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22/07/2014 - 08:18

Futebol levado a sério

A arte de Pelé. Os dribles de Garrincha. Os gols de Ronaldo. A magia de Neymar. O futebol foi, é e sempre será alegria. Entretanto, essa alegria do futebol brasileiro não precisa estar atrelada a falta de estrutura e organização, características que infelizmente sempre o acompanharam. Orgulhosamente, dizemos que nossa seleção é a melhor do mundo e que nossos clubes são tão bons quanto os melhores da Europa, ainda que do ponto de vista das receitas essa diferença seja abissal.

Se alguns obstáculos já começam a ser vencidos, como melhores estádios e a consequente volta das famílias às partidas de futebol, mais receitas para os clubes e segurança ainda são questões que precisam ser encaradas com mais razão do que emoção.

Ao falar sobre estas questões, somos em muitos momentos induzidos por falsas premissas criadas ao longo das últimas décadas. Um exemplo é a proibição de venda de bebida alcoólica nos estádios. Muitas vezes se diz que a liberação aumentaria a violência entre os torcedores e que as arquibancadas seriam palco de batalhas campais. Contudo, a ausência de estudos que comprovam essa relação faz com que esse debate fique no vazio.

Por esse motivo, a análise de um caso de sucesso do futebol mundial se torna mais do que necessária. A Inglaterra sofreu muitos anos com os ‘hooligans’ e a solução, que fez da liga daquele país uma das mais ricas do planeta, não foi proibir a venda de bebida alcoólica nos estádios, mas sim acabar com a impunidade e aprimorar o controle de acesso.

Cidadãos de bem, acompanhados de amigos e familiares, que gostam de confraternizar o mágico momento de torcer pelos seus ídolos do seu clube, apreciando uma bebida de baixo teor alcoólico, não foram privados de sua diversão. As autoridades, em conjunto com os gestores das arenas passaram a monitorar os estádios com câmeras e tecnologias, o que lhes permitiu punir os infratores. Hoje, no Brasil, felizmente já temos modernas arenas com infraestrutura para fazer esse monitoramento. Falta, no entanto, estabelecer punições mais duras.

Feita essa lição de casa, como acontece no mundo inteiro, esse advento significaria um incremento de público nas partidas que hoje muitas vezes prefere torcer em bares e restaurantes longe do clima e da fantástica atmosfera que um estádio lotado proporciona. Os clubes serão beneficiados com um maior público presente e os torcedores com o direito de apreciar o que gostam como acontece no futebol e em outras modalidades de esporte em outros países.

É preciso observar o entorno dos estádios para constatar a comercialização não apenas de cerveja, mas de bebidas destiladas com alto teor alcoólico e de produtos dos clubes, como camisetas e bandeiras etc. A consequência disso é que a grande maioria de torcedores espera até o último minuto para entrar no estádio, já que lá dentro a venda é proibida.

O retorno do direito de comercialização de bebidas dentro dos estádios vai permitir aos torcedores entrar mais cedo, o que facilitaria a organização dos jogos e a redução das despesas operacionais que diretamente afetam os clubes, diminuindo a preocupação para os órgãos de segurança pública e gestores de arenas. Aqueles tradicionais tumultos nas catracas faltando poucos minutos para o apito inicial, que afastam um grande número de pessoas dos estádios, passariam a ser cenas do passado, dando ao país a possibilidade de ser referência também fora das quatro linhas.

Um bom exemplo são os shows musicais e a Copa das Confederações, cuja venda foi permitida e nem por isso houve registros de violência.

A violência nos estádios, portanto, não está na bebida e sim em "maus torcedores" infiltrados nas torcidas organizadas que muitas vezes tornam os clubes reféns, inclusive com perda de mando de campo e jogos com portões fechados, prejudicando ainda mais a receita dos clubes. Sem mencionar os abomináveis casos de torcedores feridos e mortes, como ocorreu recentemente em Pernambuco.

Aos poucos, o Brasil acerta o ‘passe’ neste jogo. O Estado da Bahia foi precursor na liberação das bebidas alcoólicas nos estádios e a paz dentro da arena não foi alterada e, mais do que isso, está gerando mais público para os clubes. Um bom teste na prática e que pode embasar essa discussão em nível nacional, sem pré-conceitos e falsas premissas.

. Por: José Rocha, deputado federal, médico, vice-líder do PR, ex-presidente do Esporte Clube Vitória e relator da nova Lei Pelé (6.260/13).

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