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15/10/2014 - 10:26

Fertilizantes no Brasil, Aspectos Econômicos e Ambientais

Conferência internacional no Rio de Janeiro debaterá o insumo em outubro.

O Brasil possui forte dependência na importação de fertilizantes, somos o quarto maior consumidor, com uma utilização recorde prevista de 32 milhões de toneladas em 2014 (um milhão a mais do que no ano anterior, com um custo de aproximadamente R$ 1.500,00 por tonelada). Uma potência agrícola como nosso país não deveria ter uma vulnerabilidade tão grande no tema pois esse insumo é um dos principais fatores da produção agrícola, que responde por 25% do PIB.

Pensando nesse cenário, a Embrapa criou em 2009 a Rede FertBrasil, destinada à pesquisa em fertilizantes na empresa. A Rede se organizou em três grandes temas: recomendação do uso de nutrientes, identificação de novas fontes de nutrientes e tecnologias para melhor aproveitamento dos fertilizantes.

Nesses cinco anos já foram desenvolvidas novas tecnologias em fertilizantes, utilizando resíduos agropecuários, disponibilizadas para o mercado; houve maior envolvimento com o setor privado, facilitando a transferência de tecnologias e; foram desenvolvidos produtos e dado suporte técnico para a formulação de políticas públicas para o setor de fertilizantes.

Para Luís Prochnow, diretor do Programa do Instituto Internacional de Nutrição de Plantas (IPNI) no Brasil, três tópicos precisam ser enfrentados a fim de diminuir a dependência nacional: "aumento da eficiência na utilização dos nutrientes contidos nos fertilizantes; estudo de sistemas de produção que levem a maior eficiência de uso de nutrientes contidos nos fertilizantes e; pesquisa básica sobre novas fontes de nutrientes." Os três temas fazem parte das ações da Rede FertBrasil

Meio Ambiente -Vale lembrar que a visão do assunto no Brasil e na Europa é muito diferente. "Os europeus têm uma visão diferente da nossa", conta Vinicius Benites, pesquisador da Embrapa Solos e coordenador da Rede FertBrasil. "Alguns fertilizantes, como os fosfatos, extremamente importantes para nossa agricultura, são tratados muitas vezes como contaminantes pela Comunidade Europeia", completa Benites. A velha frase "em se plantando tudo dá", não é verdade no nosso país. "Nossos solos necessitam de fertilizantes em doses adequadas porque a fertilidade natural da maioria dos nossos solos é baixa ou muito baixa".

Por outro lado, é vital a orientação profissional na hora da aplicação para fazê-la baseada nas boas práticas de utilização de fertilizantes (BPUFs). Culturas como batata, tomate e hortaliças em geral, onde são utilizadas grandes quantidades de fertilizantes, podem contaminar as fontes próximas de água com nitrogênio e outros nutrientes caso haja aplicação excessiva do insumo. Essa contaminação aconteceu, por exemplo, em alguns aquíferos em Israel.

Neste cenário, também no Brasil constata-se a existência de talhões de cultivo que poderiam ter seu manejo otimizado, com economia ou melhor direcionamento dos gastos com fertilizantes. "Entretanto, o manejo racional da adubação requer maior nível de informação e monitoramento de nutrientes quanto às entradas (adubações) e saídas (exportação na colheita e perdas) a cada safra, o que ainda não é efetivamente considerado por grande parte dos técnicos e produtores", conta o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) Álvaro Resende. Esse é um ponto que precisa ser melhor trabalhado numa conjuntura de constante elevação dos custos de produção das fazendas.

"O fornecimento de nutrientes via adubação foi e continuará sendo imprescindível à manutenção ou aumento dos níveis de produtividade atualmente obtidos pelos agricultores brasileiros. Em fato, no Brasil é impossível fazer agricultura sem fertilizante, seu uso garante a sustentabilidade da nossa produção" continua Álvaro Resende. "A existência de baixas reservas de nutrientes disponíveis às plantas é uma característica dos solos da maioria das áreas de produção agrícola", completa.

Um exemplo foi o ciclo do café, que durou até 1930, portanto antes da invenção dos fertilizantes. Durante 15, 20 anos a terra respondeu bem, graças ao estoque de resíduos da floresta que antes havia nessas áreas e fornecia nutrientes para o café. Ao longo do tempo esses resíduos se exauriram e a produção caiu vertiginosamente. "Por outro lado, o aumento da produtividade dos cereais e fibras está estreitamente relacionado com o uso de fertilizantes da forma mais eficiente", diz o pesquisador da Embrapa Solos José Carlos Polidoro.

