Biblioteca Parque Estadual realiza exposição inédita de Waly Salomão

Mostra apresenta a importância da leitura na formação de um artista, a partir de grifos e anotações do poeta nos livros de sua biblioteca particular.

“Meu aconchego é o perto, o conhecido e reconhecido, o que é despido de espanto”. A frase do poema “Anti-viagem”, que ilustra um dos ambientes da Biblioteca Parque Estadual – um espaço da Secretaria de Estado de Cultura –, foi escrita por Waly Salomão (1943-2003), homenageado agora também na exposição inédita que a BPE inaugura no dia 14 de outubro. Waly deixou como herança um acervo particular de oito mil títulos, muitos deles repletos de intervenções realizadas durante a leitura. São frases e composições gráficas que comentam textos de outros autores e compõem parte essencial da arte de Waly Salomão. Com curadoria de Anna Dantes e Omar Salomão, “A Biblioteca de Grifos de Waly Salomão”, que fica em cartaz até 14 de dezembro de 2014, apresenta ao público a importância que a referência literária tem na formação de um artista. “A exposição traz um conjunto de autores e obras que influenciaram o artista Waly Salomão, mostrando a importância da leitura na formação do indivíduo. Para isso, apresentamos uma biblioteca dentro de outra”, explica Marta Porto, diretora de conteúdo das Bibliotecas Parque.

A mostra conta com uma seleção desses títulos e cartazes com reproduções dos textos grifados. São anotações feitas com canetas coloridas, poemas inéditos e desenhos que conectam ideias e pensamentos, mostrando um pouco da intimidade intelectual do autor e seu olhar estético único. O visitante será, assim, capaz de se colocar no lugar de Waly Salomão e acompanhar todos os processos e catarses que marcaram seus momentos de leitura. Trata-se de uma materialização de seu ideário eclético e transgressor.

“A Biblioteca de Grifos de Waly Salomão” revela um artista que transita entre música, artes plásticas, poesia e performance. Assim como na vida, onde sempre buscou aproximar lugares e pessoas – “da corte ao cortiço” –, em suas leituras Waly unia autores, ideias e palavras. “Uma das características marcantes do meu pai era estar sempre com um livro debaixo do braço. Os livros o acompanhavam como cadernos de anotações”, lembra Omar.

Completam a mostra vídeos, depoimentos do autor sobre as mais diversas formas de criação artística e uma instalação interativa, que permitirá que o público deixe sua própria intervenção nos textos escritos por Waly. A exposição vai ocupar todo o espaço da biblioteca, criando um percurso que permite ao visitante desvendar a relação que o homenageado mantinha com a literatura e sua resposta enquanto leitor. Os livros com suas anotações, em caixas de acrílico, estarão misturados ao acervo da instituição.

Além disso, o artista e escritor Leonardo Villa-Forte vai criar uma comunicação entre sua voz e a de Waly Salomão por meio de seu projeto “Paginário”. Serão dois painéis – na rua da Alfândega e na estação de metrô da Central – que vão funcionar como mais um convite ao público.

O projeto apresenta ainda jogos de leituras com mediação da filósofa Rosa Dias. Serão encontros semanais com artistas e intelectuais para discutir, a partir de diferentes pontos de vistas, o uso do livro e da leitura como subsídio para a criação. Na abertura, Adriana Calcanhotto e Lira, dois artistas da música, vão embaralhar as fronteiras entre as palavras escrita e cantada. A série de encontros semanais conta também com as participações de Virgínia Cavendish, Luis Zerbini, Marcelo Yuka, Miguel Jost, Cabelo, Julio Diniz, entre outros. Para Rosa, “cada exemplar de um livro marcado por Waly é tão singular, que nos parece ter nas mãos um livro dentro de outro livro”.

A exposição conta com o patrocínio do MetrôRio e o apoio do Instituto Invepar.

“A Biblioteca de Grifos de Waly Salomão”, de 14 de outubro a 14 de dezembro, de terça a domingo, das 10h às 20h, Avenida Presidente Vargas, 1.261, Centro. Telefone: (21) 2332-8647. Entrada Franca.