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26/08/2014 - 10:23

Navegando em tempos de instabilidade econômica

As manchetes dadas pela imprensa brasileira nos últimos meses retratam um cenário de crescimento quase nulo do PIB, além da escalada da inflação. As notícias afetam diretamente todos os setores da economia, desde os de bens de capital, passando pelo varejo até chegar ao setor de serviços.

O quadro econômico atual se agrava ao se observar que a maioria das instituições financeiras, principais provedores de capital para as empresas de pequeno e médio portes, têm restringido a liberação de crédito. Essa dificuldade abriu uma lacuna perigosa para tais empresas, as deixando órfãs de crédito financeiro. Hoje, a única fonte de financiamento a elas possíveis são os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), que normalmente cobram taxas de juros mais elevadas, com os quais dificilmente a empresa consegue manter um relacionamento de longo prazo.

O desafio diante desse ambiente macroeconômico é saber como as empresas devem se comportar para serem bem sucedidas e sobreviverem ao final do período de turbulência. Algumas ações são de extrema importância, senão cruciais no intuito de dar continuidade ao negócio.

Em primeiro lugar, a administração deve concentrar seus esforços em manter ou aumentar suas áreas de geração de receita. Quando ocorre uma crise econômica, independentemente do segmento, vendedores começam a acreditar que "ninguém está comprando nada". É um pensamento errado. Há, de fato, a redução de consumo, ou seja, menos pessoas assumem compromissos. Cabe à gerência da companhia, portanto, motivar a força de vendas para trabalhar em níveis mais altos de atividade para alcançar resultados.

Durante períodos de instabilidade econômica, muitos concorrentes mais fracos caem nessa inércia da falta de consumidor. Para a empresa que aproveita a ocasião e amplia seus esforços junto à equipe de vendas, a dificuldade se transforma em oportunidade.

A implementação de uma previsão de fluxo de caixa de, pelo menos, seis meses, também é fundamental. A maior parte das empresas fica em uma situação bastante delicada por conta do esvaziamento do caixa. Possuir uma previsão de fluxo de caixa futuro é vital para auxiliar o empresário na tomada de decisões corretas acerca dos custos e despesas do presente.

Em pequenas e médias empresas, ainda mais nas de gestão familiar, é comum não existir os controles financeiros fundamentais, ou até mesmo básicos, para gerir adequadamente o negócio, principalmente durante uma recessão. O ideal é que a empresa compare o seu resultado atual ao orçado, tanto mensal quanto anual, permitindo assim ajustes intermediários, caso necessário.

Outro ponto crítico em períodos de instabilidade econômica é a gestão de custos. A empresa deve fazer uma revisão completa de todos os gastos, além de criar e implementar uma estratégia de cortes significativos, sem afetar nem alterar a qualidade do produto final entregue ao cliente.

Na mesma linha, a redução de despesas também pode ser uma opção, através de mecanismos como venda de ativos (desmobilização), mudança de planta (em casos onde há ociosidade), enxugamento do quadro de funcionários (downsizing), venda de unidades ou linha de produto (desinvestimento). No Brasil, a maioria das empresas têm um verdadeiro arsenal de ativos imobiliários. Embora haja menos liquidez nesse mercado, particularmente nos últimos meses, existe ainda a possibilidade de vender tais ativos através de operações estruturadas, como venda com posterior locação (sale leaseback).

Invariavelmente, será necessário implementar diversas ações adicionais no intuito de estabilizar financeiramente a empresa. Cabe salientar que, durante tempos de crise, algumas empresas se tornam reféns de profissionais que as induzem a entrar precocemente com o pedido de Recuperação Judicial. No entanto, tal recurso deve ser utilizado apenas em última estância.

Companhias que consideram requerer a Recuperação Judicial, normalmente já operam com endividamento excessivo, bem como são incapazes de cobrir os custos tanto operacionais quanto aqueles referentes ao serviço da dívida. Somente nesse momento é que um plano de reestruturação do negócio deve ser utilizado.

Tal plano deve ser bastante abrangente, inclusive descrevendo todas as etapas necessárias para trazer estabilidade à empresa nos âmbitos da operação e da estrutura de capital. De imediato, também deve incluir a revisão histórica das finanças da empresa, bem como uma projeção de suas demonstrações financeiras – tais como fluxo de caixa, balanço e demonstrativo de resultados (DRE) – durante todo o período de vigência do plano de reestruturação do negócio.

De posse de tais projeções, caso positivas, credores concluirão não apenas que o fluxo de caixa atual é suficiente para manter as operações da empresa, como também que as previsões para o futuro da companhia são bastante animadoras. Dessa forma, empresa e credor devem determinar, juntos, o fluxo de pagamentos mais adequado para ambas as partes.

A contratação de um consultor especializado em reestruturação também deve ser levada em consideração. Esse profissional pode ajudar na elaboração das projeções financeiras, intermediar a comunicação com os credores e assessorar a empresa na formulação, negociação e implementação do plano. Dessa forma, o empresário ou gestor pode focar seu trabalho especialmente na manutenção e aprimoramento das operações, deixando a cargo do consultor a tarefa de aperfeiçoar os resultados da empresa.

A presença da consultoria também dá maior credibilidade à reestruturação, amenizando possíveis percepções negativas, de modo a facilitar a negociação com os credores. Deve, na mesma linha, auxiliar na obtenção de novas linhas de crédito, uma vez que possui relacionamento e acesso direto às mais diversas instituições financeiras.

Manter o foco na saúde tanto financeira quanto operacional do negócio é imperativo, sobretudo em tempos de incertezas macroeconômicas. Existem diversas ações que tomadas de forma preventiva e proativa podem fazer a diferença entre colapso e triunfo do empreendimento.

. Por: Benjamin Yung, especialista no segmento de reestruturação financeira e fundador da consultoria Estratégias Empresariais – [email protected]

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