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09/08/2014 - 09:02

Guerra na TV

Certa vez, em uma aula do meu Mestrado na UFPR, o finado professor Clóvis Machado-da-Silva me perguntou como eu via o confronto no Oriente Médio. -“Pela televisão”, respondi. Após a aula, ao invés de levar bronca pela piada, o professor me disse que entendeu meu comentário como uma crítica sobre a dificuldade em analisar esses fenômenos superficialmente. “Exatamente”, disse eu com um alívio.

Rios de tinta já foram gastos tentando entender conflitos famosos como a Guerra do Peloponeso, a Guerra dos Cem anos, e assim por diante. Gerações de pesquisadores recolhem documentos, visitam locais e quando podem, realizam entrevistas com os participantes desses eventos. Não é algo fácil de entender.

Com a tecnologia, assistimos a conflitos em outro continente com o conforto de quem vê uma novela. Televisão ao vivo, telefones celulares e as redes sociais conseguiram tornar a guerra um evento de espectadores parecido com o futebol. Imagens em alta resolução compartilhadas mundo afora nos ajudam a montar uma narrativa. Tal qual uma novela ou um jogo de futebol, mantém-se placares com mortos e feridos de cada lado. Usam-se palavras como genocídio, inventam-se teorias de conspiração com a tranquilidade de quem discute os motivos do vilão da última história a passar na telinha.

Longe de mim querer explicar em poucas linhas a dinâmica de um conflito que ainda será estudado por gerações. Quero lembrar ao leitor, no entanto, o perigo que é montar explicações a partir de algumas impressões. Antes de comparar mortos de um lado a outro como se fosse um placar de futebol, lembre-se que cada morto (até terrorista) é um ser humano. Antes de falar em civis e militares, lembre-se de que, em um país com serviço obrigatório a todos, cada militar é pai, filho, irmão de alguém. Lembre-se, antes de sentir raiva ao ver uma imagem na Internet, que aquela imagem está ali exatamente para causar essa sensação. Cuidado com as histórias simplórias, que querem transformar o conflito em estereótipos a que estamos acostumados como rico contra pobre, vilão contra mocinho e assim por diante. Nada de bom sai de discursos inflamados, preconceitos e sentimentos exaltados. Antes de tudo, lembre-se: Do outro lado da tela, longe daqui, milhões de pessoas estão com medo, correndo para abrigos, se preocupando com seus conhecidos, se ferindo e morrendo.

. Por: Fábio Zugman, paulistano e tem 34 anos, Mestre em Administração pela UFPR. Autor de 6 livros [Empreendedores esquecidos (Elsevier, 2011); Administração para profissionais liberais (Elsevier, 2005); Governo eletrônico: saiba tudo sobre essa revolução (Livro pronto, 2006); O mito da criatividade (Elsevier, 2008); e coautor de Dicionário de termos de estratégia empresarial (Atlas, 2009) e Criatividade sem segredos (Atlas, 2010)].

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