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27/06/2014 - 06:08

Tecnologia pode melhorar o transporte público

As sucessivas greves no transporte público de São Paulo são um tormento para a população. Recentemente, houve uma paralisação repentina dos ônibus e, apenas alguns dias depois, do metrô. É por isso que o debate sobre mobilidade urbana assume tamanha importância para as grandes cidades brasileiras.

O sofrimento imposto à população de baixa renda exige reflexão das autoridades. Sem esquecer as manifestações de rua que, desde junho do ano passado, reclamam meios de transportes mais baratos e eficientes, além de melhoria para os outros serviços públicos como saúde, educação, segurança.

Algumas autoridades ouviram o clamor dos protestos e estão tentando melhorar o sistema de transporte. Em São Paulo a Prefeitura vem implantando faixas exclusivas de ônibus. Isto não sai de graça: à medida que reserva pistas para os ônibus, a circulação para os carros particulares é reduzida, provocando ainda mais congestionamentos. Mas a própria população já sinalizou como isto pode, no futuro, reverter para o bem de todos.

Um ônibus biarticulado, por exemplo, tem capacidade para até 190 passageiros com algum conforto, segundo a SPTrans. Mas a lotação atual vai muito além. Os passageiros empurram, se espremem, e aí sobram cotoveladas, pisadas no pé etc. A educação perde feio para a superlotação. Salve-se quem puder entre tanto sofrimento.

É a triste realidade de quem depende desta condução pelo Brasil, um vale-tudo irracional e desumano. A transformação dos meios de transporte públicos em máquinas de tormento é uma realidade também nos trens e no metrô. Não à toa, as últimas pesquisas mostram uma sensível queda dos índices de satisfação da população em relação ao metrô.

A mobilidade urbana no Brasil segue célere para a imobilidade total e o refrão eleitoral - “governar é cuidar das pessoas” – não passa de refrão. Mas as coisas podem mudar se alguns homens públicos tiverem a sensibilidade neste momento para investir em mais qualidade no transporte.

Não dá para prolongar este sofrimento. Soluções existem e basta apenas vontade política para aplicar o dinheiro público com inteligência. As telecomunicações vão assumir um papel importante no cenário da mobilidade.

Em São Paulo, são quase dez milhões de pessoas transportadas diariamente por cerca de 15 mil ônibus, distribuídos em 4.411 km de linhas. No entanto, é possível atenuar a massificação dos passageiros e aumentar a velocidade média, utilizando as ferramentas da tecnologia.

Um sistema integrado de telecomunicações foi desenvolvido em benefício da mobilidade dos ônibus e funciona bem em grandes cidades pelo mundo; logo, pode funcionar aqui também, pois possuímos tecnologia para desatar o nó do sistema com aparelhos de última geração. Alguns deles já estão sendo testados na Capital, como a voz que anuncia a próxima parada, como no metrô. Enfim, precisamos evoluir para um Brasil digital, inovador e competitivo.

Um ônibus com alta tecnologia pode ter câmeras de segurança, contador de passageiros, internet wi-fi, alto-falantes, monitores e telemetria. Ou seja, todas as informações de um veículo são captadas e enviadas a uma Central de Operações, que passa a coordenar melhor o transporte pela cidade em qualquer horário. Redes, serviços e plataformas de telecomunicações estão disponíveis para isso.

O contador de passageiros vai informar quantos subiram ou desceram de um veículo; alto-falantes darão informações relevantes aos usuários; catraca eletrônica permitirá a recarga dos cartões de transporte e, ligado a um GPS, poderá evitar fraudes; telemetria fornecerá indicadores de funcionamento do motor, gasto de combustível e mudanças bruscas de velocidade; câmera OCR, como um radar móvel, serão capazes de detectar invasões e outras ocorrências em faixas e corredores.

Ao receber essas informações, a Central de Operações sinaliza quando o ônibus já está com uma lotação adequada de pessoas, emitindo uma ordem ao motorista para não parar mais. Como os pontos de parada também são monitorados, a Central saberá quais linhas são mais demandadas e dessa forma poderá deslocar para lá veículos de outras linhas menos carregadas.

Os passageiros no ponto também receberão a informação de qual veículo deverão pegar e em que horário, de forma a obter o máximo de conforto e pontualidade nos serviços. Todas essas informações também poderão ser acessadas pelo celular, na residência ou no trabalho, evitando longo tempo de espera nos pontos de ônibus.

Os benefícios são inúmeros: primeiro, por distribuir conforto e ordenar melhor o fluxo pelos corredores e faixas, atenuando a sensação de caos vivida hoje pela população. Até a segurança pública pode se servir, pois os radares instalados nos ônibus detectam todos os tipos de ocorrência, como assaltos, facilitando uma ação mais rápida da polícia. Para as empresas de ônibus, um ganho facilitado, pois a telemetria permite verificar o desempenho de sua frota, o que leva a uma gestão mais eficaz.

Uma pesquisa do Ibope de setembro do ano passado mostrou um resultado que deve servir reflexão para todas as autoridades responsáveis por mobilidade urbana no País: 79% dos paulistanos estão dispostos a trocar o automóvel pelo transporte público, caso haja uma boa alternativa. Quase um quarto dos entrevistados respondeu: se o tempo de espera dos ônibus diminuísse, usaria esse meio de transporte para os principais deslocamentos, como de casa para o trabalho.

Em média, os moradores de cidades como Rio ou São Paulo chegam a gastar 2 horas e 15 minutos de deslocamento por dia; são quase 11 horas por semana, considerando apenas os dias úteis. Uma média de dois dias por mês perdidos em meios de transporte.

Ou seja, aumentar a qualidade do transporte significa tirar veículos particulares de circulação, reduzir os congestionamentos e aumentar o índice de felicidade dos cidadãos. Sim, esta é a saída indicada pela própria população.

Um sonho? Sabemos que não. Ao cabo de tudo, é tornar as cidades mais humanas, trabalhar pelo bem-estar de todos. Tirar aquele refrão do palanque e botar para funcionar: “Governar é cuidar das pessoas”.

. Por: Vivien Mello Suruagy, engenheira, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Prestadoras de Serviços em Telecomunicações (Sinstal).

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