunda a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação.