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Globalização sadia

Passada a euforia inicial diante das possibilidades da globalização, na década de 90, descobrimos também o seu lado cruel: aumento da desigualdade social entre os povos, trocas comerciais injustas para os países mais pobres e competição profissional cada vez mais acirrada. Com este panorama, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou, neste mês de dezembro, o relatório Globalização justa: criando oportunidades para todos. O documento atesta que o debate público sobre a globalização está em um impasse e poucos estão usufruindo de seus benefícios, à custa de muitos.

O francês François Chesnais, economista da Universidade de Paris XIII, já havia apontado algo importante: em vez da globalização que esperávamos, o que houve foi a mundialização de capitais, que transitam mais livremente do que as pessoas pelas barreiras geográficas.

O relatório da OIT já adianta que não há soluções simples para reverter o quadro, mas que é possível lutar por um processo mais inclusivo e sustentável de desenvolvimento global. A luta passa, invariavelmente, pelo envolvimento de todos os atores econômicos e sociais na elaboração de regras mais justas para as trocas comerciais. O relatório lembra, ainda, que é preciso colocar em foco as demandas populares por igualdade, respeito aos direitos humanos e trabalhistas, à autonomia dos povos e à sua identidade cultural.

Esse processo passa, também, pela eliminação de barreiras e subsídios, além da incorporação da África. No Brasil, o principal desafio é formalizar a economia, para diminuir sua vulnerabilidade, e reduzir a carga tributária, tão prejudicial à nossa competitividade. Além, é óbvio, de melhorar a distribuição de renda. É válido, ainda, pensar na aplicação do chamado “Imposto Tobin”, criado pelo economista James Tobin, que prevê a cobrança de tarifas em cima de operações financeiras, para limitar a especulação gananciosa.

O mais importante, no entanto, é aumentar o poder das organizações supranacionais (como a própria OIT e a ONU) e dos cidadãos, em relação ao gigantesco poder assumido pelo capital. Talvez a medida ajude a controlar, entre outras coisas, os abusos cometidos na China, país que dá exemplo de competição comercial desleal a partir de desrespeito aos direitos trabalhistas.

Isso passa pela difícil decisão dos países em aceitar limitar sua soberania e seus interesses comerciais em benefício de instituições e cortes internacionais. Mas essa decisão pode ser forçada pela pressão popular, dos trabalhadores – os principais beneficiários de uma globalização justa. Eles, inclusive, já tomam partido nas comissões da OIT, ao lado de empregadores e representantes de governos, em mesas de negociação que podem servir de modelo para um processo sadio de tomada de decisões que gostaríamos de ver num futuro próximo. Em um novo contexto, podemos repetir a famosa frase de Karl Marx no Manifesto Comunista: “Trabalhadores do mundo, uni-vos”.

.Mestre em Economia pela UFMG e coordenador do curso de Comércio Exterior do Centro Universitário FIEO (Unifieo), em Osasco (SP)

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