Esse fato ameniza a pressão ambiental, que exige uma produção agrícola sem desmatamento de novas áreas, aliada à exigência de mais alimentos para uma população em crescimento. O uso de nutrientes modernos foi fundamental para que a produção agrícola no Brasil crescesse sem a necessidade de derrubar mais florestas. "Nas últimas quatro décadas o Brasil aumentou a produtividade agrícola em quatro vezes enquanto a área plantada aumentou apenas 0.5%, argumenta Polidoro

Cenário Econômico -Os custos com fertilizantes chegam a representar 50% da despesa em alguns sistemas (de 20% a 35% na soja e milho).

"Nosso cenário de dependência externa não mudou nos últimos dez anos e não creio que vá mudar nos próximos dez", diz Benites. A tendência é que o custo dos nutrientes seja cada vez maior. Aliado a isso o Brasil enfrenta problemas de logística e excessiva taxação tributária sobre o produto nacional. A Rede FertBrasil ajuda o País ao aumentar a oferta de fertilizantes mais adaptados à condição brasileira. Isso otimiza o seu aproveitamento e minimiza consequência ambientais negativas.

Outra ameaça é o fim do acesso fácil ao fósforo. As fontes de maior concentração e consequentemente de menor custo de exploração desse elemento estão acabando. "O problema só deve chamar atenção da sociedade quando começar a impactar o preço final do insumo", diz Vinicius Benites.

O consultor da Tec-Fértil José Francisco da Cunha lembra de dois elementos que também fazem parte dessa equação: o potássio e o fosfato. "Não temos grandes reservas de fosfato por exemplo e o consumo das existentes nos obrigará a comprar mais no futuro, o que pode ser mais difícil e caro que atualmente", diz Francisco. "Com relação ao potássio relatam-se grandes jazidas na Amazonia mas os custos de sua exploração exigem muito capital e a proteção do meio ambiente, então podem ser bem vistas para este nutriente o aproveitamento de fontes ou processos alternativos de produção de fertilizantes potássicos se isto comprovar ser econômico e tecnicamente viável."

Onde a tecnologia pode ajudar é no aumento da eficiência do uso dos fertilizantes. Só 30% do fósforo aplicado, por exemplo, é absorvido pela planta. Assim como apenas 50% do nitrogênio. A Rede FertBrasil enfrentou esse problema ao oferecer fertilizantes "inteligentes", programados para liberar nutrientes de acordo com a necessidade da planta. Isso otimiza o seu aproveitamento e minimiza consequência ambientais negativas.

Cunha levanta outro importante aspecto econômico, "A questão mais preocupante é a situação de vulnerabilidade que se expõe diante de alguma dificuldade internacional que não garanta o suprimento contínuo das importações, não temos nenhuma política para reduzir este risco, como garantir o fornecimento por contratos como fazem a China e Índia por exemplo."

O que pode ajudar o Brasil é o fato de sermos importante fornecedor mundial de produtos agrícolas, a quebra de fornecimento afetará também a disponibilidade de produtos agrícolas para os próprios países fornecedores de fertilizantes como Rússia, China e Coréia. Portanto, também é de interesse internacional manter este fluxo de forma regular e segura.

Não existe tecnologia para reduzir o custo dos nutrientes, assim como não é possível criar fertilizantes mais baratos, a luta do Brasil deve ser para que o desperdício desse insumo seja quase zero.

Congresso Mundial Debate Fertilizantes no Rio de Janeiro -O Rio de Janeiro vai sediar, entre 20 e 24 de outubro de 2014, o XVI Congresso Mundial de Fertilizantes, um dos principais fóruns mundiais sobre o assunto. O evento terá como tema principal a utilização de fertilizantes nos trópicos. Será a primeira vez que este Congresso acontece no Brasil.

O Congresso não vai discutir apenas o aspecto científico, mas servirá de palco para diversas empresas do setor demonstrarem seus avanços tecnológicos e compartilhar experiência com pesquisadores.

Mais de uma dezena de autoridades brasileiras e mundiais em fertilizantes estarão presentes, com destaque para Ismail Cakmak, da Universidade de Sabanci, Turquia (especialista em nutrição de plantas), o americano Mark Alley (fertilizantes em um manejo integrado planta-nutriente) e Andrew Sharpley (fertilizantes e meio ambiente), da Universidade de Arkansas,Estados Unidos.

Outros tópicos que serão debatidos incluem uso direto de agrominerais, fertilizantes de base orgânica e a adição de micronutrientes e macronutrientes secundários em fertilizantes NPK.

O XVI Congresso Mundial de Fertilizantes vai ser organizado pela Embrapa e Rede FertBrasil, em parceria com o Centro Científico Internacional de Fertilizantes (CIEC) e com a Universidade de São Paulo (Esalq/USP). [http://www.16wfc.com/pt] Carlos Dias.

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