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27/12/2007 - 09:07

A ignorância acelerada

Ela ainda se comove com a lembrança dos sonhos do irmão famoso. Ayrton Senna, anonimamente, enquanto vivo, fez o bem a milhares de crianças desassistidas. Depois de tragicamente roubado do nosso convívio, os seus ideais foram retomados por Viviane, psicóloga de profissão, que criou o Instituto Ayrton Senna. Já prestou assistência a quase 5 milhões de brasileiros, em vários Estados, onde a carência maior tem se manifestado.

Esses fatos foram acentuados quando a Academia Brasileira de Educação, por unanimidade, concedeu a Viviane Senna o merecido título de “educadora do ano de 2007”. Foi uma cerimônia bonita, conduzida pelo professor Carlos Alberto Serpa de Oliveira. Ao agradecer, num discurso emocionado, a homenageada referiu-se ao vulto do desafio que representa dar educação aos jovens carentes do Brasil inteiro.

Veio à tona a pesquisa realizada pelo IAS, em que se revela que 12% dos alunos de 1a a 4a série do ensino fundamental, em geral, não sabem ler nem escrever. Com base em testes aplicados em 53.082 crianças de 527 municípios, concluiu-se que a chamada universalização praticamente ocorreu (só 3% estão fora da escola), mas os alunos estacionam nas primeiras séries do ensino fundamental, onde, por outro lado, ocorre uma lamentável e expressiva distorção idade/série, sobretudo no Norte e Nordeste. A escola não está preparada para superar os desafios do analfabetismo. Os maus resultados em testes internacionais representam apenas a pontinha visível desse imenso iceberg.

O quadro é grave e uma das causas pode estar na precária formação dos professores, como temos reiteradamente afirmado. Os alunos não evoluem, nas escolas, com imensas dificuldades para ler frases simples e aprender outras disciplinas. A presença na escola resume-se a atividades paralelas e o serviço de merenda (quando há). Mesmo os livros didáticos, distribuídos gratuitamente, não fazem o milagre do conhecimento. Se as próprias professorandas, como está demonstrado, não apreendem o conteúdo das disciplinas essenciais, não há o que transmitir aos alunos, vítimas da perversidade do sistema.

A pesquisa do Instituto Ayrton Senna, revelada por Viviane, mostra distorções em vários Estados. “No Ceará, por exemplo, foram criadas classes de alfabetização para alunos que se encontram na 3a, 4a e 5a séries.” Uma espécie de tentativa de nivelamento. Não há como disfarçar o grande mal ao ego dos estudantes pobres, muitos dos quais se sentem “inferiores”.

A realidade não é diferente, por exemplo, no Estado de Pernambuco. À desvalorização do magistério, pode-se acrescentar um fenômeno nacional de tristes conseqüências: a falta de acompanhamento por parte da família. É claro que a explicação pode ser encontrada na ignorância coletiva, fruto de muitos anos de desídia. A clientela é carente e os pais em geral são analfabetos. Junte-se a isso a precária formação dos professores e aí teremos todos os elementos de uma equação que não fecha, prenunciando o sacrifício de uma geração. Não é raro encontrar nas salas de aula alunos de 11, 12 e 13 anos que ainda não sabem ler e escrever de forma sequer razoável. O que dizer da capacidade de raciocinar de forma independente?

Ficaríamos felizes se o exemplo do Instituto Ayrton Senna motivasse empresários brasileiros a participar mais ativamente desse processo estratégico.

. Por: Arnaldo Niskier, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e presidente do CIEE/RJ | Contato: [email protected]

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