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20/12/2007 - 08:29

Reajuste de preços de combustíveis alimenta inflação na China

Até outubro, o governo chinês manteve sua população alheia à alta do preço internacional do petróleo, que se aproxima dos US$ 100 o barril. O controle de preços impediu que os produtores repassassem os aumentos de custo aos consumidores de combustível. Depois de meses de prejuízos aos refinadores e subseqüente escassez de combustíveis em postos espalhados pelo país, em 1º de novembro o governo finalmente permitiu reajuste dos preços do produto no mercado doméstico de até 10%.

O reajuste, no entanto, além de servir de pouco alívio para as grandes e pequenas refinadoras, visto que não compensará as perdas do setor acumuladas até outubro, veio em momento inoportuno para o governo chinês, que luta desde agosto com a alta nos preços ao consumidor. Em agosto e novamente em outubro, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) registrou aumento de 6,5% em comparação ao mesmo período do ano anterior. O pico inflacionário teria origem central, segundo analistas do Goldman Sachs, no aumento da liquidez marginal, resultado de política monetária menos restritiva e de superávit comercial expressivo.

Arthur Kroeber, diretor do Dragonomics Research, por outro lado, atribui a alta do IPC a deficiências estruturais na cadeia produtiva e distributiva, especialmente no interior e regiões mais pobres, que impedem que a oferta de bens e serviços responda adequadamente a variações na demanda. A alta de agosto a outubro, particularmente, seria explicada prioritariamente pela crise de oferta de carne suína, que “contagiou” consideravelmente o preço de outros alimentos. Como ressaltado pelo economista, no entanto, a alta no preço desses alimentos não se espalhou significativamente para outras categorias de bens comerciáveis.

Porém, ao contrário dos alimentos, o risco de “contágio” do aumento do preço dos combustíveis é alto. O que se observa é o reajuste de combustíveis afetando pesadamente não apenas a cesta de consumo, mas os custos de produção e serviço.

O IPC de novembro atingiu crescimento de 6,9% em relação a 2006, 0,4 ponto percentual acima da média estimada por analistas do Bloomberg. O Índice de Preços ao Produtor (IPP), por sua vez, cresceu 4,6% em relação a 2006, mais de 1 ponto percentual acima da estimativa do Goldman Sachs. Os alimentos, que sofreram apreciação geral de 18,2%, permanecem como principal motor por trás do crescimento do IPC. Contudo, os preços dos combustíveis, que cresceram mais de 5% e representam, junto de partes de automóveis, aproximadamente 9% da cesta do cálculo do IPC, não ficam muito aquém.

Também ao contrário da elevação do preço de alimentos, que teve impacto maior sobre as regiões mais pobres do país, o aumento do preço dos combustíveis deve ter impacto mais eqüitativo. Outra possibilidade é que este tenha maior incidência sobre províncias mais abastadas, nas quais combustíveis têm maior expressão na cesta de consumo e cuja produção é mais intensiva em energia.

A previsibilidade de tais conseqüências suscita dúvidas quanto ao porquê do reajuste nesse momento de conjuntura macroeconômica desfavorável. Em 2005, quando da última crise de escassez e racionamento de combustíveis, o barril acabava de ultrapassar a marca dos U$ 70 na bolsa de Nova Iorque e o crescimento do IPC beirava os 2% anuais. Naquele ano então, a estimativa de que o aumento dos preços de combustíveis poderia elevar esse ritmo em até 0,6 ponto percentual foi suficiente para postergar o reajuste até maio de 2006, apesar de protesto por parte dos produtores, distribuidores e consumidores. O governo chinês preferiu lidar com a situação por meio de imposição de tarifas sobre o consumo do produto e medidas administrativas variadas.

Ainda que seja possível argumentar que a maior rapidez com a qual o governo cedeu ao reajuste em 2007 se deva às lições aprendidas sobre a ineficácia do controle administrativo como estabilizador de preços, deve-se apontar para outros fatores que provavelmente influenciaram tal decisão. Em primeiro lugar, é necessário ressaltar as conseqüências potencialmente positivas do aumento de preços. Além de amenizar as perdas do setor de extração e refino, a elevação dos preços de combustíveis, e subseqüente aumento de custos ao produtor, contribui para a contração da atividade econômica e combate o temor de superaquecimento. O aumento de preço age também contra o uso irresponsável e ineficiente de recursos energéticos, grave deficiência da economia chinesa. O reajuste contribui, ainda que inadvertidamente, para a agenda de “desenvolvimento científico” do presidente Hu Jintao, ratificada no 17º Congresso Nacional do Partido Comunista concluído em outubro semanas, antes do anúncio do reajuste.

Em segundo lugar, pode-se atribuir o reajuste, assim como eventuais compensações na forma de subsídios diretos e indiretos, ao acréscimo no poder de barganha das gigantes estatais do setor, principais opositores ao controle dos preços. Sinopec e Petrochina são também advogadas de reformas que permitam flutuação interna de preços conforme mercado internacional de petróleo e evitem novos desequilíbrios prejudiciais ao setor e à economia chinesa.

Por fim, parece seguro afirmar que os possíveis efeitos de racionamento continuado sobre a economia chinesa – e sobre a base de apoio do governo – pesaram sobremaneira no cálculo do governo chinês. Assim, a estabilização do fornecimento energético tomou prioridade sobre a estabilização de preços na contenção da insatisfação popular.| Por: CEBC

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